segunda-feira, 6 de abril de 2020
Quando eu era criança, gostava mais ou menos de Semana Santa!
O que adiantava ficar em casa na quinta e na sexta se não dava pra pular, dançar, gritar ou correr (as coisas mais bacanas de fazer quando se criança)?
Bastava começar o feriado que a monotonia vinha junto! Botar um disco do Balão Mágico ou do Trem da Alegria? Jamé! Aumentar a TV quando o Bozo cantava a música “chuveiro, chuveiro, não faz assim comigo...”? Na na ni na não! Brincar de bambolê ou de “elástico”, de “esconde-esconde” ou “rouba bandeira”? Não, não e não, falava mamãe a toda hora. E completava: Faz mal!
Passei a infância me perguntando pra que servia aquele feriado imenso se não dava pra fazer nada em grande parte do tempo e o pior: o ovo de chocolate, só no domingo!
Tudo bem, tinha o sábado de aleluia pra tirar o atraso, mas esses dois dias com ordens expressas do céu para se ficar quietinho não me agradava não!
Se você tem entre 25 e 35 anos sabe do que estou falando. Em homenagem à ressurreição de Jesus, tínhamos que ficar em silêncio e sem peraltices. Se não desse pra aguentar, a surra viria, mas no sábado (ainda bem)!
O sábado de aleluia chegava com sua energia e colorido e trazia junto ovos de chocolate e os coelhinhos como personagens principais, que para mim era o diferencial, pois fim de semana pra criança é tudo igual. Não tem escola e está tudo certo!
Era um silêncio impressionante e sempre passava um filme com tema bíblico. Agora me digam se esses ingredientes não são pra entediar qualquer criança?
Com o tempo mamãe sabiamente começou a me mandar pro interior e aí é que o feriado fazia sentido! Além de tudo que já falei, em Humberto de Campos eu ainda tinha que assistir a “Paixão de Cristo” encenada pelos artistas de lá, pode?
Porque fazem isso com as crianças, heim? Eu até hoje não consigo assistir nenhuma outra encenação por puro trauma!
Trauma eu também tenho porque ninguém mais troca nada na Semana Santa. Lembro bem dos pratinhos de peixes, frutos do mar, tortas, bolos e pudins chegando em minha casa e mamãe e vovó fazendo outros pra mandar pra vizinhança. Era tão bacana isso... Tenho uma vizinha que sabe o que vamos ter pra almoçar na sexta-feira, então ela manda um pedacinho de qualquer iguaria em troca de um potinho de vatapá. Acho que é a única que ainda faz isso! Tudo é uma delícia.
Pelas bandas do interior, trocar alimentos ainda é comum, embora com menos intensidade. Esse momento tem uma simbologia muito grande para os católicos e representa união, confraternização, fartura e fertilidade. Tudo o que queremos para o resto do ano e para a vida!
Sempre acordei cedo e no domingo de Páscoa, dada tamanha euforia, acordava mais cedo de olho nos chocolates. O dia era mais doce e alegre. Os brinquedinhos de dentro do ovo passavam o resto do ano jogados por todos os lados porque não eram úteis pra nada, assim como os papeis que embrulham os ovos que mamãe insistia em guardar. Até hoje ela não sabe pra quê!
A antiga ordem do céu foi revogada e atualmente a Semana Santa nada mais é que um dos maiores feriados do ano e altíssima estação para o Turismo. É o filé das viagens de curta permanência e as viagens regionais bombam em todos os lugares. Nada de ficar em silêncio ou reverenciando os céus! A badalação do sábado de aleluia já foi antecipada para a sexta e a cidade tem vasta programação cultural para esse dia e como não estou aqui para discutir isso, faça como eu: agradeça a Deus por tudo que ele tem proporcionado e caia na gandaia, ou melhor, em puro ócio, viagem e gastronomia!!!!
Até a próxima!
Texto Originalmente publicado na Edição N° 71 março 2010 do Jornal Cazumbá
Imagem Ilustrativa/Internet
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