quinta-feira, 22 de junho de 2023
Por: Beatrice Borges*

Bom, uma visita aos destroços do Titanic custa, nessa experiência vendida pela OceanGate, a bagatela de 1 milhão de reais em dinheirinho nosso suado por pessoa. Não é para qualquer um não. É necessário ter milhares de milhões para destinar esse valor a uma viagem desconfortável de 8 dias olhando o nada e com pessoas que talvez você nem queira trocar ideias.

Bilionários são o público para esse nicho muito inusitado: o luxo do luxo com grandes riscos e experiências marcantes. O submersível sumido há 6 dias era exatamente isso, aquilo pra só você e mais uns escolhidos de Deus teriam no mundo, mas pelo que aparenta ser, a operação foi um desastre.

De acordo com estudo da ILTM e Wealth-X, apenas 0,3% da população mundial (que concentra patrimônio líquido superior a US$ 1 milhão) é responsável por 36% do total de viagens e por 70% do turismo de luxo no mundo. A estimativa é que os gastos globais com viagens de luxo chegarão a US$ 1,5 trilhão em 2024, o maior de todos os tempos.

Ou seja, muitas ideias parecidas com essa ainda irão surgir ou se ampliarão, como é o caso das viagens para o espaço tão amplamente divulgadas por Richard Branson, Elon Musk e Jeff Bezos, outros bilionários que não veem outros propósitos na vida a não ser “salvar a humanidade com civilização galáctica”.



Esse é um nicho do turismo que talvez nós, estudiosos, observadores e entusiastas não esperávamos. A experiência é uma dimensão super valorizada no turismo e cresceu muito após o período pandêmico, mas no caso dos bilionários, tem se elevado à máxima potência. Não estamos falando de viagens personalizadas, com transfers privativos, refeições com sal dos alpes, carne com ouro ou doces feitos com lava do kilauea. Não, a coisa subiu a um nível de perigo exagerado. Sinto muito informar, mas a chance dos bilionários da OceanGate nem serem encontrados é enorme, embora o mundo esteja noticiando em tempo real as buscas e lamentando o ocorrido.

Agora, você corta para a última imagem e reflete um pouco sobre uma das tragédias humanitárias mais absurdas do mundo moderno que é o drama dos refugiados e busca na memória o tamanho da comoção na mídia e das pessoas que você conhece quando um barco com 750 refugiados, sendo 100 crianças naufragou na Grécia tentando chegar na Itália recentemente.

Lembrou de tamanha comoção? Não, né?

Pois é.

**Beatrice Borges é turismóloga, Consultora em turismo e apaixonada por gastronomia.

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