domingo, 9 de abril de 2023
A gente chega no mundo sozinho, mas encontramos a felicidade quando nos conectamos uns com os outros. no final das contas, o paraíso é uma companhia boa.

Paraíso

(Imagem: Pinterest / Reprodução)

"O amor constrói. Gostarmos de alguém, mesmo quando estamos parados durante o tempo de dormir, é como fazer prédios ou cozinhar para mesas de mil lugares. Mas amar é um trabalho bom.

O trecho é do livro doce e singelo de Valter Hugo Mãe, chamado “O Paraíso são os outros”. Em menos de 50 páginas, o autor consegue trazer uma das definições mais poéticas sobre o amor.

• Na história, uma menina observa casais. Casais de pessoas e de animais, de homem e mulher, de mulher com mulher, de golfinhos e de pinguins. 

Com seu olhar inocente e pueril, ela se intriga e fascina por esse tal de amor. Ao imaginar a vida dos outros, a menina sonha com a pessoa que um dia irá amar — e toca crianças e adultos com essa esperança.

Para quem vive desiludido da humanidade, a famosa frase de Sartre “o inferno são os outros” deixou de ser só uma reflexão, e passou a ser colocada como a realidade dos tempos atuais.

Assim, nos depararmos com a obra otimista de Valter Hugo Mãe, é como abrigar-se na bondade humana e resgatar a consciência — ou a fé — de que somos melhores quando estamos juntos.

• Quando está refletindo sobre as complicações das relações, a narradora diz que “o amor precisa de ser uma solução, e não um problema”.

Em seguida, ela afirma que todo mundo diz que o amor é um problema. Mas, corrigindo o raciocínio, prefere usar as palavras de outro modo: “o amor é um problema mas a pessoa amada precisa ser uma solução”.

A gente nasce e morre só, mas encontramos a beleza da vida nos conectando uns com os outros. Se Sartre não gostava das pessoas, talvez seja melhor acreditar em Valter Hugo Mãe: o amor constrói.

“I love you”

(Baseado e uma história Real)

(Imagem: VSCO ? Reprodução)

Maisa nasceu em 1994, quando sua mãe tinha apenas 20 anos. O amor já era grande, mas com a falta de experiência e muitas contas pra pagar, as duas tiveram que viver um tempo separadas.

• De descendência japonesa, sua mãe voltou ao país para trabalhar e deixou a pequena com os avós. 

Durante alguns anos, a Maisa viveu nesse “vai e vem” entre o Brasil e o Japão e sabe como esse período foi difícil pra toda a sua família. Morou com sua avó materna e depois com a avó paterna, se comunicando com a mãe por cartas.

Ela morria de saudades e, com o pouco entendimento que tinha, também se sentia abandonada — apesar de ter ciência de que sua mãe estava fazendo o que podia para lhe dar uma vida melhor.

Sabe quando a ausência “embaça” o cotidiano? Usando as palavras de Guimarães Rosa, a gente passa a “não gostar do passarinho. Não gostar de violão. Não gostar de nada que põe saudade na gente”.

Até que, quando ela completou 9 anos, sua mãe retornou ao Brasil e a falta se transformou em uma árdua construção dos laços familiares que ficaram meio bagunçados no tempo.

Elas foram descobrindo coisas em comum, criando programas favoritos e dividindo muitos sorvetes. Alguns momentos ainda eram difíceis, mas, tijolo por tijolo, elas conseguiram levantar a casa.

• Quando a Maisa tinha 14 anos, sua mãe a levou para almoçar em seu restaurante favorito, que tinha um nhoque por R$9,00 — o que dava pra pagar na época.

Depois de rasparem o prato e terminarem o refrigerante, ela contou pra filha que estava namorando. De início, a Maisa não reagiu bem à novidade, mas foi só conhecer o William que tudo mudou.

Ele era muito calmo, e jamais tentou interferir na relação de mãe e filha. Assim, desse jeito meio inesperado, os três foram morar juntos e formaram uma família diferente, imperfeita, mas feliz.

Tudo parecia estar encaminhado e dentro do controle, até que, quando a Maisa completou 18 anos, veio uma bomba: sua mãe estava grávida.

De repente, um medo irracional de ficar sozinha tomou conta dela. Seu sonho era ficar só com a sua mãe, mas onde ela se encaixaria nessa nova família? Aliás, será que ela se encaixaria?

• Durante toda a gestação, a Maisa teve dificuldade de lidar com isso, mas não era ciúmes. No fundo, ela só tinha medo de se sentir abandonada de novo.

No dia 01/03/2013, então, o Guilherme nasceu e trouxe a tranquilidade que a Maisa nem sabia que existia. A partir daquele dia, uma nova certeza chegou: ela jamais estaria sozinha.

Pelo Gui, a Maisa sente um amor que nunca sentiu por ninguém nesse mundo. Pode até parecer clichê, mas ela realmente não se lembra de como era a vida antes dele.

De mansinho, o Guilherme mudou toda a dinâmica da família: fez a Maisa se aproximar ainda mais da sua mãe, admirar o seu padrasto e enxergar o mundo inteiro com um olhar mais doce.

• Ele é curioso, sensível, se preocupa com todo mundo e detesta a ideia de quebrar alguma regra ou decepcionar os professores. 

Metódico, ele disse sem alegorias que a Maisa é a quarta pessoa que ele mais ama no mundo — depois do pai, da mãe e da avó.

No mês passado, ele fez 10 anos e, daqui alguns dias, vai entrar com a Maisa em seu casamento. Quando ela deu a ideia, ele respondeu: "ih Má, acho melhor não porque a mãe vai chorar muito".

Com seus 29 anos, a Maisa só consegue agradecer pela oportunidade de ganhar um irmão-quase-filho quando ela menos esperava, e poder ter o trabalho delicioso de construir um amor tão lindo.

Logo quando ele começou a falar, ela o ensinou a dizer “I love you” para sempre completar com “so much”. Até hoje, todas as vezes que se despedem, repetem esse mesmo cumprimento.

Como agora o Gui já é quase um pré-adolescente, ela sabe que ja já ele cansa da brincadeira. Mas, enquanto estiverem aqui, a Maisa garante que terá sempre um “so much” para o “I love you” do seu irmão.

Fonte: The stories  / Reprodução 

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