Em vez de se preocupar em trocar de ambiente, que tal tentar enxergar a beleza do que te cerca? pra quem tem bons olhos, a vida é sempre bonita.
Momento
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Imagem: Pinterest/ Reprodução |
Enquanto eu fiquei alegre, permaneceram um bule azul com um descascado no bico, uma garrafa de pimenta pelo meio, um latido e um céu limpidíssimo com recém-feitas estrelas. Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios, constituindo o mundo pra mim, anteparo para o que foi um acometimento: súbito é bom ter um corpo pra rir e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo alegre do que triste. Melhor é ser.
A escritora Adélia Prado nasceu no interior de Minas Gerais, em 1935. Com uma linguagem doce e simples, seus textos tentam trazer valor e significado para situações cotidianas.
Na obra “O Momento”, a poeta usa imagens simbólicas para representar o correr da vida — e o desgaste do passar dos anos.
Para quem não tem um bom olhar para o mundo, qual a graça de um bule azul descascado no bico? E uma garrafa de pimenta pelo meio, ou qualquer outro objeto que só existe para ocupar espaço?
- Ah, e pra quem já se acostumou com a paisagem de todo dia, um “céu limpidíssimo com recém-feitas estrelas” também pouco tem valor. Aliás, quem é que tem tempo de olhar para o céu?
No campo ou na cidade, com céu estrelado ou selva de pedra, a vida nos presenteia com infinitas possibilidades de enxergarmos poesia em seus detalhes. Mas, com a vista cansada, um bule azul é apenas um bule azul.
Se a referência não ficou clara, talvez seja mais fácil citar Confúcio, que dizia que “tudo tem sua beleza. Mas nem todo mundo consegue enxergá-la”.
É normal, e mais fácil, acreditar que o nosso descontentamento sempre vem de fora. Porém, se a visão não for ajustada, trocar de ambiente só vai mudar o endereço da insatisfação.
Em vez de pensar que você seria mais feliz com uma vista para o mar, tente notar algo de diferente na sua janela. Ainda que existam dias difíceis, a vida é realmente “mais tempo alegre do que triste”.
Amor nunca perdido
(Baseado em uma história Real)
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Imagem: Tumblr / Reprodução |
A ideia de ter uma irmã nunca lhe pareceu ruim. Na verdade, ela era muito nova para entender o que seria dividir o seu espaço com outra pessoa, mas as dificuldades foram surgindo.
- Primeiro foi o quarto, depois as bonecas e, logo em seguida, até o pote de sorvete não dava pra tomar sozinha.
Mesmo crescendo na mesma família, Amanda e Milena eram como a água e o óleo. As duas tinham personalidades completamente diferentes, e não conseguiam se conectar de jeito nenhum.
Os pais faziam o possível para que elas fossem amigas-irmãs, mas a relação das duas se limitava em discutir sobre a louça suja, ou dar “feliz aniversário” e “feliz Natal” nessas datas protocolares.
A Amanda conta que algumas tradições eram mantidas. Todo dezembro, elas montavam a árvore de Natal juntas, e o primeiro pedaço de bolo no aniversário era sempre uma da outra.
- Apesar de não serem amigas, as duas também tinham um senso de proteção muito grande — “ninguém pode falar mal da minha irmã, só eu”.
A Amanda nunca vai esquecer do dia em que a Milena ficou sabendo que ela estava sofrendo bullying na escola. Não falou nada em casa, mas virou uma fera na hora do recreio.
As duas, então, acompanhavam a vida uma da outra como quem assiste um espetáculo da plateia. Apesar de não dividirem o palco, estavam sempre torcendo de longe.
Houve uma ocasião, porém, que a “guerra fria” esquentou. Depois de uma briga feia, a reclamação sobre a louça suja se transformou em um silêncio eterno — que incomodava mais do que qualquer ruído.
- Se calar, às vezes, faz parte. Mas, roubando as palavras de Sófocles, sabemos que “há algo de ameaçador num silêncio muito prologando”.
Vivendo esse incômodo disfarçado de indiferença, a Amanda foi para outra cidade sem nem contar pra Milena. Inclusive, escolheu um dia que a sua irmã não estava em casa para fazer a mudança.
Nesse meio tempo, a Amanda terminou um longo relacionamento de uma forma meio traumática. A Milena ficou sabendo através da sua mãe, mas rezou muito pela irmã.
Quando voltou para visitar a família, a Amanda encontrou a caçula na porta. Depois de 1 ano sem conversarem, não teve pedido de desculpas — só um abraço que mostrou que o perdão já estava no coração.
Logo em seguida, elas se adicionaram nas redes sociais e começaram a conversar pelo WhatsApp. Hoje, já compartilham todas as dores que sofreram separadas, e descobriram que são as melhores companheiras de viagem.
- Quando a Amanda vai receber a Milena em casa, ela prepara os pratos preferidos da irmã, e fica ansiosa pela fofoca infinita.
Só depois de sofrerem com a distância e a solidão, que as duas descobriram que não precisavam ir longe para buscar apoio — bastava mudar o olhar para quem sempre esteve por perto.
Elas continuam como o óleo e a água, mas não julgam mais as escolhas uma da outra. Com a maturidade, aprenderam que ter razão pouco importa. Bom mesmo é ver quem a gente ama feliz.
Texto Reprodução / The Stories
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