domingo, 15 de outubro de 2023


Naquela mesa ele sentava sempre

E me dizia sempre o que é viver melhor

Naquela mesa ele contava histórias

Que hoje na memória eu guardo e sei de cor

Naquela mesa ele juntava gente

E contava contente o que fez de manhã

E nos seus olhos era tanto brilho

Que mais que seu filho

Eu fiquei seu fã


Eu não sabia que doía tanto

Uma mesa num canto, uma casa e um jardim

Se eu soubesse o quanto dói a vida

Essa dor tão doída não doía assim

Agora resta uma mesa na sala

E hoje ninguém mais fala do seu bandolim


Naquela mesa 'tá faltando ele

E a saudade dele 'tá doendo em mim

Naquela mesa 'tá faltando ele

E a saudade dele tá doendo em mim


A música “Naquela Mesa”, foi composta pelo jornalista Sérgio Bittencourt em homenagem ao seu pai, Jacob do Bandolim, um dos maiores músicos de choro da história do país.

  • Como crítico musical, Sérgio era conhecido pelo estilo polêmico e duro, mas suas palavras ficaram doces ao falar sobre a admiração que tinha pelo seu pai.

Em uma de suas últimas entrevistas antes de morrer, o jornalista declarou: “não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do amor, da loucura, da irrealidade e da lucidez de um gênio”.

Falando de um músico, um médico, um empresário ou um porteiro, o que fica na memória não são os títulos e nem as condecorações, mas as histórias que eram contadas “naquela mesa”.

Ainda que você passe a vida inteira procurando um grande propósito, serão os pequenos detalhes do dia a dia que vão marcar eternamente as pessoas que convivem com você.

  • Seja um café passado na hora, um jogo de buraco na quinta-feira ou um almoço de domingo que reúne a família inteira, tradições são inegociáveis.

Mais importante do que ganhar a admiração de desconhecidos, é saber que quem você ama escreveu que “nos seus olhos era tanto brilho, que mais que seu filho, fiquei seu fã”.


Buraco de quinta-feira

BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL

Já faz uns 5 anos que a quinta-feira da Bárbara é marcada por um programa sagrado: jogar um campeonato de buraco com o seu avô, dr. Francisco, sua esposa, dona Berenice, e a sua grande amiga, dona Maria.

  • Ela também estuda pra concursos e, em 2022, saiu o edital dos seus sonhos: em sua cidade e para o cargo que ela queria.

Se debruçou sobre os livros insanamente por alguns meses. Não parava de estudar nenhum minuto durante a semana, e acabou diminuindo suas idas semanais à casa do seu avô.

Naquela época, a Bárbara só tinha um pensamento: ela poderia se perdoar de não passar na prova, mas jamais se perdoaria por não ter dado o seu máximo nos estudos.

Nesse meio tempo, o seu avô ficou doente e ela não passou no concurso. Hoje, percebe que se perdoaria mil vezes por ter adiado o seu objetivo, mas jamais se perdoaria por não passar o máximo de tempo possível com o seu avô.

  • Mais tarde, saiu outra prova “dos sonhos”, mas ela decidiu ser diferente: continuaria abrindo mão de tudo, menos do seu buraco.

A Bárbara já passou Natais, Réveillons e Carnavais na sala de estudos, mas diz que o seu avô é irrenunciável. Olhando pelo lado positivo da vida, ela se sente sortuda por preferir o “buraco de quinta” às datas comerciais.

Com essa tradição, ela aprendeu a importância de uma vida repleta de desimportâncias. Em suas palavras, “para se atingir a simplicidade há que se aprofundar um tanto”.

Ela se lembra de um dia em que um antigo namorado se ofereceu pra buscar um remédio para o seu avô. Pela primeira vez na vida, o seu Francisco brigou com a Bárbara, dizendo “onde já se viu dar esse tipo de trabalho pros outros”.

  • Na mesma hora, ela pensou no tanto que ele se preocupa com toda a família. Se tem uma coisa que as pessoas dão para o seu avô, é trabalho.

Nesse dia, a Bárbara diz que amou ele mais. Ela amou o seu avô por saber que ele sempre dá infinitamente mais do que pede. Por nunca exigir nada, mas sempre doar tudo.

Voltando pra turma do buraco, em uma conversa hipotética, ela comentou que, caso perdesse alguém que mora em sua casa, certamente se mudaria pra evitar lembranças.

A Berenice — sua avó postiça, que ficou viúva bem jovem e de forma repentina — respondeu, com lágrimas nos olhos, que mudar de casa em nada apaga as memórias.

  • Ela contou que, depois de perder o seu marido, acordou cedo e foi trabalhar. A saudade doía, mas tinha 2 filhos pra sustentar.

Nesse dia, a Bárbara admirou a Bê ainda mais. Para ela, a esposa do seu avô é sinônimo de força e doçura. Mesmo nos momentos mais difíceis, ela sempre está com um sorriso no rosto.

Por fim, a Bárbara queria fazer uma homenagem à dona Maria, viúva do dr. Arnaldo, que era professor de medicina do seu avô. Ela é dessas senhoras que fala tudo que pensa e sempre tem uma história engraçada pra contar.

Pela diferença de mais de 60 anos que existe entre as duas, as pessoas acham engraçado quando a Bárbara diz que ela é sua amiga — mas garante que a dona Maria é das melhores que ela já teve.

Aos leitores do the stories, a Bárbara deseja que sempre tenham tradições e coisas inegociáveis em suas vidas. Usando as palavras da Martha Medeiros, “a felicidade é um sentimento simples”.

Informação: The Stories 

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