segunda-feira, 14 de março de 2022

Projeto beneficiará 25 pessoas

SÃO LUÍS – “Vivi 8 anos na rua. Entrei nessa pela curiosidade de conhecer as drogas e a bebida. Durante esse, tempo vivi no Centro Histórico de São Luís, no Mercado Central, no Mercado do Peixe. Me alimentava com as doações que o pessoal trazia à noite. Era uma vida louca, que o morador de rua não tem ciência de nada. Mas isso ficou no passado. Faz seis anos que saí dessa loucura. Falei para minha mãe que eu queria uma nova chance e ela me deu. Voltei a estudar e trabalhar e isso foi um tratamento para mim. A combinação casa, trabalho, escola e igreja foi fundamental. Hoje, estou nesse projeto que vai ser muito bom e gratificante, porque vai me ajudar e aos demais, que estão buscando melhorias de vida. Estamos todos com desejo de ter uma nova vida e fazer uma nova história. Acho que vai ser muito bom e gratificante para todos”, relata Samir Ribeiro Silva, 34 anos, pessoa em superação de rua e aluno do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) que iniciou, nesta segunda-feira, 14, o curso de qualificação profissional em Pedreiro de Alvenaria, no Centro de Educação Profissional e Tecnológica do SENAI (CEPT) Distrito Industrial, no Tibiri.  

O curso é uma parceria com a Defensoria Pública do Estado (DPE/MA), por meio de seu Núcleo de Direitos Humanos (NDH), que promoveu a aula inaugural da segunda edição do projeto “Da rua para uma nova vida: alimentando sonhos, gerando oportunidades”. 

Ao todo, 25 pessoas em superação da situação de rua foram selecionadas pela Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas) e pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD Estadual), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (SES), para participar do curso de Pedreiro de Alvenaria, ministrado pelo SENAI, com duração de 140 horas. A iniciativa visa promover a formação, capacitação e empregabilidade dos alunos, contribuindo, assim, para a alocação desses cidadãos no trabalho formal e uma nova oportunidade de reconstruir suas vidas.  

“O SENAI é a maior e melhor instituição de ensino profissionalizante do país. E aqui no Maranhão também somos uma referência em educação profissional. A Defensoria Pública junto com o Ministério do Trabalho e Emprego nos procuraram para que o SENAI pudesse qualificar essas pessoas em situação de superação de rua. Para que eles pudessem ter uma oportunidade no mercado de trabalho. O SENAI abraçou essa causa e trabalha com primazia, porque não é uma formação só técnica, pois envolve a parte teórica e a parte prática. O SENAI tem esse diferencial no mercado de trabalho e a gente prima muito por essa metodologia de educação profissional”, destacou a gerente do SENAI CEPT Distrito Industrial, Sheherazade Bastos. 

A assistente social da DPE/MA, Guadalupe Barros, externou a sua satisfação de integrar as ações do projeto, que vai ao encontro do papel da Defensoria de ser agente de transformação social. “Muito orgulho de contribuir para a construção de uma sociedade cada vez melhor para todos os maranhenses, em especial àqueles que passam muitas dificuldades nas ruas e merecem uma nova chance”, destacou.  

O coordenador do Serviço Especializado em Situação de Rua da Semcas, José Marques, destacou a importância do projeto. “A Semcas é o órgão gestor do município de São Luís responsável pela execução da política da assistência social para esse público. O papel é fazer essa articulação junto aos órgãos de controle para viabilizar cursos e iniciativas. Muitas pessoas perderam o emprego com a pandemia e foram para a rua. A nosso trabalho é tornar visível aquele cidadão que perdeu a sua cidadania”, destacou Marques.  

Pessoas como o Raimundo Bartolomeu, 64 anos, que passou 20 anos na rua e há dez anos mudou de vida com a ajuda das políticas públicas e já possui sua moradia própria. “Foi uma experiência ruim, sem segurança, é um momento de loucura. O que me levou a morar na rua foi o preconceito, pois fui aprovado em uma empresa em 1º lugar, mas não assumi simplesmente por ser negro. Eu tinha 19 anos e aquilo acabou comigo. Fiquei sem perspectiva, e acabei na bebida, que foi minha parceira por muitos anos. Eu praticamente me isolei do mundo, me entreguei na vida, não era mais um ser humano e nem um cidadão. Morei na sarjeta e me senti discriminado. O que me levou a sair foi a vontade de mudar de vida, por sentir que havia chegado ao meu limite, ao perguntar o que eu queria da minha vida. Procurei ajuda e enfrentei meu vício, fui sorteado e hoje tenho a minha casa, já fiz um curso de culinária e hoje estou aqui no curso de pedreiro e estou superando. Hoje, tenho a oportunidade que não recebi antes”, destacou Bartolomeu.   

Além da Semcas e da SES, a iniciativa do NDH conta com a parceria do MPT-MA, do SENAI, do Movimento Nacional da População de Rua, da REMADD e da Agência Humanitária Mundial da Igreja Adventista. 

Informação: Fiema

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