terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Além das inúmeras consequências sociais, econômicas e de saúde pública, a pandemia de COVID-19 também foi responsável por um retrocesso no combate à poluição plástica em todo o mundo. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alerta para esta dessensibilização ambiental, em especial no setor do turismo, frisando que a adoção de plásticos de uso único não é sinônimo de segurança sanitária ou medida de prevenção contra o coronavírus.

Pesquisas lideradas pelo Programa e outros órgãos das Nações Unidas, como a Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), já mostraram que o aumento da produção do plástico e o mau uso de equipamentos de proteção individual, como máscaras descartáveis, contribuiu significativamente para a poluição plástica nas praias e em outros ambientes nos últimos dois anos.

“Durante a pandemia, vimos uma concepção equivocada em relação a produtos reutilizáveis, tais como garrafas de água de aço, serem menos seguras que garrafas plásticas de água de uso único”, diz Helena Rey de Assis, gerente de programa do PNUMA. “Essa percepção incorreta aumentou o consumo de produtos plásticos de uso único e afetou as regulamentações governamentais e dos operadores turísticos. Artigos e embalagens plásticas de uso único não são medidas de higienização isoladas, pois o vírus pode sobreviver nelas, além de poderem ser contaminadas durante o transporte ou manuseio”, frisa a especialista.

Problema antigo - No entanto, não é apenas a COVID-19 que está provocando um aumento dos descartes irregulares.O relatório “Da Poluição à Solução: uma análise global sobre lixo marinho e poluição plástica”, publicado em outubro pelo PNUMA, mostra que esse problema já vinha aumentando ano após ano, mesmo antes da pandemia. O Programa estima que atualmente há entre 75 e 199 milhões de toneladas de resíduos plásticos nos oceanos, montante que representa cerca de 85% de todo o lixo presente nos mares e também considerado o maior, mais nocivo e resistente de todos os resíduos marinhos.

Para além de todo o plástico que já está no ecossistema, o que preocupa são os novos despejos. De acordo com os cálculos do PNUMA, em 2016, entre 9 e 14 toneladas de resíduos entraram nos oceanos. Em 2040, no entanto, o Programa prevê que este número terá quase triplicado para algo entre 23 a 37 milhões de toneladas por ano. 

Para tentar frear este processo, o PNUMA promove uma série de ações de conscientização  e pesquisas. Em específico para a área de turismo, o Programa lista três estratégias para mudar os hábitos de quem viaja, bem como dos governos e instituições, a fim de enfrentar a crise de plásticos e proteger a saúde humana e o equilíbrio ambiental: escolhas individuais, legislação e ações do setor privado.

Escolhas individuais -  Especialistas afirmam que é falsa a ideia de que para aderir a medidas sanitárias para proteção contra a COVID-19 é necessário adotar produtos plásticos descartáveis. Rey de Assis explica que ações individuais de turistas para reduzir a quantidade de lixo que geram durante as viagens, além de sustentáveis, também podem ser econômicas. Entre as medidas citadas pela gerente do PNUMA estão trazer as próprias bolsas, garrafas de água e artigos de higiene pessoal para diminuir o impacto sobre o lixo local e o sistema de reciclagem. Este tipo de hábito de viagem também reduzirá gradualmente a dependência das economias locais de produtos plásticos de uso único.

De olho na prevalência deste material em produtos de cuidados pessoais e na forma como são disponibilizados em alojamentos turísticos, o PNUMA produziu o projeto “O que há em seu banheiro?”, uma página interativa na qual é possível clicar em ícones representando itens de higiene e ler alternativas sustentáveis para substituir estes produtos. A página faz parte da plataforma Mares Limpos, a maior coalizão mundial dedicada a acabar com a poluição marinha por plástico.

Legislação - Ainda que escolhas pessoais tenham um impacto positivo, o esforço para reduzir a poluição plástica não depende apenas de indivíduos. Legislações fortes têm se mostrado um meio eficaz para proibir, reduzir ou eliminar gradualmente o plástico de uso único.

Por isto, uma segunda estratégia elencada pelo PNUMA é justamente uma maior atuação dos governos, por meio de legislação, proibindo a circulação de alguns tipos de plásticos. De acordo com o Programa, proibições podem levar o setor turístico local a fazer inovações, fornecer aos visitantes opções favoráveis ao meio ambiente e educar os consumidores. 

O secretário de gabinete do Ministério do Turismo e Vida Selvagem do Quênia, Najib Balala, declarou recentemente que a proibição de plásticos de uso único no país tem sido a solução para uma catástrofe. “A proibição melhorou o estado das praias e parques nacionais quenianos, com redução da poluição plástica visível”, diz Balala. “Os esforços devem ser globais porque, mesmo que limpemos nosso país, sempre teremos plásticos lançados de navios em alto mar e levados para nossas praias. Portanto, eu gostaria de fazer um apelo mundial para que as pessoas reduzam a utilização de plásticos de uso único e, eventualmente, os eliminem completamente”.

A história do país com os plásticos é narrado no curta-metragem "Pieces of us" ("Pedaços de nós", em português), uma produção do PNUMA, em parceria com a produtora Routes Adventure e com a organização Flip Flop– movimento queniano em prol da economia circular. O filme, ambientado no destino turístico de Lamu, destaca o papel que visitantes e moradores desempenharam em direção a uma economia baseada em produtos orientados ao turista.

Setor privado - Operadores de turismo, empresas e instituições também podem apoiar voluntariamente a eliminação da dependência de plástico do setor, uma vez que estas ações podem trazer benefícios comerciais, tornando as paisagens mais bonitas e atraindo mais visitantes. 

Aderir a Iniciativa Global Sobre Plásticos de Turismo (GTPI, na sigla em inglês), é um exemplo de como empresas privadas e organizações de apoio podem ajudar a reduzir a poluição e também se comprometer a migrar, até 2025, para um modelo onde o uso do plástico em suas dependências seja circular. A iniciativa GTPI é liderada pelo PNUMA e pela Organização Mundial de Turismo (OMT), em colaboração com a Fundação Ellen MacArthur.

Uma das mais de cem empresas signatárias da GTPI é a plataforma online de viagens Booking. Nos últimos meses, a companhia adotou etapas para a eliminação de plásticos de uso único enquanto mantém os protocolos de saúde.“Embora concordemos que a saúde e a segurança são de suma importância, também vimos que muitos de nossos parceiros desconheciam opções alternativas e sem plástico que ofereçam níveis elevados de limpeza e higiene em suas propriedades”, disse Thomas Loughlin, líder de fornecimento sustentável da empresa. “É por isso que publicamos nossas próprias diretrizes em parceria com a GTPI. Queríamos a certeza de que nossos parceiros tivessem acesso a uma variedade mais ampla de informações confiáveis e práticas, para poderem tomar decisões mais informadas sobre como enfrentar esses desafios de maneira sustentável”.

No ano passado, as organizações parceiras desta iniciativa lançaram a cartilha “Recomendações para o setor de turismo continuar enfrentando a poluição plástica durante a recuperação pós-COVID-19”, documento que pode ser usado por todo o setor como um guia para transitar para uma indústria de turismo que tenha a sustentabilidade como essência, combater a poluição plástica e garantir um futuro menos poluente, mais resiliente e economicamente viável.

Informação: Nações Unidas 

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