domingo, 29 de janeiro de 2023

Você anda cuidando bem do seu lar? ainda que a gente adore explorar o mundo lá fora, o nosso verdadeiro aconchego mora dentro de casa.


Amor como em Casa

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina foi um jornalista e escritor português que venceu o Prêmio Camões, em 2011. Em sua biografia, ele disse que “tinha poucos brinquedos em casa, mas seus preferidos eram as palavras. Com elas, inventava coisas”.

• O poema acima, “Amor como em Casa”, foi publicado em 1974, e retrata, de forma bem despretensiosa, um amor que é lar.

A gente acorda em casa, toma café, e já sai pra rua. Da porta pra fora, tudo é novidade: a moça sentada no ponto de ônibus, o novo atendente da lanchonete, e os desafios no trabalho.

No entanto, mesmo depois de um dia extremamente produtivo e satisfatório, não há sensação melhor do que chegar em casa.

Com um amor que é aconchego, a ideia é mais ou menos a mesma. Você pode sair pra rua, olhar pro ponto de ônibus, e comer um pão na padaria — mas o abraço que te espera continua sendo muito mais gostoso.

• George Moore dizia que “um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo”.

Ele pode até ter razão, mas se não tiver cuidado da sua moradia, dificilmente encontrará a paz que tanto procura. No final das contas, é preciso muita dedicação para “entrar no amor como em casa”.

Seguir e sentir (Baseado em história real)

Sabe aqueles momentos que você vive e pensa “uau, isso daria um filme da Netflix?” Para o Michel, a sua história seria uma das mais bonitas e emocionantes do canal de streaming.

No primeiro capítulo, aos seus 20 e poucos anos, ele se casou com uma pessoa maravilhosa. Compraram casa, cachorro, tiveram 2 filhos, e experimentaram a sorte de crescer com um amor tranquilo.

No entanto, após 25 anos juntos, a história foi interrompida. Depois de ver sua esposa lutar contra um câncer durante quase uma década, Michel ficou viúvo.

• Nessa perda, foi-se um pouquinho dele também. Usando as palavras de Martha Medeiros, “despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo”. 

Mas… Já antecipando a próxima página, em janeiro de 2021, alguma coisa fez o Michel pular da cama e ir ver o sol nascer. O relógio marcava 5:45, e ele só sabe dizer que se sentiu abraçado.

Em suas palavras, alguma voz disse que ficaria tudo bem. Ele chorou muito, mas não foi um choro de tristeza. Levou com as lágrimas a solidão, e lembrou que a vida ainda merecia ser vivida.

E assim começou um novo capítulo. Dessa vez, a estrela — amiga e companheira — foi a filha do Michel, que já tinha completado 19 anos. Acredite se quiser, mas os dois começaram a frequentar até baladas.

• Ele ainda não estava preparado para se envolver com ninguém, mas emendar 3 festas na companhia da sua filha conseguiu trazer o seu sorriso de volta.

Alguns meses depois… Um amigo do Michel disse que tinha conhecido uma pessoa que era “o número dele”. Ele não deu muita bola, até que viu uma foto daquela tal de Daniela. 

O sorriso chamou atenção, mas o que conquistou mesmo foi o olhar. Era só uma foto, mas sabe aquele olhar de alma?

Ele quase chamou ela pelo chat do LinkedIn, mas sua filha disse que tinha que ser pelo Instagram. Assim, depois de uma direct, eles começaram a conversar — e engataram papo por 3 horas seguidas.

Nos dias seguintes, foram se falando cada vez mais. Descobriram que tinham filhos da mesma idade, gosto musical parecido e adoravam restaurantes.

O Michel nunca pensou que tinha jeito de se apaixonar pela tela do celular, mas ele acordava pensando no “bom dia” da Daniela. E, se isso não era amor, o que mais poderia ser?

A história estava muito boa pra ser verdade, mas estamos omitindo um detalhe: enquanto ele morava em Santa Catarina, ela estava no Chile. Ah, e tinha mais uma coisa: era pandemia, e as fronteiras estavam fechadas.

Mesmo sem perspectiva de se encontrarem, as conversas no WhatsApp viraram chamadas de vídeo. Já compartilhavam fotos da família, e o virtual foi ficando pequeno.

O que fazer agora? Acredite se quiser, mas o Michel foi conhecer a família dela no Brasil. Foi a jantares, almoços, aniversários, e até fez churrasco pra turma toda — com a Daniela participando por vídeo.

Quando o governo finalmente liberou a entrada no Chile, ele fez mais uma loucura: comprou a passagem no mesmo dia. Se alguma coisa desse errado, afogar as mágoas com vinhos chilenos não seria tão ruim assim, né?

Até que vem outra bomba: o Ministério da Saúde do Chile estabeleceu que, ao entrar no país, era preciso ficar 5 dias dentro de casa em quarentena.

Mas Michel estava tão ansioso para matar aquela “saudade do que ainda não viveu” que foi sem medo. E, o que era pra ser intenso demais, acabou se transformando na paz de estar no lugar certo e na hora certa.

Eles se respeitaram, se curtiram, e se beijaram muito. Passaram o Natal juntos, e o pedido de namoro foi só uma confirmação do sentimento que já estava claro desde as longas conversas no WhatsApp.

A Daniela ainda precisa ficar mais 2 anos no Chile, então os dois ficam no vai e volta — um mês aqui, e outro lá. Nesse meio tempo, já curtiram a neve, o deserto do Atacama e até um show do Coldplay com suas filhas.

O Michel está com 47 anos, e ela acabou de completar 49. Há quem diga que trocar alianças nessa altura da vida é desnecessário, mas, em julho do ano passado, ele pediu a Dani em casamento.

Seus filhos dizem que os dois são muito bregas, mas existe coisa mais gostosa do que viver um amor cafona? Hoje, Michel só agradece e fala que essa sorte é fruto da leveza da vida — que eles deixaram seguir e sentir. 

Reprodução: The stories

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