sexta-feira, 17 de abril de 2020

Em entrevista, Keith Alverson, diretor do Centro Internacional de Tecnologia Ambiental (IETC) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em Osaka, no Japão, fala sobre o Compêndio de Tecnologias para o Tratamento e a Destruição de Resíduos de Saúde.

A publicação científica aborda a gestão dos lixos hospitalares e pode auxiliar a avaliação e a seleção de tecnologias apropriadas para sua destruição, além de ajudar no planejamento e gerenciamento do grande número de rejeitos oriundos da pandemia de COVID-19.

PNUMA: Como é o documento e como ele pode nos ajudar nessa pandemia atual?

Keith Alverson: O Compêndio destina-se a auxiliar governos nacionais e regionais, países e organizações de saúde na avaliação e seleção de tecnologias apropriadas para a destruição de lixos de saúde. Diante do surto de coronavírus, ele pode ajudar os responsáveis ​​a lidarem com o planejamento e gerenciamento do grande número de rejeitos oriundos da pandemia.

PNUMA: O que são resíduos biomédicos e de serviços hospitalares?

Keith Alverson: São todos os materiais descartados por unidades de saúde, laboratórios médicos e centros de pesquisa biomédica, bem como por outras fontes dispersas ou de menor dimensão. Embora os hospitais produzam a maior parte desses rejeitos, eles são apenas uma das diversas fontes envolvidas.

Seu tratamento e disposição inadequados implicam em sérios riscos de transmissão secundária de doenças devido à exposição dos catadores, lixeiros, profissionais da saúde, pacientes e da comunidade em geral a agentes infecciosos em locais onde os lixos são descartados incorretamente.

A queima aberta e a incineração sem controle adequado da poluição expõem os trabalhadores e as comunidades próximas aos contaminantes tóxicos espalhados no ar e nas cinzas.

PNUMA: Qual o volume de resíduos hospitalares produzido por um hospital de médio porte?

Keith Alverson: Uma avaliação das taxas de geração de resíduos globais mostra que é produzido cerca de 0,5 kg de lixo por leito por dia nos hospitais de médio porte. No entanto, o valor e a composição subjacente desses materiais variam dependendo do contexto local, sendo que os países desenvolvidos geram muito mais lixos e plásticos e frequentemente são responsáveis por mais da metade de todo o descarte hospitalar do mundo. Devido a essa grande diversidade, não existe uma única solução para lidar com esses materiais.

O Compêndio fornece uma metodologia robusta para analisar as necessidades locais de geração, composição e descarte de resíduos e selecionar tecnologias apropriadas como parte de um sistema local de gerenciamento de rejeitos.

PNUMA: Que tipo de lixo biomédico e hospitalar é mais arriscado em termos de propagação de doenças infecciosas?

Keith Alverson: Os resíduos biomédicos e de serviços hospitalares podem ser classificados de acordo com as seguintes categorias: perfurocortantes, patogênicos, outros tipos infecciosos, farmacêuticos – incluindo resíduos citotóxicos –, químicos perigosos, radioativos e gerais (sem risco).

Cerca de 75 a 90% dos rejeitos produzidos pelas unidades de saúde são gerais (sem risco) – não infecciosos e não perigosos –, comparáveis ​​aos lixos domésticos. Os infecciosos são aqueles que podem conter patógenos (bactérias, vírus, parasitas ou fungos que podem causar doenças) em concentração ou quantidade suficiente para acometerem hospedeiros suscetíveis.

PNUMA: O Compêndio fala sobre a segregação de resíduos de saúde. O que significa isso?

Keith Alverson: A segregação é uma etapa importante no gerenciamento eficiente desses resíduos de saúde. Ao separar os tipos perigosos dos não perigosos, é possível reduzir drasticamente o volume de materiais que requerem tratamento especial. Outras etapas são classificação, redução, contentorização, codificação por cores, rotulagem, sinalização, manuseio, transporte, armazenamento, tratamento e disposição final desses materiais – claro, todas essas etapas requerem treinamento, planejamento, orçamento, monitoramento, avaliação, documentação e registros contínuos.

PNUMA: O que os países devem fazer para implementar uma política de gerenciamento de lixos biomédicos e hospitalares?

Keith Alverson: O processo de institucionalização de um bom sistema de gerenciamento de rejeitos é complexo. É necessário avaliar os materiais produzidos, bem como as práticas já existentes e as opções cabíveis; desenvolver um plano de administração de rejeitos; promulgar políticas e diretrizes institucionais; estabelecer uma organização de resíduos; alocar recursos humanos e financeiros; implementar um cronograma definido; bem como estipular um programa periódico de treinamento, monitoramento, avaliação e melhoria contínua.

PNUMA: Como o Compêndio pode orientar a administração de resíduos de coronavírus nos hospitais?

Keith Alverson: Países, cidades e instituições que usaram esse documento – ou outras ferramentas similares – e desenvolveram um sistema operacional de gerenciamento de materiais descartados estão muito mais aptos a lidarem com o aumento dos lixos hospitalares associados a desastres, como o surto de COVID-19. Os melhores sistemas incluem planos de contingência para desastres naturais, como as pandemias.

O Compêndio é uma ferramenta de redução de risco muito útil e relevante para uma resposta ao surto a médio e longo prazo – de meses a anos –, mas deve ser complementado com orientações para operações de emergência em tempo real.

PNUMA: Quais são os processos básicos envolvidos no tratamento dos resíduos hospitalares?

Keith Alverson: Existem quatro processos básicos envolvidos: térmicos, químicos, irradiativos e biológicos. Infelizmente, a realidade mundial é que uma enorme quantidade de lixos de saúde – incluindo os que foram gerados como resposta à pandemia – é tratada com tecnologias inadequadas e às vezes sequer recebe tratamento.

Informação: Nações Unidas 

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