domingo, 8 de janeiro de 2023

A felicidade alheia te incomoda? se o ciúmes te faz desmerecer as conquistas do outro, talvez esteja na hora de ajustar a visão: amar é querer bem.


O filho de mil homens

"O Crisóstomo explicava que o amor era uma atitude. Uma predisposição natural para se ser a favor de outrem. É isso o amor. Uma predisposição natural para se favorecer alguém. Ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa. Isso dava também para as variações estranhas do amor. O miúdo perguntava se havia quem amasse por crime, por maldade. Alguém amar por maldade, repetia. O pai achava que talvez não. A maldade tinha de ser o contrário de amar."

O escritor português Valter Hugo Mãe cresceu acreditando que jamais chegaria aos 18 anos de idade. Filho único de uma família pobre, ele diz que foi “resistindo” vida afora.

  •  Hoje, com mais de 30 livros publicados, VHM gosta de parafrasear Fernando Pessoa e dizer que “o mundo é de quem nasce para o conquistar e não de quem sonha conquistá-lo”.

Voltando à citação inicial, “O filho de mil homens” é uma das obras mais famosas de Valter Hugo. Com uma linguagem simples e poética, é fácil descrevê-la como uma experiência de amor pela humanidade.

Crisóstomo, um pescador solitário, conhece um garoto órfão, Camilo, e decide inventar uma família. Em seguida, Camilo sugere que ele encontre uma esposa e assim a história vai se desenrolando. 

O foco aqui é menos o enredo, e mais os personagens. Excluídos socialmente por diversos motivos, todos têm uma coisa em comum: a vontade de se pertencer e ser amado.

  • Com uma pequena jornada por caminhos poéticos, a história deixa de ser triste e acaba nos guiando à forma mais genuína de felicidade: ser quem se é.

Isso porque, quando os personagens aceitam suas próprias vidas, eles começam a se reconhecer nos outros. E, nessa identificação, sentem vontade de criar raízes onde existia solidão.

No final das contas, Crisóstomo está certo ao dizer que “amar é uma predisposição natural para ser a favor de outrem”. Muito mais do que uma ideia de sobrevivência, no fundo, só ama quem quer o bem.

Ainda dá tempo

Desde pequena, a Raphaela sempre foi muito ligada na sua mãe. Não apenas aquela relação normal de quem é do nosso sangue, mas uma conexão que parece ir além dessa vida.

  • Quando ela completou 12 anos, seus pais se divorciaram e a ligação entre as duas se intensificou ainda mais. Eram inseparáveis.

Há quem diga que uma família de duas pessoas é muito pequena, mas o brilho delas ocupava tanto espaço que a mesa ficava sempre cheia — e nem precisava de mais ninguém pra completar.

Dona Sandra era mãe, pai e ainda segurava as contas de casa sem nunca tirar o sorriso do rosto. Nas palavras da Rapha, ”crescer com ela era um manual de instrução pra vida”. 

Como a prioridade sempre foi criar a sua filha, até ela completar 18 anos, a Sandra nunca tinha se relacionado com mais ninguém.

  • Inclusive, quando surgiam pretendentes, a Rapha já ia cortando. Afinal, sua mãe “merecia bem mais do que esses marmanjos que existiam por ai".

Porém, como o ciúmes não dita tudo nessa vida, a Sandra passou a namorar os marmanjos sem a benção da sua filha. A Rapha não interferia mais, mas também não fazia questão de conhecer nenhum deles.

Ao completar 25 anos, o bolo de aniversário chegou junto com um balde de água fria: sua mãe iria se casar.

Nessa altura do campeonato, a Rapha sabia que era de se esperar uma atitude mais madura da parte dela, mas o medo de perder a Dona Sandra foi maior — “como é que você vai se casar com alguém que mal conhece?”

  • Além de se negar a tocar em qualquer assunto que envolvesse a troca de alianças, ela foi firme ao dizer que não compareceria ao casamento.

A Raphaela imagina que essa é a hora dos leitores torcerem o nariz, e se perguntarem como ela teve coragem de fazer algo tão egoísta com alguém que só lhe deu amor. 

Entretanto, na época, o seu pensamento ia no sentido contrário: como uma pessoa que viveu em função de amá-la, estaria pensando em ir embora?

É… A ideia mesquinha até que durou, mas foi um riso despretensioso da Sandra que fez a Rapha mudar de ideia. Usando as palavras de Valter Hugo Mãe, ela só desejou que “sua mãe fosse tão propensa ao sorriso quanto o pudesse ser”.

  • Assim, faltando 1 mês para o casamento, ela se reuniu com o cerimonial e decidiu que levaria a sua mãe até o altar — de surpresa.

Quando chegou o grande dia, a Raphaela acordou com uma cartinha da sua mãe embaixo da porta. Seu coração ficou em pedaços, mas ela seguiu com o plano e disse que já estava decidida.

Se preparando para caminhar até o altar sozinha, a Sandra teve uma surpresa: a Raphaela estava lá, pronta pra segurar a sua mão, e mostrar que, finalmente, ela aprendeu o que é amar.

Apesar de ter borrado a maquiagem de todos os convidados, o resto do casamento foi só alegria. Aos trancos e barrancos, a Rapha descobriu que não existe nada mais gostoso do que a felicidade de quem a gente ama.

Finalizando com a passagem bíblica preferida das duas, “o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor”.

Um viva pra vida

Já parou pra pensar quantas pessoas especiais existem na sua vida? Em vez de focar em quem não liga pra você, experimente começar o ano valorizando quem merece o seu amor. 🧸

Informação: The News 

0 comentários:

Postar um comentário