segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Há aproximadamente 150 anos, uma quilombola chamada Luciana fez morada em imediações do município de Serrano do Maranhão (mapa), há 187 km de São Luís, em área localizada próximo ao litoral noroeste do Maranhão, junto ao município de Cururupu. Hoje, o Quilombo Luciana, com população de cerca de 280 descendentes da quilombola original, vive da extração de babaçu, do óleo, mesocarpo, fubá, peixe, frutas, juçara, buriti, bacaba e outros produtos naturais, conforme relatou Deusilene Rodrigues Ferreira, 43 anos, conhecida como Dona Mirica, uma das lideranças locais.

O extrativismo – que pode ser resumidamente atribuído como a coleta produtos naturais, podendo ser de origem vegetal, animal ou mineral – é a mais antiga atividade humana, antecedendo a agricultura, a pecuária e a indústria. Combinando essa prática ao conhecimento em química, uma nova atividade está em experimentação pelo quilombo, dentro de uma iniciativa da Universidade Federal do Maranhão: a produção de sabonetes artesanais com recursos naturais da região, em que Dona Mirica e mais 13 artesãs participaram, no dia 2 deste mês, de uma oficina promovida em projeto da professora do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BICT) Mikele Cândida Sousa de Sant’Anna, dentro do Edital Iniciativas Mais IDH, da Fapema, em parceria com a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop). A aula foi ministrada pela administradora e artesã convidada Magda Melo dos Santos Souza, da Magnólia Saboaria Artesanal, em laboratório do Câmpus de Pinheiro.

Na ocasião, além dos artefatos e produtos químicos base para a produção de sabonetes, como espátula, moldes, medidores, laurel, essências e corantes, também foram utilizados produtos naturais extraídos pelas próprias quilombolas, como óleos de babaçu e de andiroba. O manejo e o trabalho em equipe empolgaram Dona Mirica, que vê boas perspectivas. “Esta produção de sabonetes artesanais é um trabalho muito produtivo que vai gerar muita renda, somos mulheres guerreiras, agricultoras trabalhadeiras, sabemos que isso será uma fonte de renda valiosa para complementar a fonte de renda das famílias da comunidade”, expressou.

A professora Mikele Cândida, também engenheira química e professora do curso de Engenharia Aeroespacial do BICT, informou que o Edital Mais IDH contempla os dez municípios com menor IDH no Maranhão, em que o projeto dela obteve a aprovação em 2018, com participação de um técnico em agricultura e de lideranças do Quilombo Luciana, sugerido pelo Banco do Nordeste (BNB), cujo contato com o quilombo se deve a um empréstimo feito para a compra de uma fabriqueta para a produção de litros de óleo de babaçu. Segundo a docente, havia justamente a demanda local de desenvolver produtos baseados na matéria-prima gerada pelo maquinário. “A proposta dos biocosméticos é fomentar geração de renda para que possam recuperar a fabriqueta. Então vamos ensinar a produzir sabonete, máscara capilar, sabão líquido, vela difusora, aromatizador de ambiente, hidratante, todos esses produtos feitos com recursos naturais”, acrescentou.

A pandemia, como a professora destacou, foi um fator bastante complicador para a execução das ações, uma vez que todos tiveram que realizar isolamento social. A duração do projeto então foi estendida para até o final deste ano. As iniciativas foram discutidas junto com a própria comunidade para observar sua respectiva aptidão e potencial de produção e, mesmo com a finalização do projeto ao final 2022, a UFMA continuará assessorando o quilombo neste trabalho, confirma a docente. As ações contam com a participação de duas alunas do Câmpus de Pinheiro, e a ideia é que, como ação de marketing, os produtos sejam nomeados com os próprios nomes e/ou apelidos de pessoas do quilombo.

Informação: UFMA 

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