sexta-feira, 8 de maio de 2020
Dormitório dos guarás  - Delta do Parnaíba

Saindo de uma praia nordestina ensolarada pegamos o rumo às profundezas, mistérios e exuberância da floresta amazônica dos Ka'apor. Logo a seguir desviamos o caminho e nos deparamos com sertanejos que vivem em meio a grandes paredões de arenito e chapadas cobertas de Cerrado sem fim salpicado de cachoeiras. 

Entre grandes rios e extensas planícies desembarcamos em um verdadeiro pantanal com enormes espelhos d'água doce a perder de vista. Um pouco adiante entramos numa floresta de palmeiras de babaçu onde vivem as quebradeiras de coco para depois chegarmos ao Semiárido com seus carnaubais, mandacarus e vaqueiros. 

Vaqueiro Nordestino Chapadinha

Percorrendo entre vales, planaltos e pequenas serras de altitudes modestas, voltamos ao segundo maior litoral da nação e desembarcamos em uma imensa reserva de manguezal - uma das maiores do mundo, onde a Amazônia encontra o Atlântico - e navegamos por muitas ilhas com pescadores e praias desertas até chegarmos ao "deserto branco" onde chove e são formados inúmeros “oásis” de águas pluviais, um pouco antes de um também famoso Delta das Américas. 

Já nas águas do alto mar ainda tem um grande banco de corais e naufrágios com abundante fauna marinha.....; E a viagem continua. Poderíamos estar resumindo um roteiro pelo Brasil inteiro mas falamos apenas de um pedaço dele: o que reúne - sem alardear - os principais ecossistemas e biomas do país em um só território estadual, com grande biodiversidade. 

Cachoeira da Caverna - Parque Nacional Chapada das Mesas

O Maranhão ostenta um dos piores IDH's da nação e sempre está nas piores colocações dos rankings socioeconômicos. Ironicamente, mas não inexplicavelmente, é um dos Estados mais ricos do ponto de vista natural, cultural e humano, aqui onde MISCIGENAÇÃO se escreve com letras maiúsculas e onde o Brasil é ainda mais brasileiro com fortes heranças das três principais matrizes étnicas da formação de nosso povo. 

Desbravar essas riquezas não é tarefa fácil levando em conta as grandes distâncias, estradas ruins e acessos muitas vezes complicados. A beleza tropical profunda e tão brasileira deste torrão é para aventureiros que abrem mão do conforto convencional e que tem sensibilidade e paciência suficientes para fazer descobertas que muitas vezes não se mostram facilmente, à beira da estrada. 

Campos alagados e búfalos - Baixada Maranhense

A recompensa a tanto esforço é encontrar lugares ainda "puros", quase intocados e desconhecidos da maioria dos maranhenses e brasileiros. O melhor de toda viagem é se surpreender com maravilhas onde menos se espera e se sentir um verdadeiro explorador pioneiro. 

Há também aqueles lugares mais acessíveis e mais próximos aos centros urbanos e por isso mais povoados e/ou frequentados, mas não deixam de ser surpreendentes através de um novo olhar, de novas paisagens e descobertas, especialmente quando se transformam ao longo do ano sob as leis da natureza. 

Floresta Amazônica Reserva Biológica do Gurupi

O Maranhão é cheio de lugares assim e convida - ainda timidamente - a ser descoberto. Este livro com suas belíssimas fotografias de grande técnica e sensibilidade é mais do que uma provocação a todos que queiram conhecer in loco este pedaço exuberante de Brasil onde o Nordeste encontra o Norte e onde a Caatinga e o Cerrado vão dando espaço para a maior floresta tropical do planeta, tendo como moldura um grande litoral ainda inexplorado em sua maior parte: ele vai revelar para o Brasil e para o planeta o Maranhão muito além dos azulejos, do Bumba meu boi e dos Lençóis e a riqueza deste povo simples, cativante e hospitaleiro como poucos. 

Mais importante ainda: vai ser capaz de despertar em muitos de nós maranhenses a vontade de conhecer melhor a nossa terra, o sentimento de pertencimento, o orgulho, o amor e o desejo de preservação, valorização e cuidado. Uma linda semente lançada em uma terra muito fértil e promissora. Conhecer o Maranhão é conhecer o Brasil profundo! E, ao visitar o nosso torrão - como manda a nossa tradicional hospitalidade: "Entrem, se abanquem e estejam à vontade". 

Texto: Rafael dos Santos Marques, www.maramazon.com
Fotos: Maranhão Profundo: http://evandromartin.com/blog

Um comentário:

  1. Eita que este Maranhão não sai de mim, e nem quero que saia. Assim que essa pandemia passar, quero estar aí novamente, de corpo e alma.

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