segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Por Antonio Noberto, Turismólogo / Escritor.

Ouvi, a alguns anos atrás, um jovem universitário dizendo que tudo o que ele queria da sua instituição de ensino era colocar as mãos no diploma de conclusão do curso, e “nada mais”, porque a universidade, segundo ele, seria uma perda de tempo. Um dia encontrei-o trabalhando como motorista em uma empresa de transportes de São Luís e havia abandonado o curso. Este caso de descrença no estudo e na instituição acadêmica levou-me a refletir sobre os meus tempos – de criança e adolescente – de assíduo frequentador na igreja onde, não raro, era pronunciada a frase do profeta Isaias “os que confiam no Senhor renovam-se como as águias”. O tempo passou e compreendi o real significado do ensinamento proposto pelo texto bíblico: o ensinamento da necessidade de renovação, recomeço e determinação que nos foi legado por esta insigne ave de rapina.

Sendo a águia a ave mais longeva, chegan- do a viver perto de oitenta anos, quando atinge metade de sua vida é obrigada a tomar uma difícil decisão: aquietar-se e morrer – porque suas garras estão compridas e flexíveis demais e já não consegue apresar outros animais: o bico muito longo e as asas pesadas demais devido à grossura das penas praticamente impossibilitam a luta pela sobrevivência – ou encarar um difícil processo de renovação que chega a durar mais de quatro meses.

A águia retira-se para um local protegido: no alto de uma montanha, e ali bate o bico em uma pedra até conseguir arrancá-lo, quando nasce um novo bico, ela o utiliza para arrancar as unhas e depois as velhas penas. Só então é que deixa a montanha, pois agora se sente preparada para enfrentar a outra metade da vida.

Sempre que me lembro desse retiro que a águia passa, lembro-me também da condição daquele universitário que se evadiu, é como se aquele rapaz fosse uma águia que optou por morrer mais cedo, pois não queria passar pelo processo de renovação proposto pela universidade.Ele não morreu fisicamente como uma águia que não busca o retiro, mas, praticamente, sepultou o caminho mais viável para o sucesso: o estudo. E lançou fora as esperanças e perspectivas.

A universidade sempre será uma montanha acolhedora de todos os tipos de águias que acreditam e querem renovação. É o local seguro para passarmos o tempo necessário à aquisição da nossa nova plumagem (intelectual), do nosso bico (de onde sairão palavras de sabedoria que levarão conhecimento ao mundo) e das nossas garras (com as quais pegaremos as oportunidades em um mercado mais que concorrido). Desacreditar na universidade é aceitar a morte como opção mais viável e considerar-se uma águia vencida que já fez tudo o que tinha que fazer nesse mundo.

É prudente acreditar que por mais que a universidade tenha carências é de lá que, em grande parte sairão às boas indicações para um estudo ou pesquisa necessários à canalização dos problemas da sociedade. Ela não é – e nunca deverá ser – a única fonte de busca e pesquisa acadêmica, mas é seguramente o lócus do conhecimento, o porto seguro onde ancoramos em busca das diretrizes que nos orientarão para uma melhor formação pessoal e profissional. Qual é o outro local que reúne o tempo todo à logística do conhecimento e da informação – professores, intelectuais, bibliotecas, acervos, computadores, empresas juniores, dentre outros – e que sempre estão à nossa disposição, prontos para serem consultados?

O momento acadêmico é um período sin- gular da nossa vida e que deve ser avidamente abraçado, pois a opção de enfrentar a dureza do retiro na montanha (vestibulares, pagamentos de mensalidades, tarefas difíceis, monografias, etc) é tão somente a preparação necessária à continuação da árdua tarefa daqueles que não pensam em esmorecer e acreditam que neste mundo, a partir da renovação, ainda têm muito por fazer e realizar.

Texto Originalmente publicado na Edição 85 Maio de 2011 do Jornal Cazumbá
Foto Ilustrativa/Internet

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