sábado, 9 de abril de 2022

Os preços globais dos alimentos atingiram “um novo recorde histórico”, de acordo com o índice medido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O anúncio foi feito pelo chefe da agência, QU Dongyu, na sexta-feira (8), que destacou que a alta “atinge os mais pobres com mais força”.

Preços de alimentos básicos, como o trigo, milho e os óleos vegetais, tiveram nova alta devido à guerra entre Rússia e Ucrânia. O aumento se soma aos efeitos de mais de dois anos da pandemia de COVID-19, que continua a impactar negativamente a economia mundial.

O Índice de Preços de Alimentos da FAO teve uma média de 159,3 pontos em março, um aumento de 12,6% em relação a fevereiro, quando já havia atingido seu nível mais alto desde sua criação em 1990.

O Índice acompanha as mudanças mensais nos preços de uma cesta de commodities alimentares comumente negociadas. Os preços do mês passado foram 33,6% mais altos no geral, em relação a março do ano passado.

Impactos da guerra - Impulsionado pelo aumento dos preços do trigo e dos grãos grossos – em grande parte como resultado da guerra na Ucrânia – o Índice de Preços de Cereais da FAO foi 17,1% maior em março do que apenas um mês antes. Nos últimos três anos, a Rússia e a Ucrânia juntas responderam por cerca de 30% e 20% das exportações globais de trigo e milho, respectivamente.

O recém-lançado Resumo de oferta e demanda de cereais da FAO estima que pelo menos 20% das safras de inverno da Ucrânia que foram plantadas podem não ser colhidas.

O documento também aponta para uma produção mundial de cereais de 2.799 milhões de toneladas, ligeiramente acima de 2020, com a produção de arroz atingindo um recorde histórico de 520,3 milhões de toneladas. O uso global de cereais em 2021-22 está projetado para atingir 2.789 milhões de toneladas, incluindo um nível recorde para arroz, com aumentos também esperados para milho e trigo.

Prevê-se que os estoques globais de cereais aumentem 2,4% até o final deste ano, em relação aos níveis iniciais, em grande parte devido aos maiores estoques de trigo e milho na Rússia e na Ucrânia, por conta das menores exportações esperadas.

A FAO reduziu sua previsão para o comércio mundial de cereais na atual campanha de comercialização para 469 milhões de toneladas, marcando uma contração em relação ao nível 2020-21, em grande parte devido à guerra na Ucrânia e com base nas informações atualmente disponíveis.

As expectativas apontam para o aumento das exportações de trigo da União Europeia e da Índia, enquanto Argentina, Índia e Estados Unidos devem embarcar mais milho – compensando parcialmente a perda de exportações da região do Mar Negro.

Óleo e açúcar - O Índice de Preços de Óleos Vegetais da FAO subiu 23,2%, impulsionado pelas cotações mais altas do óleo de semente de girassol, do qual a Ucrânia é o maior exportador mundial.

Os preços do óleo de palma, soja e colza também aumentaram acentuadamente como resultado dos preços mais altos do óleo de semente de girassol e do aumento dos preços do petróleo bruto – com os preços do óleo de soja ainda mais sustentados por preocupações com a redução das exportações sul-americanas.

O Índice de Preços do Açúcar da FAO subiu 6,7% em relação a fevereiro, revertendo quedas recentes para atingir um nível mais de 20% superior ao de março de 2021.

Carne e laticínios - Enquanto isso, o aumento dos preços da carne suína relacionado a um déficit de animais para abate na Europa Ocidental elevou o Índice de Preços da Carne da FAO em 4,8% em março, atingindo um recorde histórico.

Os preços internacionais de aves também se firmaram em sintonia com a redução da oferta dos principais países exportadores após os surtos de gripe aviária.

Em meio a um aumento na demanda de importação para entregas de curto e longo prazo, especialmente dos mercados asiáticos, as cotações de manteiga e leite em pó aumentaram acentuadamente, elevando o Índice de Preços de Lácteos da FAO em 2,6%, tornando-o 23,6% maior do que em março de 2021.

Efeitos em outras emergências humanitárias – Na quinta-feira (8), a ONU já havia chamado atenção para o risco de uma “crise maciça de desnutrição” para milhões de crianças em outras emergências, devido ao enorme impacto da guerra na Ucrânia nos preços globais dos alimentos.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as importações foram interrompidas para o Oriente Médio e Norte da África, onde mais de 90% dos alimentos vêm do exterior.

A agência destacou que a alta de preços em itens essenciais, incluindo trigo, óleo de cozinha e combustível, tem um efeito severo em crianças, especialmente no Egito, Líbano, Líbia, Sudão, Síria e Iêmen.

A diretora regional do UNICEF para o Oriente Médio e Norte da África, Adele Khodr, fez um apelo aos parceiros de ajuda para consolidar os esforços para fornecer e ampliar urgentemente a prevenção, detecção precoce e tratamento da desnutrição para lidar com as necessidades de milhões de crianças e mulheres, especialmente nos países mais afetados por crises. “Isso é fundamental para evitar uma crise massiva de desnutrição para as crianças da região”, destacou.

De acordo com a UNICEF, menos de quatro em cada 10 crianças pequenas no Oriente Médio e Norte da África recebem as dietas de que precisam para crescer e se desenvolver adequadamente.

A região já apresenta altas taxas de desnutrição e deficiências de micronutrientes, o que significa que quase uma em cada cinco crianças é raquítica, e aproximadamente o mesmo número sofre de perda de peso – ou rápida perda de peso – ligada à falta de alimentos.

Por mais alarmantes que sejam esses dados, a situação é ainda pior nos países do Oriente Médio e Norte da África que foram mais impactados pela guerra na Ucrânia, como Iêmen, Sudão, Líbano e Síria.

Informação: Nações Unidas 

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