segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Nasci no dia 1º de janeiro, uma data festiva por natureza!

Tirando o fato de ter feito minha mãezinha ficar com dor em pleno Réveillon, nos anos seguintes meus aniversários foram só
alegria.

Meia noite e um minuto do Réveillon já é meu aniversário e começo a comemorar junto com os fogos da virada do ano. Estouro champanhe, espumante, cidra, cerveja (a bebida que tiver na ocasião) e saio abraçando todo mundo desejando um ano frutífero e recebendo as energias que todos desejam nessa época.

Se pensarmos somente na festa, a data não poderia ser mais emblemática. O mundo inteiro está comemorando a virada do ano e recebemos uma carga extra de energia para podermos seguir por mais uma etapa. É um período muito especial para todos nós.

Aí você deve estar pensando “Que lindo!”, “Que maravilha!” e eu falo para você: não, não é assim tão lindo. Há um detalhe superimportante nisso tudo: eu nunca tive um aniversário de criança na vida! Você pensa que é fácil? Que tudo são flores? Não! Não sei como não fiquei uma pessoa revoltada, com desvio de comportamento ao longo desses anos.

Explico: a minha família gosta de farras. E são farras que obedecem a um formato único e muito próprio.

São festas regadas a muita cerveja, cantorias e instrumentos musicais. Esses instrumentos variam de acordo com a quantidade de convidados, já que cada um tem um dom, mas em geral sempre tem violão, pandeiro, cabaça, já houve tempo em que tinha obrigatoriamente cavaquinho, saxofone, trombone, além das caixas de fósforo, abridores de cerveja batendo em garrafas e o batuque feito com as mãos em baldes ou mesmo na mesa. A habilidade de cada membro da família com determinado instrumento fazia com que fossem sempre os mesmos convidados e as festas ficassem cada vez mais ensaiadas.

Além dos instrumentos musicais, as mulheres da minha família têm vozes muito bonitas e afinadas. A minha mãe, por exemplo, tem um tom super alto que encanta quem a ouve. De quando em vez, é chamada de Marrom, só pra fazer um comparativo! A minha avó sempre teve voz boa, minhas tias também cantam muito bem. As ovelhas negras nesse quesito, bem, são eu e a minha Tia Leila, que em troca de afinamento e voz bonita, ganhamos formosura (que as outras tias não leiam esse texto!).

A minha mãe é a pessoa que mais gosta de festa nesse planeta. Tem uma energia incrível e por conta dessa característica, sempre fez dos meus aniversários, festas dela.

Eu nunca tive um aniversário com balões, língua de sogra ou chapeuzinhos coloridos. Nunca tive enfeites de bichinhos nas paredes. Nunca tive uma festinha de aniversário com trilha sonora da Xuxa, do Balão Mágico ou do Trem da Alegria!

As minhas festinhas sempre tiveram uma cara diferente. A minha trilha sonora sempre foi embalada pela voz da minha mãe cantando Ângela Maria, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves ou Núbia Lafayette. Ao invés de servirmos bolo com brigadeiros e beijinhos, nas minhas festinhas distribuíamos pratos de mocotó, feijoada e comidas de gente grande.

As festinhas do dia 1º de janeiro nunca começaram às 19h, como em festinhas infantis, e sim ao amanhecer do dia, aproveitando a volta pra casa das festas de Réveillon. 

As festas em que comemorei meus aniversários ao longo da vida tinham uma informalidade característica da minha casa. Todos podiam entrar. Sempre tinha vaquinha para renovar o estoque de cerveja, sempre dava pra por mais água no feijão e sempre dava certo no final.

Ainda bem que ao invés de ficar revoltada, fiquei amante de músicas antigas, fiquei fã de instrumentos de sopro, fiquei apaixonada pela família e fui cativando muitos e muitos amigos.

Ah, e a minha mãe, continua adorando festinhas em casa. Ainda com cantoria, instrumentos musicais e muita cerveja!

Texto Originalmente publicado na Edição N° 111 janeiro de 2014 do Jornal Cazumbá
Imagem Ilustrativa/Internet

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