quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Durante muito tempo, tempo demais, a Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão foi usada como nicho ideológico-eleitoral da família Sarney. A cultura popular foi direcionada, às custas de patrocínios gordos e suspeitos, para as mãos de cabos eleitorais e não dos verdadeiros cultores dos folguedos maranhenses. Assim, escolas de samba, blocos e grupos folclóricos cujos diretores, escolhidos a dedo, tinham compromisso de apoio político antecipado  com os donatários do poder, eram contempladas com maior volume de recursos. Fora, evidentemente, do legalmente estabelecido para cada grupo no carnaval ou no São João e sem que os brincantes soubessem.

Isso gerou muitos protestos, de muitas agremiações e grupos e não dá para esquecer. Roseana Sarney transformou a Secretaria da Cultura numa grande zona eleitoral na qual a distribuição maciça de dinheiro público servia tão somente aos propósitos eleitorais do grupo Sarney. O povo, os brincantes assim chamados, nem sequer sabiam dessa farra, não tinham conhecimento de que o suor deixado nas avenidas e palcos improvisados das ruas, para engrandecer a diversidade cultural maranhense, estava sendo usado como moeda de troca política. Um formidável arranjo financeiro que abarrotou os cofres de muita gente, patrocinou viagens internacionais e irrigou algumas contas secretas em paraísos fiscais.

“Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí”. A marchinha imortal quase podia ser ouvida nas paredes da Secretaria da Cultura quando os cabos eleitorais, da cidade e do interior, travestidos de produtores culturais, invadiam a Secretaria da Cultura nas caladas da noite.

A coisa era tão escandalosa que a Polícia Federal, investigando o filho de Sarney, Fernando, por formação de quadrilha, gestão irregular de instituição financeira, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, deu à operação o título de “Operação Boi Barrica”. Tempos áureos em que a Companhia Barrica inteira, levando intrusos a tiracolo, excursionava meses inteiros pela Europa enquanto a maioria dos produtores culturais se ressentia da falta de apoio governamental aos tambores de crioula, cacuriás, afoxés, bumba-bois etc.

E vieram o Carnaval Fora de Época, o São João Fora de Época e, não fosse o calendário cristão tão rígido, fariam também o Natal Fora de Época, o Ano Novo Fora de Época e até a Eleição Fora de Época. Mas o povo se irritou, cansou e entendeu que os Sarney estão fora de Época e elegeu Flávio Dino, candidato das oposições.

Usam agora os Sarney de seu monopólio dos meios de comunicação, fotografando e filmando espaços vazios, a bordo do mais antigo truque da desinformação, para tentar fazer crer que o carnaval maranhense fracassou. Mas as passarelas estão cheias, os maranhenses cantam e dançam em paz e em segurança no circuito da Deodoro, da Madre Deus, de diversos bairros e até o Bicho Terra, que cantava e desfilava mais na Europa que em sua própria terra, voltou a cantar e desfilar no Maranhão.

O carnaval do povo maranhense, dos tambores de crioula, dos blocos tradicionais, das bandas e das tradições específicas, está de volta. Só o que não se viu este ano foram cabos eleitorais substituindo produtores culturais e cantando na porta da Secretaria de Cultura: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí”.

Dinheiro do povo, naturalmente.

Fonte: Editorial JP, 17 de fevereiro

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