sábado, 24 de novembro de 2018
Um quadro idealizado e autorizado por Pablo Ruiz Picasso compõe a exposição ‘A Coleção Assis Chateaubriand do MHAM: um recorte do tempo’, aberta nesta quinta-feira (22) em alusão aos 45 anos do Museu Histórico e Artístico do Maranhão. Além da referida obra, mais 33 peças somam à totalidade da mostra, que ficará aberto ao público até março de 2019, na Galeria Floriano Teixeira do MHAM, localizada na rua do Sol, 302, centro de São Luís.

A diretora do Museu Artístico e Histórico do Maranhão, Carolla Ramos, celebra o momento do MAHM e explica como chegaram ao consenso de expor a temática. “Escolhemos expor as obras da Coleção Assis Chateaubriand, que há 30 anos integram nosso acervo. Foram selecionadas 34 obras, entre o conjunto de 42 trabalhos doados, mas que não conseguimos coloca-los, em sua totalidade, nesta exposição, por fatores externos, como a questão das restaurações de algumas que ficaram bem deterioradas no museu em São Paulo. São 45 anos de preservação e comunicação das nossas histórias retratadas nesta exposição. O museu de fato completa 45 anos, porém, cinco anos antes já existia um trabalho para que ele fosse aberto. E hoje o museu está vivo”, comemora.

Entre as 42 obras doadas ao Maranhão estão trabalhos de destaque como a serigrafia ‘Tauromaquia’ (1950), de Pablo Picasso, e ‘Retrato de Uma Jovem’, reprodução de uma obra de 1852 do pintor austríaco Ferdinand Krumholz, um dos mais populares retratistas do Segundo Império.

Uma das responsáveis pela curadoria da mostra é a professora doutora da Universidade Federal do Maranhão, Regiane Aparecida Caire da Silva, que junto ao professor doutor, José Marcelo do Espírito Santo, desenvolveram a pesquisa ‘A contribuição de Assis Chateaubriand na formação do acervo artístico do Maranhão’. “A trajetória começou com o quadro do Picasso, que é uma serigrafia, e por acreditar que o artista nunca teria desenvolvido um trabalho neste estilo, eu fiquei com a hipótese de se tratar de uma obra falsa. No entanto, o professor Marcelo falou da coleção do Assis Chateaubriand, daí sentamos e realizamos um projeto para tentar entender como o quadro chegou no Maranhão”, conclui.

Da polêmica

Da serigrafia Tauromaquia (1950) da Coleção Assis Chateaubriand exposta no MHAM necessitava de esclarecimentos, pois tanto no museu como nos documentos levantados no Museu de Arte de São Paulo (MASP) quase nada havia sido encontrado a seu respeito. No início levantou-se a hipótese de a obra não ser autêntica e sim uma atribuição ao artista espanhol, motivada por bibliografia estudada onde vários autores e galerias afirmavam que Picasso, na sua produção gráfica, não havia utilizado a serigrafia. Ficou 20 anos no MASP, juntamente com as outras obras da coleção, chegando à capital maranhense em estado lastimável, conforme relatos da época, e teve que passar por restauração realizada pelo Museu Nacional de Belas Artes em 2005.

Com a informação de que Picasso não havia feito serigrafia, mas por vezes autorizava ateliês a fazê-lo com assinatura impressa, buscou-se informações na área têxtil, já que a serigrafia adentrava neste campo. Em meados de 1940 surgiram quase que simultaneamente duas companhias importantes no cenário do design têxtil: Ascher Ltd. na Inglaterra e Wesley Simpson Custom Fabrics Inc. nos Estados Unidos. Ambas lançaram coleções de moda e lenços desenhados por renomados pintores e escultores, entre eles estava Pablo Picasso, iniciando um envolvimento de artistas fornecendo imagens/projetos para o design têxtil com produção em grande escala. As estampas eram feitas normalmente no processo serigráfico, técnica recém utilizada tanto por artistas da Art Pop como na indústria e comércio.

Neste cenário encontra-se a origem da serigrafia do MHAM Tauromaquia, que equivocadamente ou, mais provável, por falta de conhecimento sobre a concepção da obra, não possui esse nome. O nome provável dado por Picasso é Bulls and Sunflowers. Picasso fez este trabalho para seu amigo Roland Penrose, então diretor do Institute of Contemporary Arts – ICA, originalmente desenhado pelo artista espanhol no Livro de Visitas do ICA em 1950. Posteriormente o desenho Bulls and Sunflowers transformou-se num projeto para lenço de seda, com edição limitada em 100

De Assis Chateubriand

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1892-1968) foi advogado, jornalista, empresário e mecenas das artes. Entre 1965 e fins de 1967 lançou a Campanha Nacional de Museus Regionais (CNMR) com o intuito de descentralizar o eixo artístico Rio de Janeiro – São Paulo, formando coleções em várias regiões brasileiras.

