segunda-feira, 30 de novembro de 2015
O seu mandato de presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis - ABIH Nacional termina em dezembro. Que legado a sua gestão, embora curta, deixa ao presidente eleito Dilson Jatahi Fonseca?

NC: Diria que um legado de choque de transparência e de gestão. Na falta de um planejamento estratégico, ante a exiguidade temporal, elegemos fazer pouco, bem feito e com muita verdade. Daí elegemos atacar três grandes temas cruciais da hotelaria: Airbnb, Ecad e Condhotéis, sem perder de vista outros de menor gravidade. Cito como exemplos Abertura de Cassinos no Brasil, Incentivo ao Turismo Interno, Liberação de Vistos, entre outros. Tratamos estas questões com a maior objetividade e com a dose necessária de publicidade.

Cumprida a missão frente à ABIH Nacional, como o empresário – especialmente o hoteleiro – Nérleo Caus retoma as atividades concentradas no seu querido Espírito Santo?

NC: Após cinco anos junto a ABIH Nacional, ocupando os cargos de Diretor Jurídico, Diretor Administrativo, Diretor Vice Presidente e Presidente, a partir de 2016 pretendo me posicionar e ter como base o Espírito Santo. Quero incluir na minha agenda a participação em debates, palestras, encontros, entrevistas e demais instâncias do nosso setor. Estou convencido de que dei minha modesta contribuição à hotelaria nacional, mas sempre contra a ideia de se perpetuar em cargos. Nesse contexto, não posso negar que sou apaixonado pelo meu Estado de origem, do qual muito me orgulho.

Fale um pouco da sua trajetória e envolvimento com o turismo capixaba – notadamente o setor de hospedagem.

NC: Sempre tive muita propensão a receber e acolher a partir de atividade inicial no comércio e na gestão de postos de gasolina. Assim, o ingresso no ramo de hospedagem foi um pulo. Passei a buscar esse objetivo, apesar de toda malha de dificuldades encontrada no caminho. Criei e desenvolvi o Quality Suites Vila Velha (era minha residência na Praia da Costa), um empreendimento apart-hoteleiro com 180 UHS. Depois também criei e desenvolvi o Intercity Pier Hotel na Praia de Camburi, estes no ES. Hoje estou desenvolvendo novos hotéis em São Paulo e Santa Catarina, e sou partícipe de outra unidade hoteleira em Miami (Brickel), em fase de construção.

Além das praias e diferenciais receptivos do litoral, sabe-se que o Espírito Santo oferece opções no interior, com montanhas, rios, nichos culturais, gastronomia singular. Como poderia definir, em traços gerais, o Espírito Santo como destino turístico?

NC: O melhor destino nacional é o Espirito Santo! Estamos no tempo médio de uma hora e nove minutos dos maiores polos emissores do Brasil (RJ, SP, MG, DF). Além da charmosa capital Vitória, temos sítios históricos, cultura, lazer, museus, esportes, gastronomia (moqueca capixaba), praias paradisíacas - tudo isso espalhado em 78 municípios. Vale ressaltar que em 40 minutos de boa estrada chegamos à região de montanha, um parque botânico a céu aberto, com variadíssimos exemplares de nossa flora, excelente infraestrutura e o segundo melhor microclima do mundo. Isso é o nosso pequenino e solido turisticamente Estado do Espírito Santo.

Sabe-se que o impacto do desastre de Mariana, em MG, alcança o Espírito Santo. No entanto, sabe-se muito pouco sobre as dimensões desse impacto na indústria do turismo do Estado no seu todo. Poderia relativizar o peso do acidente, em termos objetivos?

NC: Sem dúvida. Embora se trate de um desastre ambiental de proporções, é preciso deixar claro que fica restrito a uma pequena região geográfica. No calor do evento e da cobertura diária da mídia, o impacto real acaba desproporcionalizado. Além disso, subestima-se o Espírito Santo em sua capacidade de superar os efeitos nocivos em termos ambientais, econômicos e turísticos.

