terça-feira, 7 de abril de 2020

Já destacamos aqui que a pandemia de coronavírus é responsável pela maior crise da história da aviação e do turismo mundial. Num movimento sem precedentes, dezenas de companhias aéreas deixaram de voar, ou reduziram drasticamente o número de voos, devido à queda repentina na demanda, o fechamento de fronteiras e a proibição de viagens em alguns países. Nesse post falaremos um pouco sobre as consequências da crise para as companhias aéreas e o que elas estão fazendo para não quebrar e conseguir voltar a operar quando a situação se normalizar.

O que as companhias aéreas estão fazendo para enfrentar a crise?

A agilidade com que as companhias aéreas suspenderam seus voos na pandemia de coronavírus foi fruto de uma importante lição aprendida em crises anteriores: voar com aviões vazios por muito tempo é a receita certa para a falência. Nessas horas, é preciso reduzir drasticamente os custos e adequar rapidamente a oferta a demanda de voos (evitando assim uma queda drástica no preço das passagens).

No Brasil, não foi diferente. Azul, GOL e Latam estão mantendo cerca de 90% da frota de aeronaves no chão. O número de voos nacionais caiu de 14.781 para apenas 1.241 por semana.

Colocando a frota no chão num período de quase nenhuma demanda as empresas deixam imediatamente de gastar com combustível, cujas despesas podem chegar a 1/3 do total. Além disso, reduzem significativamente o custo com manutenção e peças de reposição, taxas de navegação aérea e tarifas aeroportuárias.

Com um número muito pequeno de voos, as companhias aéreas também estão incentivando licenças não remuneradas de funcionários, reduzindo temporariamente salários e jornada, estimulando aposentadorias e demissões voluntárias, tudo para reduzir o custo com pessoal, outro elemento de grande peso no total de despesas. No Brasil, a Azul anunciou que 10 mil dos 14 mil funcionários aderiram à licença temporária não remunerada.

Mesmo com todo o esforço, infelizmente, algumas empresas já anunciaram demissões em massa. É o caso da Air Canada, que informou o desligamento de 16.500 empregados.

O cancelamento ou adiamento de investimentos em renovação, ampliação, pintura e aprimoramento da frota de aeronaves é outra ação comum às companhias aéreas durante essa crise. Nesse caso, a medida vai afetar diretamente as fabricantes de aeronaves (Boeing, Airbus, Embraer) e as empresas de leasing durante um bom tempo.

Vale destacar que, mesmo sem voar, as empresas ainda mantêm gastos expressivos, como arrendamento e seguro de aeronaves, além de despesas administrativas, encargos, e parte da despesa com pessoal. Num momento que a receita caiu quase 100%, economizar cada real vai fazer muita diferença. Por isso, mais do que nunca, as aéreas vão precisar adiar despesas e rever contratos para segurar dinheiro em caixa. Paralelamente, buscar empréstimos e financiamentos para resistir por mais tempo.

Quanto tempo as companhias aéreas aguentam sobreviver em meio à crise?

Logo após a confirmação da pandemia de coronavírus, uma estimativa da consultoria especializada Capa centre for aviation indicou que dada a gravidade da crise, em apenas 3 meses a maioria das companhias aéreas do mundo já estariam quebradas. Esse prazo, naturalmente, dependeria da situação individual de cada empresa e de um eventual apoio governamental.

No entanto, essa estimativa inicial se baseou em crises anteriores, onde as companhias aéreas mantiveram a oferta de voos, mantendo suas operações com uma ocupação muito baixa. É algo bem diferente do que foi feito agora.

Um exemplo recente que contradiz a estimativa da consultoria veio da Ryanair, maior companhia aérea de baixo custo (low cost) do mundo. A empresa surpreendeu o mercado ao assegurar que consegue sobreviver por até 12 meses sem nenhum voo ou receita. Não dá para generalizar esse prazo para todo o mercado, mas me parece um indicativo de que as empresas do setor ganharam resiliência e podem hibernar por um prazo maior que o esperado, se mantiverem grande parte de suas operações suspensas.