A criação do Museu Regional do Maranhão não ocorreu como se esperava, apesar de estar na lista das pretensões do empresário. No entanto, a doação das 42 obras foi realizada por Chateaubriand em 1968, mas somente chegou ao seu destino em 1988, ficando durante 20 anos sob a guarda do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

O MHAM foi inaugurado somente em 1973 com acervo bem heterogêneo, incluindo mobiliário, livros, louças além das obras de arte que figuram como decoração de seus espaços museológicos, representando uma típica casa/solar maranhense do século 19.

Das obras

– Adelson Filadelfo do Prado (1944 – 2013) Vitória da Conquista/BA Santa e Pombo 1967
– Augusto Lívio Malzoni (1945) Santos/SP Paisagem Urbana 1964
– Bernard Bouts (1909 – 1986) Versalhes/França Uno Y Uno s/d Myra, La Femme 1966
– Carlos Ayres (1916 – 1971) Itapetininga/SP Auto Retrato 1966
– Eduardo Dudu dos Santos (1943) São Paulo/SP 2 é Crepi 1966
– Edsolêda Maria Maciel Santos (1939) Salvador/BA Paisagem Urbana 1965
– Emanoel Alves de Araújo (1940) Santo Amaro da Purificação/BA s/título 1967
– Evandro Norbin (1929) Vitória (ES) Enterro 1966 Congada Mineira 1966
– Fernando Antonio Bastos Coelho (1939) Salvador/BA Rua s/d
– Fernando P. (Fernando Clóvis Pereira) (1917 – 2005) São Luís/MA Mercadora 1967
– Gaetano De Gennaro (1890 – 1959) Nápoles/Itália Retrato s/d
– Geraldo Cardoso Décourt (1911 – 1998) Campinas/SP Espaço Poetisado s/d
– Geraldo Otacílio Rocha (1942 – 1970) Vitória da Conquista/BA Jovem Nacionalista 1966
– Gino Bruno Françoso (1899 – 1977) Adria/Itália Sonho de Guerreiro 1964
– Hugo Eduardo Kovadloff (1944) Buenos Aires/Argentina Natureza Morta, 1964
– Izidoro Vasconcelos – -Paisagem Urbana c/ duas Figuras s/d
– Jorge Costa Pinto (1916 – 1993) Salvador/BA Casario s/d
– José Guyer Salles (1942) São Paulo/SP Sanfoneiro, Boi e Lua 1966
– José Maria Silva Neves (1896 – 1978) São Paulo/SP Quarteto Nacional 1967
– Lygia M. Milton (1931) Salvador/BA Igreja de Itapoan s/d
– Lília Aparecida Pereira da Silva (1926) Itapira/SP Palhaço-Metamorfose 1964
– Mario Cravo Neto (1947 – 2009) Salvador/BA Composição s/d
– Manezinho Araújo (Manuel Araújo) (1910 – 1993) Cabo de Santo Agostinho/PE Circo 1966
– Milton Marques (1935) São Paulo/SP s/título 1969
– Moti Hayoun – – Paisagem de Israel s/d
– Pablo Ruiz Picasso (1881 – 1973) Málaga/Espanha Tauromaquia 1950
– Paulo do Valle Júnior (1889 – 1958) Pirassununga/SP Homem sentado, c/ cachimbo 1951
– Regina Carvalho- -Cristo s/d
– Romeo Villalva Tabuena (1921 – 2015) Iloilo City/Filipinas Paisagem Campestre c/ Casa e Búfalos 1958
– S. Pinto (Sílvio Pinto da Silva) (1918 – 1997) Rio de Janeiro/RJ Baiana s/d
– Sante Scaldaferri (1928 – 2016) Salvador/BA Cerâmica Popular 1967
– Solano Finardi (1938) Retrato de Luana 1966
– Luigi Toffoli (1907 – 1999) Trieste/Itália Paisagem do Sena s/d
– Vera Solange Proença Roque – -Bailado s/d

Fonte: Sectur MA 

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