O poema citado é um dos mais célebres do autor, e carregado de significado desde o seu próprio título: o “pássaro azul” simboliza os sentimentos que precisam ser escondidos. Por ser duro demais com ele mesmo, o eu-lírico não se permite parecer vulnerável aos olhos de ninguém, deixando todas as suas emoções e fragilidades enjauladas no peito. | | Nesse contexto de autocensura, a tristeza só se manifesta durante a noite, quando está todo mundo dormindo. No escuro do seu quarto, ele consegue fazer as pazes com o seu coração. | Mesmo assim, nos últimos versos, volta a erguer a fachada de indiferença, escancarando uma verdade difícil de engolir para os orgulhosos: corajoso mesmo é aquele que consegue se assumir frágil. Uma nova conhecida | (Baseado em uma história real)
O Pablo não costuma chorar. Normalmente, trata os seus sentimentos com certa hostilidade, reprimindo-os o máximo que consegue. | Talvez tenha aprendido com as gerações mais antigas que homem não chora, ou com o conteúdo da televisão brasileira, ou até mesmo com o seu xará, o “Pablo do Arrocha”. | Fato é que, pra ele, o choro deixou de ser natural há muito tempo. Então, todo choro novo é genuíno demais para passar despercebido.
| É claro que ele não está levando em conta os filmes e vídeos emocionantes do YouTube. Devem ter escorrido algumas lágrimas em situações assim, quando ele assistia a algo bonito, triste ou vitorioso. Inclusive, ele adora assistir esses vídeos de conquista e superação. Desde veteranos de guerra retornando para casa e reencontrando seus filhos, até cantores passando em uma audição do The Voice. | O Pablo diz que se comover pelo que vem de fora é uma forma de descarregar suas emoções e se sentir um pouco mais humano. | | Foi a primeira vez que um relacionamento seu terminou de forma consensual e saudável. Obviamente não foi um término feliz, mas os dois se esforçaram para amenizar as cicatrizes deixadas pelo fim. Ainda assim, ele se lembra de voltar da estação de metrô caminhando pra casa e soluçando por mais da metade do caminho. Aquele choro de criança, com o beiço trêmulo e o nariz escorrendo. | O choro da perda é meio descontrolado, difícil de segurar. O de alegria não. Ao menos nas vivências do Pablo, controlar o “choro feliz” sempre foi mais fácil. Porém, dessa vez, ele não conseguiu se conter. | | O Pablo nunca tinha ficado tanto tempo longe deles. Mas, por mais louco que isso pareça, ele disse que a distância foi uma forma de se aproximar de quem enchia o peito de saudade. Quando escreveu esse texto, tinha acabado de buscar no correio uma caixa de papelão bem grande, e pesada também. Origem: sua cidade natal, Poços de Caldas. | A família do Pablo mandou pão caseiro, bolo, bolachas, chocolates, doces de leite, geleia, cervejas, cachaça e uma camiseta. E todos escreveram um bilhete à mão. Veio recado das avós, da tia, do tio, da bisa, da tia-avó e dos pais. | Quando terminou de ler o último bilhete, ele desabou. Chorou como se fosse tristeza, como se não houvesse mais forças para repreender aquele sentimento — e realmente não havia. | | Ele sabe o que é esse sentimento há muito tempo. Consegue compreendê-lo, embora sua relação com ele seja casual, sem profundidade. Daquelas de revisitar só quando a gente precisa, sabe? | Mas, naquele dia, o Pablo sentiu de verdade. Abraçou e acolheu o que havia da emoção dentro dele. Naquele dia, genuinamente, ele conheceu a saudade.
Fonte: The stories / Reprodução |
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