quarta-feira, 24 de abril de 2024

A maioria das pessoas entrevistadas conhece um parque natural, mas quase um terço nunca visitou. Desinformação, distância e custos são as principais barreiras

Apesar da maioria da população brasileira conhecer algum dos 569 parques naturais no Brasil, cerca de um terço ainda não esteve em um lugar como esse. Os dados são da pesquisa “Parques do Brasil - Percepções da População”, divulgada nesta semana pelo Instituto Semeia. Com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIo) e do Instituto Ekos Brasil, a quarta edição do estudo ouviu 1.539 brasileiros e brasileiras de dez regiões metropolitanas do país, entre julho e agosto de 2023, para entender como percebem, interagem e refletem sobre as condições dos parques naturais e urbanos. 

A pesquisa também perguntou sobre o conhecimento e a vivência em parques urbanos. Apesar de todas as regiões metropolitanas alcançadas pela pesquisa possuírem parques urbanos, 20% das pessoas não mencionaram conhecer nenhum espaço como esse. Para a coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia, Mariana Haddad, “este cenário expressa o desafio de impulsionar a visitação nos parques brasileiros junto à opinião pública, enfrentado por gestores e especialistas dessas áreas”. 

O estudo também revelou que, apesar de estar na lista, o meio ambiente está longe do primeiro lugar no ranking das principais preocupações da população brasileira. Em primeiro, aparecem os crimes e violência contra pessoas (53%), seguido de qualidade da educação e no atendimento à saúde (47%). São aspectos de menor preocupação a proteção ambiental (21%), poluição e mudanças climáticas (18%) e acesso à água limpa e ao saneamento (16%). 

Quando perguntadas sobre temas ambientais de maior interesse, 81% das pessoas entrevistadas responderam “poluição das águas”; 76% “estilo de vida saudável”; e 73% “conservação da fauna e da flora”. Mesmo os temas ambientais menos mencionados tiveram 43% das respostas, indicando interesse do público com a agenda ambiental e oportunidade para mobilizá-lo.   

Conhecimento, motivações e barreiras 

Parques naturais 

A coordenadora-geral de Uso Público e Serviços Ambientais do Instituto Chico Mendes, Carla Guaitanele, ressalta a importância dos dados apresentados pela pesquisa com relação aos parques naturais, tanto para entender motivações e barreiras à visitação quanto para oferecer insumos à construção de políticas públicas ligadas ao tema. 

"Os Parques Nacionais têm apresentado um aumento real de visitas a cada ano, demostrando maior interesse das pessoas em ambientes naturais apesar de ainda aquém do que vislumbramos. A pesquisa Parques do Brasil, realizada pelo Instituto Semeia, colabora com o aprimoramento das políticas públicas de visitação em nossos parques, diagnosticando frentes que devemos dar maior atenção", afirma. 

De uma lista com 16 nomes de parques naturais, os mais lembrados foram Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA), lembrado por 53% das pessoas entrevistadas; Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), por 50%, e Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA), por 48%. 

Segundo Mariana, a lembrança pelos parques na lista pode estar relacionada a diferentes fatores, desde a visitação, em si, quanto a exibição de imagens na mídia. Para ela, “o baixo reconhecimento desses espaços pela sociedade é um dos entraves do turismo em parques e abre espaço para desenvolvê-lo com mais divulgação dos parques e seus benefícios”. 

Referente às visitas realizadas a parques naturais no último ano, o levantamento identificou um aumento (44%) em comparação ao ano anterior (27%), possivelmente devido ao momento pós-pandemia. Ao mesmo tempo, em que a pandemia diminuiu as visitações com as restrições sanitárias e a redução na renda da população, trouxe reflexões relativas à relevância destes espaços para a manutenção da saúde física e mental, assim como a qualidade de vida. 

Quanto às motivações às visitas aos parques naturais, as três primeiras foram o contato direto com a natureza (36%), mostrá-la aos filhos (22%) e indicações de familiares e amigos (21%), seguidas de atrativos e atividades disponíveis nos parques, como esportes de aventura. 

A quem já visitou, o custo de deslocamento (33%), distância (22%), o custo com hospedagens (20%), a falta de informações sobre os parques (13%) e as atividades disponíveis neles (12%) foram apontados como as maiores barreiras. Quem nunca visitou também indicou custos com deslocamento (42%) e com hospedagem (31%), distância (20%) e desinformação (13%) como obstáculos para conhecer os parques. 

Tanto as motivações como as barreiras, na avaliação de Mariana, “apontam oportunidades para que o setor turístico, as organizações ambientais e o Poder Público atuem, de maneira conjunta e complementar, para divulgar nossos parques”. 

Parques urbanos

Acerca das visitas aos parques urbanos, 82% afirmaram já terem feito, sendo 49% no período dos últimos seis meses e 21% até uma vez por mês.  

“Estes espaços têm grande potencial de lazer e recreação em meio à natureza, pois estão em áreas de mais fácil acesso quando comparados aos parques naturais, e são gratuitos”, afirma Mariana. “Vale destacar, ainda, que a visitação amplia a conscientização e o reconhecimento da importância dos parques”, completa.  