O governo do seu Estado, tudo indica, deve estar fazendo a leitura cuidadosa do impacto do acidente de Mariana. O que o senhor espera da área governamental, para que a imagem do turismo de praia e sol não seja rasurada nem se generalize os efeitos deste evento? Há lições a extrair do episódio?

NC: Nosso Estado, hoje, tem o privilégio de contar com um governador que reúne qualidades técnico-gerenciais aliadas à extrema sensibilidade política, que se ajustariam com facilidade aos mandamentos privados. No entanto, por opção, se posicionou pelo munus publicum, e está tratando dessa questão e de outras que a circundam com o mais efetivo empenho.Tem os olhos voltados não só para o resgate ambiental e humano, mas também para a exemplar punição aos agentes causadores. Reitero: o Estado é muito maior que o episódio. E o nosso destino ainda é a melhor oferta da prateleira turística nacional!

O Senhor disse, recentemente, acreditar que a hotelaria brasileira vai prosperar com base no “modelo clássico darwiniano”, em que não sobrevivem o mais forte nem o maior, mas o que tem maior capacidade de se adaptar aos novos tempos. Como traz essa reflexão para a realidade do turismo e da indústria da hospedagem do Espírito Santo?

NC: Evocamos o chamado modelo darwiniano por uma razão muito simples e objetiva. Com a participação dos hotéis independentes em 91%, serão fundamentais a criatividade, inventividade, posicionamento e ações de gestão renovadoras. Só assim lograremos o enfrentamento das grandes redes e do vertical crescimento das plataformas digitais.

Quais transformações mais profundas pode-se esperar no ramo hoteleiro, nos próximos anos?

NC: Creio sejam aquelas no sentido da segmentação. Ou seja, da especificidade do nicho de hospedagem. O campo genérico está encolhendo a cada dia, e as demandas seguem estradas bem sinalizadas. 

O senhor disse acreditar na força do turismo interno como alavanca para a hotelaria. Como atrair mais e mais brasileiros para passar férias nas opções receptivas do Espírito Santo?

NC: O Turismo interno, em geral, para ser incentivado, necessita de medidas efetivas e de impacto positivo. Eu me refiro a uma desoneração fiscal-tributária em toda a cadeia, tendo em vista um custo de implementação mais adequado, para se chegar a preços e tarifas justas e competitivas. É muito complicado se cobrar ICMS nos voos internos e desonerar aqueles para o exterior. E, de quebra, ainda ouvir que é mais barato ir para tal lugar fora do país do que ficar por aqui. Este é apenas um exemplo. Só em 2014, o déficit da balança comercial do turismo foi de R$ 25 bilhões! (Fonte MTUR). Acredito que, após uma reforma trabalhista, fiscal, tributária; e a extinção de órgãos reguladores (que nada regulam, mas emperram), incluindo a melhoria da infraestrutura, nosso turismo interno alçará o voo esperado. Aliás, é preciso lembrar que são mais de 100 milhões de brasileiros que não fazem turismo. (Pesquisa Senac 2013). O Espirito Santo é a pérola brasileira no turismo. E a sua vez já chegou, mesmo que o DNPM fiscalize nossas 1129 barragens brasileiras ou não.

Que vantagens o senhor enumeraria sobre os diferentes destinos localizados no Espírito Santo, para o perfil médio do turista brasileiro? Que localidades destacaria?

NC: O Estado reúne praias fantásticas, com temperaturas médias de 27º, montanhas exuberantes a 40 minutos, além de um mosaico variado de ofertas turísticas já enumeradas, com preços muito acessíveis ao brasileiro mais e também menos exigente. Com criatividade e ajuda geográfica, temos a nosso favor a menor distância dos grandes polos emissores. Somos um shopping de ofertas para todos os brasileiros e visitantes do exterior.

0 comentários:

Postar um comentário