sábado, 24 de fevereiro de 2018

Débora Lopes

A ancestralidade, a fé e a força captadas pela fotógrafa Ingrid Barros.

Toda ancestralidade possível não basta para manter viva a identidade de sertanejos, indígenas e quilombolas que tecem a rica bandeira cultural do Maranhão – contraditoriamente o estado mais pobre do Brasil. Em casa, a fotógrafa documentarista Ingrid Barros, 25, registra parte dos dias de seus conterrâneos e os detalhes da vida simples e cheia de crueza, que vão do retrato antigo de família até o prato de carne e farinha sobre o chão de terra batida. "São comunidades que estão em um processo de resistência e luta", ela diz.

O ofício é recente para a maranhense que atuou como advogada na defesa de povos tradicionais e, hoje, dá continuidade a sua militância através das fotos e videorreportagens que produz: "Sempre falo que o Direito é o 'fundamento' do meu olhar. Me é útil".



Apesar de se dedicar integralmente à produção audiovisual há pouco tempo, Ingrid apresenta um olhar afiado, que conversa com nuances do fotojornalismo clássico, de cores potentes, vivas. Seus retratos não parecem ser de alguém ainda em início de carreira. Talvez porque não exista estrangerismos na relação fotógrafa- fotografados. "É aqui que estou e é aqui que me faço. A fotografia acaba sendo minha ferramenta à serviço da força e insurgência dessas comunidades", define.



Nos últimos dois anos, ela tem frequentado comunidades quilombolas de Monte Alegre, Alto Bonito e Nazaré, além do território indígena dos Akroá-Gamella, todos no interior do Maranhão. "Esses povos estão constantemente em situações de conflitos e ameaças pelo latifúndio, agronegócio e demais ambições econômicas e políticas."

Em 2017, durante uma tentativa de retomada de território no município de Viana, os Akroá-Gamella foram linchados por um grupo de pessoas enfurecidas que lhes atacaram com golpes de facão e armas de fogo. Dois indígenas tiveram suas mãos decepadas e dezenas ficaram feridos.

Seis meses depois do ataque, a fotógrafa os visitou e ouviu Antônio Akroá-Gamella falar sobre a ancestralidade do lugar, as memórias de seu avô e a luta pela resistência da etnia, que chegou a ser declarada extinta pelas autoridades.

Para Ingrid, os índices de pobreza não definem sua terra natal tampouco suas tradições. "O Maranhão é rico de cultura e de luta também. É muita ancestralidade. É muita encantaria, resistência. Do tambor ao reggae. Do campo à cidade."

Mais fotos da Ingrid Barros abaixo e também no Instagram.

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