domingo, 12 de fevereiro de 2023
Ainda que a alegria venha do encontro, ela também precisa fazer morada na solidão. afinal, mesmo acompanhados, estamos sempre sozinhos.
Morning Sun
• Profeta do distanciamento social, seus quadros voltaram à tona com textões nas redes sociais no período do coronavírus.
Na obra “Morning Sun”, a mulher retratada é a Josephine, esposa do próprio artista. Os dois se casaram quando ambos já tinham chegado nos 40 anos, e ela foi a musa feminina de todos os seus quadros.
Esquecendo disso, qualquer pessoa pode estar sentada na cama sozinha com seus pensamentos. De manhã ou de madrugada. Não importa a cidade ou a idade. Essa pessoa poderia ser você.
Inclusive, a melancolia de Hopper não era exclusividade de pessoas trancadas no quarto. Com imagens de bares e restaurantes, ele também conseguia retratar a solidão acompanhada.
• Gabriel García Márquez dizia que “o segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão”.
A verdade é que, mesmo acompanhados, estamos sempre sozinhos. Ainda que você tenha um amor ao seu lado na cama, quando ele vai dormir, são só os seus pensamentos que te restam.
Para alguns, isso pode parecer angustiante. Mas, pra quem aprende a gostar da própria companhia, é também libertador.
Contrariando Sartre e citando Valter Hugo Mãe, “o paraíso são os outros”. A nossa alegria está no encontro, porém, sem amor próprio, ele dificilmente será bem sucedido.
Amor revolucionário
(Baseado em uma história real)
• Os dois estavam trabalhando como figurantes em um comercial. Ele pela agência de modelos, ela apenas como convidada de um amigo.
Da primeira vez que cruzaram o olhar, a Isabela lembra de pensar que aquele “rapaz bonito” jamais se interessaria por ela. Mas, pra sua surpresa, eles trocaram sorrisos, e até número de telefone.
Depois disso, conversaram por mensagens, marcaram encontros, tiveram longas conversas olhando para as estrelas, e um beijo de arrepiar a espinha.
Até hoje, ela se pergunta se alguém conseguiria entender a sensação do beijo. Uma combinação de conforto e desejo, misturado com um pressentimento de que aquele toque já era um velho conhecido.
Demoraram para oficializar o namoro. Ela era muito nova, e havia uma diferença de 10 anos entre os dois. Mas, mesmo assim, assumiram o compromisso — e muitas outras coisas também.
• Assumiram encarar a turbulência da vida de ambos, e as marcas que eles já traziam na pele. Assumiram dividir família, gaveta, e até a conta de luz.
Para a Isabela, a sua conexão com o Lucas era difícil de explicar. Como ele tinha um jeito determinado e corajoso de viver a vida, ela se descobriu, nessas aventuras, uma mulher cheia de virtude incríveis.
Porém, além do amor sufocante que sentia, Isabela também teve que suportar o vazio incômodo de não gostar dela mesma enquanto estava ao lado dele.
Era como viver em um lugar apertado, que sempre que ela tentava um movimento diferente do habitual, o seu cotovelo esbarrava em uma parede muito rígida — e o ralado ficava ardendo por semanas.
• Mas, pelo amor, ela tentava se encaixar. Todos os dias, Isabela se diminuía na tentativa de se fazer caber.
Eles se amavam, mas ela não se reconhecia ao lado dele. Como alguém que te desperta sentimentos tão revolucionários, pode, ao mesmo tempo, te fazer odiar a sua própria visão ao encarar o espelho?
A Isabela não sabe responder, mas afirma que o Lucas é uma dessas pessoas que vieram ao mundo com várias missões. E, em uma dessas, acendeu nela uma sensação de arder o peito.
Foram 12 anos juntos. Enfrentaram términos, perdas, adotaram um rato de laboratório, descobriram que a fé move montanhas, e fizeram a empresa do Lucas crescer e faturar.
Viram a primeira sobrinha dele nascer, e a batizaram sob o pôr do sol de setembro. Fortaleceram os laços com os parentes que eram fundamentais, e alcançaram títulos importantes.
Juntos, eles enterraram a mãe do Lucas com o girassol do jardim da avó da Isabela. Chuparam cana embaixo do pé de carambola, fizeram chá de limão com gengibre, e contaram história de terror ao redor da fogueira.
• Por mais de uma década, eles foram família, amigos e amantes, saboreando juntos a delícia de ser íntimo para alguém.
O casamento acabou quase na mesma época que a pandemia teve fim. Talvez eles tenham sido mais um casal refém do COVID, mas a Isabela acredita que não foi exatamente isso que aconteceu.
Há 6 meses, ela está oficialmente divorciada e vive um vazio estranho ao pensar no Lucas diariamente. Às vezes, sente uma vontade agonizante de ligar só pra ouvir a voz dele novamente. Só mais uma vez.
Ela se lembra dele quando sente uma dor chata atravessar o joelho no meio da corrida. Lembra dele quando se olha no espelho, quando se enxerga e quando se escuta.
Hoje, a ferida não sangra mais, mas é como um calo que ainda incomoda de vez em quando. Ela não sabe se essa sensação um dia vai passar, mas afirma que sua lista de tarefas a cumprir na vida se tornou um pouco menor.
Depois dessa história, a Isabela deu “check” em um de seus propósitos de alma, até então recém-descoberto: o de não passar essa trajetória sem viver a transformação revolucionária de um grande amor.
Texto: The stories / Reprodução
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