Meia-noite. Fim de um ano, início de outro. Olho o céu: nenhum indício. Olho o céu: o abismo vence o olhar. O mesmo espantoso silêncio da Via-Láctea feito um ectoplasma sobre a minha cabeça nada ali indica que um ano novo começa. E não começa nem no céu nem no chão do planeta: começa no coração. Começa como a esperança de vida melhor que entre os astros não se escuta nem se vê nem pode haver: que isso é coisa de homem esse bicho estelar que sonha (e luta). |
Ferreira Gular nasceu em São Luís do Maranhão, em 1930. Dividiu os anos da infância entre a escola e a vida de rua, jogando bola e pescando no Rio Bacanga. Quando descobriu que teria que tornar-se adulto, escolheu tornar-se poeta. |
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Assim, inventando uma linguagem a cada poema, José Ribamar Ferreira foi também jornalista, biógrafo, crítico de arte e um dos maiores nomes da literatura brasileira do século XX. |
Em sua obra “Ano Novo”, o narrador olha para o céu e não vê nada de diferente. É noite da virada, da mudança e do recomeço. Mas, depois de tantas promessas, por que é que tudo continua igual? |
A gente sabe muito bem que os astros vão continuar do jeito que eles sempre foram, porém, uma coisa é inegável: quando chega meia-noite, até os mais céticos são contaminados pela esperança do Ano Novo. |
Ainda assim, o poeta tem razão ao dizer que, “lá fora”, nada muda. O céu continua o mesmo, mas a ideia genial de cortar o tempo em fatias é capaz de transformar a nossa percepção de ciclos. |
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Talvez você não seja fã de rituais, e já tenha se cansado da mesma conversa todo final de ano. Mas, só talvez, essa esperança industrializada consiga te fazer sonhar — e lutar — por um 2023 melhor. |
Afinal, como bem dito pelo poeta, somos bicho estelar que sonha e luta. Finalizando com Milton Nascimento, não são os astros que nos transformam, mas a “nossa estranha mania de ter fé na vida”. Informação: The News |
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