domingo, 11 de setembro de 2016
Amazônia foi a mais afetada pelo avanço da Humanidade sobre as regiões intocadas do planeta

RIO - Nos últimos 20 anos, o mundo perdeu 3,3 milhões de quilômetros quadrados, ou quase 10%, das suas áreas de natureza selvagem, isto é, regiões praticamente intocadas pela ação humana. O cálculo é de estudo publicado ontem no periódico científico “Current Biology”, que alerta também para a falta de políticas de proteção a estas áreas, em geral remotas, e que hoje somam estimados 30,1 milhões de quilômetros quadrados, ou 23,2% da superfície continental (excluindo a Antártica) do planeta.

— Apesar de serem fortalezas da ameaçada biodiversidade, regularem os climas locais e sustentarem algumas das comunidades mais marginalizadas política e economicamente do planeta, estas áreas selvagens de importância global são completamente ignoradas pela política ambiental — diz James Watson, pesquisador da Universidade de Queensland, na Austrália, da Sociedade para Conservação da Natureza, sediada em Nova York, EUA, e primeiro autor do estudo. — Sem políticas de proteção, estas áreas são vítimas do desenvolvimento predatório. Os mecanismos internacionais precisam reconhecer as ações necessárias para manter estas áreas selvagens antes que seja tarde demais. Provavelmente só temos mais uma ou duas décadas para virar este jogo.

Segundo os cientistas, a maior parte das áreas selvagens ainda incólumes está localizada no Norte da América do Norte, da Ásia e da África e na Oceania. De acordo com eles, a Amazônia foi a região que mais sofreu com o contínuo avanço da Humanidade sobre as áreas remanescentes de natureza “pura” da Terra. Nela, só o maior bloco contíguo ainda isolado de floresta teve seu tamanho reduzido de 1,8 milhão para 1,3 milhão de quilômetros quadrados, uma perda de quase 30%. Outra região fortemente atingida foi a África Central, com uma redução de 14% na extensão de suas áreas selvagens.

— É impressionante a quantidade de natureza perdida em apenas duas décadas – avalia Oscar Venter, pesquisador da Universidade da Colúmbia Britânica do Norte, Canadá, e coautor do estudo. — Precisamos admitir que estas áreas selvagens, as quais ingenuamente consideramos protegidas devido ao seu isolamento, na verdade estão sendo reduzidas ao redor do mundo. Sem intervenções protetoras globais, podemos perder estas últimas joias da coroa da natureza. Uma vez perdida, não podemos restaurar a pureza nem os processos ecológicos que sustentam estes ecossistemas, eles nunca voltarão a ser o que eram. Então, a única opção é proteger o que resta.

Diante disso, Watson defende que as Nações Unidas e outros organismos multilaterais deem uma maior atenção às áreas selvagens nas discussões de acordos ambientais globais.

— Se não tomarmos medidas logo, sobrarão apenas pequenos remanescentes de áreas selvagens no planeta, e isso será um desastre para a conservação, para as mudanças climáticas e para as comunidades humanas mais vulneráveis — conclui. — Temos o dever de agir em nome de nossos filhos e dos filhos deles.

http://oglobo.globo.com
Foto:A floresta do Vale de Danum, na ilha de Bornéu: uma das poucas áreas da Terra que ficou livre da ação humana - Divulgação/Liana Joseph


0 comentários:

Postar um comentário