domingo, 10 de dezembro de 2023
Amor devagar

No meio de tanta pressa, é bom citar guimarães rosa, que dizia que “alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma”.

Coração selvagem


Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Eu quero um gole de cerveja
No seu copo, no seu colo e nesse bar

Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
Não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja
Arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo
Tenho pressa de viver

Mas quando você me amar
Me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo para ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro ver e saber que eu te amo

Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
Tome um refrigerante, coma um cachorro-quente
Sim, já é outra viagem
E o meu coração selvagem tem essa pressa de viver

Meu bem, mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida:
"Vida, pisa devagar, meu coração, cuidado, é frágil"
Meu coração é como um vidro, como um beijo de novela

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, mais conhecido como Belchior, foi um dos primeiros cantores de MPB do nordeste a fazer sucesso internacional, na década de 1970.

Membro do chamado Pessoal do Ceará — que incluía Fagner, Amelinha e outros nomes —, ele é considerado um dos músicos mais revolucionários da história da MPB.

• Como diz o próprio nome da canção que escolhemos acima, um coração selvagem descreve bem a sede de viver do cantor.

Porém, pra quem confunde selvageria com pressa, ele apresenta outra definição, pedindo pra “quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar”.

A verdade é que a gente adora os amores intensos que chegam arrombando a porta — como a nossa própria edição de semana passada —, mas também sabemos que o que vem devagar tem seu valor.

Usando as palavras de Fernando Sabino,”viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando, sofrendo, avançando e recuando. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência.

Aliás, até pra cultivar o que começou na intensidade, precisamos de tempo para nos apaixonar. Mesmo com o coração selvagem, são nos pequenos instantes de calma que vemos o amor nascer.

Assim, pra curtir cada momento da sua história, vale citar Guimarães Rosa, que dizia que “alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma”.

Álbum da vida
(Baseado em uma história real)


Desde o começo de 2017, a Thais estava focada em realizar um dos seus maiores sonhos: fazer um intercâmbio fora do país.

• Imersa no plano, ela fez as provas da faculdade, mandou seu currículo e acabou conseguindo uma vaga em uma universidade na Espanha.

Pra melhorar ainda mais, quando saiu a notícia, ela descobriu que iria pra mesma cidade que a Débora, uma conhecida que se tornou uma grande companheira de aventura.

Enquanto conversavam sobre o apartamento, o visto e outros “perrengues chiques” da viagem, a Débora organizou uma festa de despedida, e disse que fazia questão da presença da Thais por lá.

Ela não conhecia quase ninguém do evento, mas já chegou enturmando com todo mundo e até cantou uma música sertaneja no microfone — detalhe: ela odeia sertanejo e canta muito mal.

• Seguindo essa onda de “só se vive uma vez”, a Thais foi pegar bebida e acabou conhecendo o Bruno.

Ela não se lembra muito bem do que eles conversaram, mas sabe que se interessou de cara — e ainda fingiu que gostava de chopp só pra ver se o assunto rendia.

O assunto rendeu e acabou em beijo, mas a paquera tinha prazo de validade: em duas semanas, a Thais estaria pegando um avião pra realizar seu grande sonho de viver na Espanha.

Seguindo o script, ela viveu esses 6 meses intensamente, e mal manteve contato com o Bruno — só umas respostas esporádicas no direct do Instagram.

Os dois viveram a vida separados, mas como o destino é arteiro, foi só ela voltar pro Brasil que eles acabaram se trombando em uma “festa estranha com gente esquisita”.

• O Bruno sempre foi mais tímido, e a paquera foi acontecendo devagar, bem do jeito deles.

Há quem diga que amor que é amor começa na intensidade, mas com o Bruno e a Thais foi bem no passo do Mário Quintana, que pedia pra “amar baixinho” porque “a vida é breve, e o amor mais breve ainda”.

Saíram pela primeira vez no comecinho de 2019, e foram aumentando a frequência dos encontros com o tempo. Aos poucos, eles perceberam que “juntos” era o melhor lugar de estar.

Com essa certeza no coração — e uma pressão pela data comercial que estava chegando —, no dia 9 de junho, o Bruno pediu a Thais em namoro.

• Sendo sempre o lado prático da relação, ela respondeu: “aceito, mas só se não tiver que comprar presente porque eu não vou ter tempo de olhar isso.”

Ainda bem que ela seguiu o conselho da sua amiga mais romântica, e comprou pelo menos uma barra de chocolate, porque o Bruno apareceu com uma cesta enorme, buquê de flores e cartinha.

Depois disso, eles começaram a construir um relacionamento com muito carinho, companheirismo e admiração. Mesmo na correria do dia a dia, o Bruno e a Thais cuidam do “tempo de se apaixonar”.

Vivendo essa vida de mãos dadas, a Thais foi ficando mais romântica, e o Bruno mais prático. Todo mundo que conhece os dois comenta o tanto que eles ficaram parecidos.

• No primeiro mês de namoro, ele comprou um álbum de fotos pra ela e colocou na descrição que era “para completar ao longo da história”.

Hoje, além de comemorarem 4 anos e meio de namoro, estão celebrando mais um pequeno grande momento: depois de muitas viagens incríveis, não cabe mais nenhuma foto no álbum.

Pensando nos próximos passos, a Thais espera continuar tendo “tempo de se apaixonar, tempo para ouvir o rádio no carro” e tempo para completar mais infinitos álbuns com a sua história de amor preferida.

Texto e imagens: The Stories  / Reprodução 

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