domingo, 27 de agosto de 2023
O Tempo Passa? Não Passa
O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.
São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda a hora.
E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama
escutou o apelo da eternidade.
Esse poema de Carlos Drummond de Andrade — um dos escritores brasileiros mais influentes do século XX — já começa com uma mentira: “O tempo passa? Não passa.”
• Não é preciso de muito conhecimento pra saber que, para o bem ou para o mal, o tempo sempre passa.
Inclusive, é de praxe usar essa máxima como remédio nos momentos ruins. Afinal, pra toda situação que não nos agrada, existe alívio maior do que a certeza de que tudo passa?
Por outro lado, quando a vida parece perfeita, a vontade que dá é de congelar o tempo. Nessas horas, todo esse papo de que “nada é eterno” vai para o buraco, e criamos a ilusão de que dá pra ficar “tudo igual”.
Apesar de Drummond dizer que “o tempo não passa no abismo do coração”, talvez seja melhor focar na penúltima estrofe, que segue a ideia de que “o amor é um nascer toda a hora”.
Já ouviu alguém dizer que o brilho no olhar passa rápido? Para muitos casais, as mudanças do tempo têm o poder dilacerante de desgastar a relação, jogando fora tudo que foi construído.
• Por outro lado, se enxergarmos que “tanto o ontem como o agora são mitos do calendário”, podemos encarar o amor como um sentimento que sempre precisa nascer de novo.
Em vez de pensar que o tempo desgasta tudo, que tal abraçar as mudanças que ele traz como uma forma de começar novamente? Para o bem ou para o mal, as horas passam — mas amar nunca é perda de tempo.
Compreensão, amor e paciência
(Baseado em uma história real)
Olhando pra trás, a Juliana pensa que o tempo passou muito rápido. Ela conheceu o Marcelo há 29 anos, mas guarda as lembranças do começo como um filme que acabou de assistir.
• Ela estava na porta da Igreja Nossa Senhora do Carmo, esperando a missa das 19h, quando viu aquele rapaz alto e bonito.
Seu coração de adolescente logo parou, mas ele estava acompanhado. Nas semanas seguintes, ela continuou vendo ele de longe, mas a tal “namorada” não aparecia mais.
Todo domingo, a Juliana continuava indo à missa para tentar paquerar, mas por ser muito tímida — e se achar um patinho feio na época —, a investida não passava de uma troca de olhares.
Nessa aproximação, bem no estilo “do tempo dos nossos avós”, o rapaz bonito foi retribuindo o olhar e ela acabou descobrindo que, além de frequentar a mesma igreja, os dois moravam no mesmo quarteirão.
• Depois disso, com a ajuda de uma amiga casamenteira, a Juliana foi planejando maneiras de trombar com o Marcelo “ao acaso”.
Em uma dessas esbarradas, a primeira conversa aconteceu. Ela tinha 19 anos e era estudante de arquitetura. Ele já era médico formado, 8 anos mais velho. Será que isso daria certo?
Bom, já tem 29 anos que está dando. Depois do primeiro beijo, foram 4 anos de namoro, 25 anos de casamento e 3 filhos que já estão formados e criados.
Quando conta essa história, a Ju diz que sempre escuta dos jovens que estão no começo da trajetória: “qual a dica para um casamento durar 25 anos?”
• Pensando na sua experiência, ela diz que é importante saber que ninguém é perfeito e que sempre existirão momentos difíceis.
Inclusive, nessas horas, sua dica é valorizar e guardar em um local bem especial os momentos bons. Quando a coisa aperta, são essas lembranças que nos fazem tentar mais uma vez.
Ela também fala que um casal não precisa ser formado por pessoas iguais, mas que se complementam. O Marcelo gosta de Guns, e ela, de Roberto Carlos. Enquanto ele assiste “Tropa de Elite”, ela vê “Cartas pra Julieta”.
A Juliana é muito tagarela, e o Marcelo é de poucas palavras. Ele gosta de Krav Magá, e ela faz pilates. Enquanto ele bebe whisky, ela prefere água de coco.
O Marcelo sempre pensa em “garantir o futuro”, enquanto a Ju acha que também “temos que viver o presente”.
• Mas, juntos, eles adoram assistir F1 e o filme Top Gun. Curtem museus, coca-cola e pipoca. Natal é a data preferida da família, mas eles também amam viajar “só os dois”.
O Marcelo sempre trabalhou 6 dias por semana, com direito a plantão noturno. Hoje, a Ju agradece por tê-lo em casa toda noite, mas ainda admira o médico de “segunda a sábado”.
Se equilibrando para dar o melhor pela família, os dois fizeram de tudo para criar filhos responsáveis e “prontos pra vida”. Mas, claro, sem nunca faltar amor e carinho dentro de casa.
Com muito orgulho e felicidade, a Juliana sabe que tudo isso foi construído porque ela e o Marcelo sempre tiveram um objetivo em comum. Não importaria as curvas no caminho, a vontade deles era mesma.
• Pra quem acha que 25 anos é muito, a Juliana cita Drummond e diz que “o tempo nos aproxima cada vez mais, nos reduz a um só verso e uma rima”.
Com um amor que só fica maior a cada dia, hoje, eles estão comemorando o aniversário de casamento em Budapeste, destino que sempre sonharam em conhecer.
Como leitores assíduos dos nossos e-mails de domingo, esse é o presente da Ju por todos os anos de companheirismo. Daqui pra frente, ela espera que eles sigam assim: lado a lado, com muita compreensão, amor e paciência.
Fonte e Imagens: Thestories / Reprodução
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