domingo, 23 de abril de 2023
Tudo flui

Você consegue aproveitar o presente ou vive fixado no futuro? em vez de temer as mudanças, abrace o inesperado: o melhor está sempre por vir.

Vários rios

(Imagem:VSCO / Reprodução)

Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários.

Heráclito, conhecido como “o obscuro”, foi um pensador e filósofo pré-socrático. Dos fragmentos de seus pensamentos, um dos mais conhecidos é sobre o rio e a sua dinamicidade.
• Na vida, o dia vira noite, as solas dos sapatos se desgastam e as crianças crescem, mas por que resistimos tanto às mudanças?
Na correria da rotina, acreditamos que apenas um grande evento é capaz de mudar o nosso dia a dia. Porém, se pensarmos bem, é nítido que estamos sempre em constante transformação.
A partir desse eterno morrer para nascer, vemos a água do rio de Heráclito passar e junto com ela as nossas ideias, reflexões e pensamentos.
Fazer essa imagem quando estamos em uma situação difícil conforta o nosso coração. Agora, quando tudo está do “jeito que deveria ser”, como aceitar que a mudança continua acontecendo?

Nessa ilusão da permanência, é comum acreditar que só ficaremos bem quando tudo estiver no lugar. Mas, na verdade, a paz só chega quando aceitamos que as coisas mudam — e está tudo bem.
• Ainda que o seu emprego seja o mesmo e o seu casamento dure pra sempre, nenhum deles será igual todos os dias.
Assim, em vez de lutar para que cada pico de emoção dure uma eternidade, que tal torcer para que as fases sejam gostosas enquanto estão acontecendo? 

No final das contas, a vida é um conjunto de momentos. Bons e ruins, tediosos e empolgantes, mas que fazem de cada jornada uma aventura. Abrace o inesperado e lembre-se: mudar é uma delícia.

Outro vinho
(BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL)

(Imagem: Tumblr | Reprodução)

A nossa história começa em meados de 2018, em um domingo despretensioso. O Gustavo estava no auge da farra, e a Victoria tinha acabado de terminar um relacionamento.
• Os dois se cruzaram em um bar de vinhos e, algumas taças de Merlot depois, o Gustavo deu um jeito de conversar com ela.
Como tinham amigos em comum na roda, a aproximação foi mais natural, mas a Victoria não deu tanta brecha.
Ele insistiu para turma inteira emendar o bar em uma balada, mas ela achou aquilo terrível — onde já se viu ir pra festa no domingo? Segunda-feira é dia de levantar cedo”.
O Gustavo até insistiu, mas viu que não aconteceria nada naquele dia. Então, deixou a Victoria em casa e foi pra balada com a turma, sentindo que alguma coisa ali estava diferente.
• Na segunda-feira, ele acordou sem ressaca e com apenas um pensamento: precisava sair com aquela menina do bar.
Tentou várias abordagens diferentes, mas não deu em nada. Puxou papo no WhatsApp, comentou com amigos em comum e mandou até chocolate no endereço dela.
Depois de muita insistência, a Victoria aceitou o convite e o primeiro encontro foi um daqueles raros momentos de comunhão perfeita. Ou, usando as palavras da Clarice Lispector, “estado agudo de felicidade”.
O papo rendeu muito, mas ela deixou claro que tinha acabado de terminar e não queria se envolver com ninguém naquele momento. Para o Gustavo, isso pouco importava: ele só queria ela, do jeito que fosse.

Depois de ouvirem muitas músicas e beberem algumas taças de vinho, o primeiro beijo aconteceu. E aí já marcaram o segundo encontro. E o terceiro. E o quarto. E mais alguns depois.
• Ficaram assim por algum tempo, até que a indecisão da Vic falou mais alto. Com expectativas desalinhadas, eles resolveram seguir caminhos separados.
Nesse meio tempo, o Gustavo voltou para farra e a Victoria voltou para o seu antigo relacionamento. Ficaram praticamente 3 anos sem se ver, apenas trocando uma mensagem ou outra de vez em quando.
Até que, em um outro domingo despretensioso, ele foi parar no mesmo bar de vinhos. O Gustavo não é muito de acreditar em sinais, mas lembra que o seu coração acelerou quando saiu de casa naquele dia.
Chegando lá, encontrou a Vic com uma amiga. Na mesma hora, parou o carro e abriu um sorriso. Ela sorriu de volta.

Sentaram na mesma mesa de três anos atrás, mas, como “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”, bastou uma troca de olhares pra saberem que seria diferente: dessa vez, a correnteza fluiu.
• Sentado no mesmo lugar e bebendo o mesmo Merlot de três anos atrás, ele fez uma loucura: pediu a Vic em namoro naquele mesmo dia.
Na hora, nenhum dos dois levou aquilo a sério, mas a brincadeira completou 2 anos na semana passada. A cada dia que passa, o Gustavo parece mais com a Victoria — e a Victoria parece mais com o Gustavo.
Como bom amante de vinhos, ele gostava de dividir as garrafas por categoria, mas isso não faz mais sentido. Desde que a companhia seja a Victoria, pouco importa se a taça tem Malbec ou Merlot.
Vivendo dois anos dessa história que “era pra ser”, os dois sabem que têm sorte. Desde que estejam juntos, pouco importa a bebida, a comida ou o restaurante: o amor preenche tudo.

Domingo diferente
(Imagem: Ko I-Chen, 1997 / Reprodução)

Em quantos rios diferentes você está entrando? Aproveite a nossa reflexão de domingo, siga as nossas dicas e tenha uma semana especial. ❤️

• E por falar em mudanças… O livro Comer, Rezar e Amar é um daqueles clichês que a gente adora — e é gostoso de ler em todas as fases da vida. 📚

• Para harmonizar o vinho com pipoca, a nossa dica de filme é a comédia Sideways, que vai te fazer rir, chorar e refletir bastante. Disponível no star+.🍿

Fonte: The stories / Reprodução

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