quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Ações diretas do Ministério e suas entidades vinculadas visam fortalecer literatura tradicional

Consagrado por sua genialidade artística, o paraibano Ariano Suassuna guarda influências em comum com o escritor e poeta mineiro João Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão Veredas, e com o pernambucano João Cabral de Melo Neto, criador da obra literária Morte e Vida Severina: a literatura de cordel. Em primeiro de agosto é celebrado o Dia do Poeta Cordelista, persona dessa poderosa manifestação artística, reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, desde 2018.

Parte de um movimento constante de reconhecimento e fortalecimento dessas expressões culturais, o Ministério da Cultura prepara uma série de ações relacionadas à temática. São investimentos, editais e eventos em busca da preservação da literatura de cordel.

“A [Fundação] Casa de Rui Barbosa está promovendo, em parceria com a Secretaria de Formação, Livro e Leitura e com a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, o Congresso Brasileiro de Literatura de Cordel. Será o momento de valorização, reconhecimento, debates e reflexões”, adianta o presidente da Fundação, Alexandre Santini.

Geralmente pendurados por cordas, daí uma das possíveis origens de seu nome, os pequenos livros de poesia de cordel ganham uma série de medidas para salvaguarda, realizadas pelo Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI), vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As iniciativas envolvem ações de identificação, reconhecimento, apoio, fomento a bens culturais imateriais de comunidades e grupos de todo país.

Reuniões nas superintendências regionais do Iphan são realizadas frequentemente para elaboração de um Plano de Salvaguarda da literatura de cordel. Quem informa é o diretor do DPI, Deyvesson Gusmão.

"A Literatura de Cordel é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2018. E o principal argumento para esse reconhecimento é o fato de ela estar muito ligada a uma poética nordestina e, portanto, a uma tradição oral na forma de contar as narrativas sobre os lugares no Brasil e no Nordeste. Desde então, viemos pensando em estratégias para elaborar o Plano de Salvaguarda, que deve ser concluído até o final de 2023”, planeja.

Ele explica o Plano ser um conjunto de ações planejadas feitas com vistas à manutenção e à continuidade do bem cultural. “Em geral, essas ações envolvem a participação, tanto do poder público local, quanto do próprio Iphan, mas também, e, principalmente, das comunidades detentoras, portanto, dos próprios cordelistas".

Coordenador-geral de Projetos Especiais da Secretaria de Formação, Livro e Leitura do MinC, o cordelista Crispiniano Neto conta que reuniões semanais debatem o Plano de Salvaguarda e que ações semelhantes são pensadas para o repente. “São dois mundos que se completam, um é escrito, impresso, o outro é improvisado”.

Filho do saudoso e ilustre cordelista Gonçalo Ferreira da Silva, Marlos de Herval Lima da Silva cuida da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), com sede no Rio de Janeiro. A instituição foi fundada em 1988 pelo seu pai, autor de extensa obra e defensor do reconhecimento, valorização e preservação da literatura de cordel. Ele conta que o site da ABLC está passando por uma reformulação. Segundo ele, aliar tecnologia a manifestações tão populares democratiza o acesso ao patrimônio.

“O site precisava de uma atualização. Quando disponibilizamos um acervo de cordéis digitalizados, oferecemos oportunidade a pessoas que jamais conheceriam esse formato de literatura”, celebra Marlos.

A literatura de cordel conquistou seu lugar não apenas no livro de patrimônios culturais brasileiros. Ela ganhou o planeta e foi, inclusive, questão do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), em 2021, recorda Marlos, referindo-se ao cordel de seu pai, Senhor dos Anéis. Confira aqui o cordel completo. “O cordel é reconhecido internacionalmente, temos representações no mundo, França, Suíça. Temos valor”.

O cordelista Crispiniano destaca que ao longo do tempo, o estigma de que o patrimônio foi tratado como “literatura menor” vem sendo superado. “Grandes artistas bebem da literatura de cordel: Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Chico Buarque, Glauber Rocha. Ela é inspiração para outras artes como música, cinema e dramaturgia.”

Características

Uma das características mais marcantes da literatura de cordel, surgida no século 19, é ilustração com xilogravuras, que tem como base arte esculpida em madeira, como um carimbo. A musicalidade vem de rimas métricas.

Informação: Ministério da Cultura 

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