As motivações que levaram as pessoas aos parques urbanos foram sair de casa e passear (motivos listados por 48%); descansar e relaxar (para 39% (e contemplar a natureza (para 29%). Atividades sociais e funcionais também atraem visitantes: levar as crianças para brincar (27%), caminhar ou correr (21%), encontrar amigos (18%) e fazer piquenique (16%). Atividades que podem ser praticadas em outros lugares também foram citadas: atividades físicas (10%); passear com pet e namorar (ambos com 8% cada). 

Com relação às barreiras para visitação aos parques urbanos, 30% responderam distância, 21% preferência por ficar em casa, 14% preferência por outro tipo de passeio e 13% custos. Houve, ainda, impeditivos mencionados a respeito da zeladoria: banheiros e instalações ruins, má iluminação, falta de equipamentos de lazer e segurança. 

Mariana também avalia a possibilidade de se ampliar a prática de atividades físicas, culturais e sociais nos parques urbanos e a percepção de valor do local, ao demonstrar o quanto agrega em qualidade. “Para tanto, temos de pensar estratégias para promovê-los. Muitos municípios brasileiros têm diversos deles como referências urbanas e de turismo com potencial para serem mais bem aproveitados”, ressalta. 

Vivências e sentimentos 

As sensações referentes à última experiência em parques, tanto naturais quanto urbanos, foram, na maioria, de liberdade, paz e natureza. Para avaliar esses sentimentos, a pesquisa considerou a média das respostas – e, nesse quesito, vale ressaltar que as experiências podem variar consideravelmente de um local para outro. 

Quanto aos parques naturais, as avaliações dos 12 aspectos sobre zeladoria, serviços aos usuários e educação ambiental variaram entre 63% e 73% nas atribuições de ótimo e bom. Além disso, 66% atribuíram notas 9 ou 10 e recomendariam a experiência a familiares e amigos. 

Sobre parques urbanos, 40% dos visitantes o fizeram no último mês, sendo 56% com visitas que duraram entre 1 e 3 horas. Os sentimentos foram de natureza, paz e liberdade. Zeladoria, serviços aos usuários e educação ambiental foram avaliados como bom e ótimo pela maioria, com notas 9 e 10, e 68% das pessoas entrevistadas recomendariam a visitação. 

Políticas públicas 

Uma parte das pessoas entrevistadas, 40%, concordam que o governo não dispõe de dinheiro suficiente para oferecer adequadamente os serviços que a população precisa, enquanto 75% acham o governo ineficiente na gestão dos seus recursos e 71% concordam que as parcerias do governo com instituições privadas melhoram o atendimento à população.  


Quando se trata dos parques brasileiros, 79% das pessoas entrevistadas concordam que o turismo traz benefícios econômicos e sociais para os parques e seus entornos. Além disso, para 52% o governo tem questões mais prioritárias do que parques para direcionar o dinheiro público. Complementarmente, 58% concordam que o setor público é o mais indicado e eficaz para gerir a conservação da natureza e a educação ambiental nos parques, enquanto 60% concordam que o setor privado é o mais indicado e eficaz para gerir serviços e atrações turísticas nesses espaços. 

A pesquisa também avaliou a favorabilidade da população ao modelo de concessões/parcerias quando aplicado especificamente a parques, tanto naturais quanto urbanos. No caso dos naturais, 49% das pessoas se mostraram a favor, 22% são contra, 18% são indiferentes à adoção ou não desse modelo e 11% não opinaram. Para os parques urbanos, observou-se uma proporção maior de favorabilidade à adoção de concessões/parcerias: com 54% de pessoas se declarando a favor, 15% contra, 21% indiferentes e 10% que não se manifestaram. Para além desses dados, metade dos participantes da pesquisa têm expectativa de que a gestão dos parques, tanto naturais quanto urbanos, iria melhorar ao passar por um processo de concessão/parceria.  

Para a coordenadora de Conhecimento do Semeia, este cenário de certa favorabilidade e expectativas positivas com os modelos de gestão de parcerias entre os setores público e privado lança luz sobre a importância de engajar os diferentes stakeholders ao longo do processo de desenvolvimento desses projetos. Em outras palavras, é primordial garantir a participação e a escuta dos atores interessados nos parques e seus entornos. 

“Esperamos que, com esta captação da percepção da sociedade sobre os parques do Brasil, os diversos agentes envolvidos com a pauta a considerem no planejamento, na implementação e no monitoramento das políticas públicas associadas ao cumprimento da missão dos parques: conservar a biodiversidade brasileira, além de incentivar o contato das pessoas com a natureza, por meio do turismo e da recreação”, conclui Mariana Haddad.  

A pesquisa completa pode ser baixada em www.semeia.org.br.  

Sobre o Instituto Semeia: é uma organização filantrópica, sem fins lucrativos, que trabalha para potencializar o desenvolvimento socioeconômico sustentável de parques e unidades de conservação brasileiras. Desde sua fundação, em 2011, o Semeia apoia governos na concepção e implementação de projetos de parcerias em parques, e promove diálogos entre governos, sociedade, iniciativa privada e entidades do terceiro setor para a viabilização dessas parcerias.  

InformaçãoInstituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

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