terça-feira, 26 de julho de 2016
texto: Elias Luiz | Rachel Nuwer
tradução: Daniela Silvestre


Morte nas nuvens: Eles encontram-se congelados no tempo, milhares de metros acima do nível do mar. O número sombrio de mortos do Everest está se tornando impossível de ignorar.

Não se sabe exatamente, quantos corpos permanecem no Monte Everest atualmente, mas certamente são mais de 200. Escaladores e Sherpas permanecem enterrados em fendas, sob a neve de avalanches e expostos nas encostas – suas extremidades esbranquiçadas e distorcidas. A maioria está oculta da vista, mas alguns são familiares na rota para o cume do Everest.

Talvez o mais conhecido de todos são os remanescentes de Tsewang Paljor, um jovem alpinista indiano que perdeu a vida em uma infame nevasca em 1996. Por quase 20 anos, o corpo de Paljor - popularmente conhecido como Botas Verdes, devido ao calçado neon que usava quando morreu - tem repousado perto do cume do Everest, na Face Norte. Quando a cobertura de neve está escassa, os alpinistas têm que pular por sobre as pernas extendidas de Paljor nos seus caminhos de ida e volta do pico.

Na verdade a trilha "passava" ao lado do corpo de Paljor, pois ele "estava" em uma reentrância na rocha, conhecida como a Caverna do Botas Verdes, então não há a necessidade de pular sobre o seu corpo. Antes de tirar qualquer conclusão, leia o artigo até o final.

Montanhistas vêem tais assuntos como trágicos porém inevitáveis. Para o resto de nós, entretanto, a ideia de que um corpo possa permanecer em plena vista por quase 20 anos pode parecer incompreensível. Corpos como o de Paljor irão permanecer em seus lugares para sempre, ou algo pode ser feito? E um dia iremos constatar que o Monte Everest simplesmente não vale mais a pena? Como eu descobri nessa série de duas partes, a resposta é uma história de controle, perigo, aflição e surpresas.

Antes de responder a essas questões, no entanto, é válido perguntar algo mais fundamental: Quando a morte está por toda a parte, por que, de uma vez por todas, as pessoas jogam com suas próprias vidas no Everest?

Alcançar o ponto mais alto da terra serviu como símbolo dos “desejos dos Homens de conquistar o universo,” como o montanhista Britânico George Mallory colocou. Quando um repórter uma vez perguntou a ele por que desejava escalar os 8.848 m (29,029ft) do Everest, Mallory rebateu “porquê está lá!”

O Everest, contudo, não é mais o lugar romântico e inconquistável que era. Desde que Tensing Norgay e Edmund Hillary se tornaram os primeiros Homens à ficar em pé no cume em 1953, a montanha foi conquistada mais de 7.000 vezes por mais de 4.000 pessoas, as quais deixaram uma trilha de lixo, desperdício humano e corpos em seus rastros.

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