domingo, 7 de maio de 2023

linguagens do amor

Qual a sua forma de demonstrar sentimentos? seja por palavras ou gestos, dar e receber amor é sempre bom.

Ostra feliz não faz pérola

(Imagem: VSCO / Reprodução)
A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: “preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas…” Ostras felizes não fazem pérolas… Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída… Por vezes a dor aparece como aquela coisa que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi.

O trecho faz parte da primeira crônica do livro “Ostra feliz não faz pérola”, de Rubem Alves. Em 11 capítulos, o autor reflete sobre temas como o amor, a beleza, a educação e a religião.
• O início, porém, é sobre a ostra. Sim, aquele pequeno animal frágil que forma uma barreira de proteção através da concha.
A formação da pérola é um processo natural de defesa do próprio bicho, que gera uma substância contra um organismo externo. Assim, não são todas as ostras que produzem pérolas.

No entanto, as que produzem, precisam passar por um processo de dedicação e sofrimento até chegarem lá. 
Segundo Rubem Alves, “isso é verdade para as ostras. E é verdade para o ser humano.” Na vida,muitas vezes, ciclos e decisões difíceis têm a capacidade de produzirem o belo.
Na prática, não é simplesmente o incômodo que causa a revolução. Sentir o desconforto, por si só, não muda nada. O que gera a transformação é a nossa capacidade de reagir para mudar a realidade.

Mas, se você está pensando que precisa insistir no sofrimento, não é muito bem por aí. Como bem diz o próprio autor, “não é preciso que seja uma dor doída… Por vezes a dor aparece como aquela coisa que tem o nome de curiosidade”.

Parafraseando novamente Rubem Alves, “a beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer”.

Bodas de pérola
(BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL)

(Imagem: Tumblr / Reprodução)

No 30º aniversário de casamento dos seus pais, a Victoria já tinha perdido a criatividade para pensar em presentes. Os dois já têm tudo, e o seu pai nem dá muito valor pra coisas materiais.
• Além disso, com os microscópicos problemas do dia a dia tumultuando a rotina, onde será que estava o amor romântico daquele casal?
Pois bem… Ela estava até desiludida, até que leu a história da Dona Helga, que contava sobre os “amores que não são felizes o tempo todo, mas que se desentendem se entendendo”.
Como em um estalo, ela olhou para os seus pais e percebeu que estava diante da verdadeira rotina do amor. Não na paixão de rasgar o peito, mas na escolha diária de tentar ser feliz.
Então, inspirada, resolveu contar a história desde o início, lá em Salvador, onde os dois se conheceram, criaram raízes e se casaram. 
• O Edson é engenheiro, mas gosta de empreender. A Patrícia é economista, e apaixonada pelo mercado financeiro. 
Estava tudo certo para os dois prosperarem perto da praia, até que ele recebeu uma proposta de emprego em Belo Horizonte. Ela aceitou ir com ele, mas tinha que esperar a Victoria nascer — a primeira filha há de ser baiana.
O nascimento teve dia e hora marcada, filmado por um amigo da Patrícia, porque o Edson não aguentou ficar na sala de parto.
Logo em seguida, eles se mudaram pra terra do pão de queijo. Fizeram muitos amigos, criaram novas raízes e continuaram se amando. Do jeito que era só deles. Sempre.
• 5 anos depois da primeira filha, veio a Ana Carolina. E, pra completar o quinteto, 10 anos depois, chegou a “rapa do taxo”, Maria Eduarda.
Para a Victoria, é bonito — e maluco — de ver que, com tantas coisas acontecendo, eles ainda conseguem ser um casal. E, quando diz isso, não é pra ninguém se iludir pensando que é tudo perfeito.
O Edson e a Patrícia não se parecem muito, mas também não são opostos. No início do relacionamento, ela conta que ele tentou ser vegetariano, enquanto ela nunca viveu sem um bom churrasco.
Se cada um tem uma forma de demonstrar seus sentimentos, a linguagem de amor dos dois é quase um experimento social para Gary Chapman. 

Patrícia é espalhafatosa, gosta de palavras de afirmação e sai dos trilhos para presentear as pessoas. Já o Edson, não gosta muito de conversar e nem de receber presentes à toa, mas resolve todos os problemas da família.
• Ainda assim, a Victoria cresceu escutando de todos os seus amigos que os seus pais são um verdadeiro “couple goals”.
Eles fazem uma viagem por ano só os dois — seja pra Tiradentes ou pra Noruega. Priorizam as sextas como casal e, no sábado, saem pra beber com os amigos. Todos os dias, mostram a importância de escolher estar junto.
Uma vez, já mais velha, a Victoria viu os seus pais brigando e chorou por medo deles se separarem. Depois, ela percebeu que um relacionamento é composto por vários tijolos.
Muitos são frágeis, enquanto outros são mais firmes. Alguns até quebram, mas se sustentam pelo conjunto harmônico de qualidades e defeitos — e não deixam a casa cair.
• Neste mês, eles completam 30 anos de casados e 37 anos juntos. Seguindo a simbologia, o marco é denominado bodas de pérola.
A Victoria já ouviu dizer que as pérolas são o resultado do sofrimento das ostras, que, com resiliência, têm de aprender a lidar com o incômodo de um grão de areia dentro delas.
Ela acredita que essa analogia com os relacionamentos longos é muito bonita e certeira. Afinal, construir uma casa firme dá trabalho, mas não há nada mais precioso do que ter a certeza de um abrigo.
Hoje, as filhas do casal querem agradecer pelo exemplo vivo de que o amor funciona. Ainda que o Edson não goste de presentes, a Victoria espera que a homenagem aqueça o coração de quem vive pra dar calor.

The stories / Reprodução

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