Entre as empresas que operam voos domésticos no Brasil, a Latam recebeu no fim de 2019 um aporte de US$ 1,9 bilhão (aproximadamente R$ 10 bilhões) da Delta, equivalente a 20% das ações do grupo. Sem dúvida, um recurso valioso para atravessar a crise. Também reduziu em 95% suas operações no mês de abril, mantendo um volume muito pequeno de voos até junho e negociou acordo de redução de jornada e de salário com seus funcionários.

Já a Azul suspendeu pagamentos de leasing e de outros fornecedores para proteger o caixa, enquanto paralisou a operação de 120 das 150 aeronaves. Além disso, conseguiu com que mais de 10.000 funcionários tirassem licença não remunerada, além de reduzir os salários dos executivos.

A GOL, por sua vez, desistiu de reincorporar a Smiles, e se concentrou na redução de custos, renegociação de dívidas com vencimentos nos próximos meses, e no replanejamento de frota, já que das 137 aeronaves que possui, 31 são aluguéis temporários para suprir a ausência dos Boeing 737MAX que estavam impedidos de voar. A devolução desses equipamentos foi acelerada, em função do novo cenário de demanda. A empresa também cortou 90% dos voos e negociou acordo de redução de jornada e de salário com seus funcionários.

Capitalização é essencial para sobreviver nesse setor

Não é fácil ser uma companhia aérea! É um setor muito complexo, dinâmico e de altíssimo risco. E, para sobreviver em meio à crises e turbulências, as empresas precisam cada vez mais estar bem capitalizadas e manter uma alta capacidade de financiamento. Uma pequena dúvida quanto solvência de uma companhia aérea pode provocar uma debandada de clientes e aniquilar de vez o negócio.

Nesse sentido, os grandes grupos da aviação mundial e as empresas mais robustas e capitalizadas terão maiores chances de sobreviver à essa crise. Já companhias aéreas menores e aquelas que já estavam em dificuldades antes da pandemia dificilmente devem escapar sem a ajuda dos governos.

Vale lembrar que em 2019, mesmo sem coronavírus, 22 companhias aéreas deixaram de operar no mundo inteiro, incluindo a brasileira Avianca Brasil e a francesa Aigle Azur, que deixaram muitos clientes prejudicados por aqui.

Como os governos estão apoiando as companhias aéreas

Governos de dezenas de países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Singapura, Emirados Árabes, China, Austrália, Colômbia e Nova Zelândia anunciaram medidas de apoio para as companhias aéreas. As ações mais recorrentes têm sido a oferta de linhas de financiamento especiais com juros baixos, o aumento do prazo para o reembolso de passagens (também adotado no Brasil), a redução ou adiamento de impostos e flexibilizações para o licenciamento de funcionários.

Além disso, as empresas estão sendo liberadas temporariamente de cumprir requisitos mínimos de regularidade e pontualidade nos principais aeroportos do mundo, evitando o risco de ter que voar com aviões vazios para não perder as autorizações de operação (slots) A medida se aplica inclusive no Brasil, com o aval da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

As companhias nacionais pediram ao governo, através da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), as seguintes medidas:

*Redução de impostos PIS/COFINS sobre o combustível de aviação
*Desoneração da folha de pagamento
*Redução das tarifas do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e Infraero, além da suspensão temporária de pagamentos
*Redução da alíquota do imposto sobre leasing de aeronaves, motores e peças
*Suspensão de impostos em pagamentos feitos no exterior
*Linha de crédito para capital de giro

O Governo prometeu uma linha de financiamento especial para o setor através do BNDES, que também estuda a compra de ações das companhias aéreas brasileiras, como forma de apoiar e fortalecer as empresas. Mas as condições e o prazo ainda não foram divulgados. Além disso, a equipe econômica ainda estuda as demais demandas do setor.

Companhias aéreas não são as únicas atingidas pela crise

As companhias aéreas não foram as únicas atingidas em cheio pela crise de coronavírus. Junto com elas, concessionárias de aeroportos, empresas de catering (refeições para aviação) e de ground handling (bagagem, carga, serviços de rampa e segurança) também estão em risco.

Além disso, o setor de turismo como um todo está enfrentando uma crise sem precedentes, especialmente hotéis, pousadas, agências de viagem, parques temáticos, entre outras atividades. As empresas de entretenimento e de eventos também estão sentindo um fortíssimo impacto.

Informação: Melhores Destinos 

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