terça-feira, 5 de março de 2019
A preservação do Patrimônio arqueológico nas práticas de pesca tradicionais na Baía de São José de Ribamar -MA


As Camboas ou “gamboas” são estruturas de pedra existentes em várias partes do mundo. No Maranhão, elas são referenciadas desde os cronistas franceses do século XVII, e consistem em estruturas de pedra localizadas em diversos pontos do litoral, cuja função seria a de capturar, aprisionar e até mesmo criar peixes e outros animais aquáticos utilizando o ciclo das marés e a dinâmica hídrica costeira.

Em São Luís, as armadilhas de pesca são apontadas pelos cronistas franceses no século XVII, no processo de expedição de reconhecimento das aldeias na ilha de Upaon Açu, assim como a aldeia de Itapary, cujo nome foi dado devido à presença de currais de camboas de pesca na praia de Panaquatira.  Segundo o francês Padre Claude d’Abbeville (1612), o nome Itapary foi estabelecido devido à existência de estruturas de pesca dos Tupinambás que habitavam as aldeias nessa região no contexto da presença francesa na ilha de Upaon Açu. 


A cronologia apresentada na tese do arqueólogo e professor da UFMA - Arkley Bandeira intitulada “Ocupações humanas pré-coloniais na ilha de São Luís – MA” demonstrou que o segundo sítio mais antigo da Ilha de São Luís foi o Sambaqui da Panaquatira, com o início da ocupação humana dando-se em 5.730 ano A.P (Antes do Presente) e com vestígios datados até 127 anos A.P (Ante do Presente).

As pesquisas arqueológicas apontam que os exemplos mais marcantes da ocupação humana em áreas dotadas de condições ambientais ideais para fixação, habitação e permanência de grupos sociais por longos períodos de tempo são as grandes concentrações de vestígios faunísticos captados em ambientes aquáticos (Sambaquis) e as grandes Camboas de pedra utilizadas para pesca. Fato é que em torno de 5.500 anos A.P (Antes do Presente) a Ilha de São Luís estava colonizada por grupos adaptados ao ambiente descrito, com um máximo expansionista em torno de 2.500 anos A.P (Antes do Presente), quando praticamente toda a região estava plenamente ocupada. A existência das grandes estruturas de pedra na Ilha de São Luís, oriundas do período pré-colonial indicou uma organização comunitária e um senso de coletividade das sociedades pré-coloniais existentes na região há milênios.


As sociedades que habitaram os sambaquis maranhenses, assim como o Sambaqui de Panaquatira, poderiam ser caracterizadas como grupos de pescadores-coletores-caçadores, cuja subsistência estaria centrada na coleta de recursos marítimos propiciados pela abundância de peixes e mariscos em áreas estuarinas ou recurso adquirido em armadilhas de pesca (camboas). O padrão de assentamento, a caracterização do estilo cerâmico e a cronologia obtida apontam que os grupos dos sambaquis habitavam as zonas costeiras em um período anterior e bem mais longo que as populações horticulturas ceramistas (tupinambá), sendo o contato entre dois grupos étnicos distintos a possível causa do desaparecimento ou assimilação dos primeiros. Os relatos históricos fizeram menção à existência das Camboas e seu uso pelos habitantes locais, ou seja, os Tupinambás, porém, não foram relatados aspectos relacionados com a autoria das estruturas ou o período de sua construção.

Até os dias atuais as Camboas são utilizadas por pescadores e coletores da região, garantindo a perpetuação de uma estratégia de pesca e coleta ancestral ainda existente na ilha de São Luís. A tradição da construção das armadilhas é transmitida entre as famílias de pescadores na baía de São José, sendo estes os verdadeiros e únicos responsáveis pela preservação dessa técnica milenar de pesca e patrimônio vivo.  As Camboas podem ser integradas a pelo menos três categorias de patrimônio, assim como patrimônio histórico/arqueológico, patrimônio imaterial e patrimônio paisagístico, ampliando assim o conceito de preservação patrimonial.


Texto e fotosMarcos Tadeu Nascimento da Silva – Historiador e Arqueólogo

3 comentários:

  1. Onde posso saber mais sobre as camboas de panaquatira?
    Data aproximada de construção, autoria das estruturas e se existem em outros locais do estado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia Henrique!!!

      Essa foi uma matéria que foi feita pelo meu filho que é pesquisador e tem um vasto conhecimento sobre as camboas. Posso falar com ele sobre teu interesse. Você fala de onde?

      Abraços

      Excluir
  2. As Gamboas de Panaquatira estão sendo desmontadas. Fui há 5 dias lá e fiquei sem acreditar.
    A imagem do seu blog não podem mais ser feitas.
    Prof. Domingos Sávio.
    Também estudo estás Gamboas.
    Tel ZAP. 98920008765.

    ResponderExcluir