Intercambistas do Peru, Angola e República Dominicana vivenciam experiências em territórios quilombolas e conhecem iniciativas de impacto social e educação empreendedora no Maranhão.
O Sebrae Maranhão se tornou, no dia 25, um ponto de encontro de culturas, histórias e ancestralidades, reunindo jovens de diferentes países com fortes raízes afro-latino-americanas em uma experiência marcada pela troca de saberes e pela celebração da diversidade. Os intercambistas do Programa Caminhos Amefricanos, foram recebidos no Multicenter Negócios e Eventos pelo presidente do Sebrae Maranhão, Celso Gonçalo, pela diretora de Administração e Finanças, Edila Neves, e pelo diretor Técnico, Mauro Borralho.
A recepção marcou o início de uma programação pensada para valorizar o protagonismo juvenil e mostrar como o empreendedorismo pode fortalecer identidades, transformar territórios e aproximar diferentes realidades. No Multicenter, os intercambistas participaram de dois painéis voltados ao impacto social e à educação empreendedora. O primeiro, “O empreendedorismo como caminho de impacto social e educacional”, apresentou experiências de estudantes e professores do Projeto Ecolab, da Escola IEMA do Anil, desenvolvidas dentro do Desafio Liga Jovem. Já o segundo, “Empreendedorismo e Identidade: práticas educativas e produtivas nos territórios quilombolas”, trouxe reflexões sobre vivências quilombolas e práticas que conectam cultura, sustentabilidade e geração de oportunidades. Os dois momentos foram conduzidos por especialistas do Sebrae e destacaram iniciativas brasileiras e ações realizadas nas escolas maranhenses.
O Programa Amefricanos é realizado pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR), em parceria com o Ministério da Educação, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), instituições de ensino do Peru, Angola e República Dominicana, além do Sebrae Nacional e da Capes. No Maranhão, o Sebrae Maranhão também atua como parceiro na construção da agenda formativa e das vivências em território.
Vivência em territórios quilombolas
À tarde, os intercambistas seguiram viagem para conhecer duas comunidades tradicionais referência em resistência, espiritualidade, arte e sustentabilidade: o Quilombo Fé em Deus, em Santa Rita, e o Quilombo Oiteiro dos Nogueiras, em Itapecuru-Mirim.
No Quilombo Fé em Deus, foram recebidos pela matriarca Julieta Muniz, guardiã de histórias e tradições que atravessam gerações. Ela apresentou a comunidade e o Barracão Cultural Angoleiros do Quilombo, onde os visitantes tiveram contato direto com expressões da cultura maranhense, como o Tambor de Crioula, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
“A nossa comunidade está muito feliz em receber os irmãos do Peru, de Angola e da República Dominicana. Para nós, é uma alegria imensa abrir as portas do Quilombo Fé em Deus e compartilhar um pouco do nosso modo de viver, das nossas histórias e da arte que nasce deste lugar. Que vocês levem daqui não só o que viram, mas o que sentiram, porque este quilombo vive da memória, da resistência e do afeto”, declarou a matriarca.
Os intercambistas também aproveitaram o momento para vivenciar ritmos como o tambor de Crioula, aprender sobre ancestralidade e compreender como a capoeira, a música e a oralidade funcionam como instrumentos de proteção cultural e fortalecimento comunitário. A intercambista peruana Yolanda Sosa destacou o quanto a experiência foi enriquecedora, “Conhecer de perto como essas comunidades, mesmo diante de tantos desafios, conseguem se organizar, se desenvolver e garantir meios dignos de subsistência é algo inspirador. É muito positivo ver que o Estado reconhece e apoia esse trabalho. Acredito que esse modelo deveria ser replicado em muitos outros países, porque pessoas negras existem em diversos lugares, mas nem sempre contam com a mesma estrutura ou organização que vimos aqui no Brasil. Vivenciar isso de perto é extremamente gratificante”, ressaltou a intercambista.
A imersão continuou no Quilombo Oiteiro dos Nogueiras, comunidade com mais de 200 anos de história. Lá, o grupo foi acolhido por Maria de Jesus Vieira, conhecida como Mãe Diana, que compartilhou saberes sobre o uso de plantas medicinais, a força espiritual do território e tradições como o festejo do terreiro e a Caixa do Divino.
“Aqui no Oiteiro dos Nogueiras, nós aprendemos com a natureza, com as plantas que curam, com os encantados que nos protegem e com o Divino que guia nosso caminho. Tudo o que sabemos vem dos mais velhos e de quem veio antes deles, e é por isso que resistimos ao tempo, guardando nossa fé, nossas tradições e o respeito pela terra. É uma alegria compartilhar esses saberes com nossos visitantes que vieram de tão longe, porque cada visita ajuda a manter viva a história da nossa comunidade”, ressaltou mãe Diana.
Entre encantamento e escuta, os jovens se conectaram profundamente com a força simbólica e educativa do território, reconhecendo como práticas comunitárias podem inspirar políticas públicas e projetos transformadores.
O intercambista angolano Roberto Paulino falou sobre a profundidade do encontro e o impacto das vivências nos territórios visitados. “A experiência de hoje foi muito especial. Tivemos a oportunidade de compreender melhor a enorme diversidade cultural do Brasil e aprofundar temas ligados à espiritualidade e à ancestralidade. Foi emocionante perceber tantos pontos em comum entre o Maranhão e Angola. Voltamos para casa levando aprendizados importantes e memórias muito positivas desta vivência”, relatou.
Ao final do dia, a experiência foi avaliada pelo grupo como um mergulho sensível nas formas de viver, resistir e empreender presentes no Maranhão. A troca de saberes reforçou a importância de iniciativas de cooperação internacional capazes de ampliar horizontes e gerar novas perspectivas sobre diversidade, pertencimento e inovação.
A dominicana Luisa Jiménez resumiu o sentimento coletivo, “foi uma experiência muito agradável e sensível. Pude aprender mais sobre os quilombos, identidade, sua cultura, suas danças e, principalmente, sobre tudo que eles têm construído e preservado ao longo do tempo. É admirável ver como mantêm viva a história e a identidade do povo”, frizou.
A intercambista angolana Marcelina Pedro contou que, visitar os quilombos, a fez sentir uma conexão imediata com seus ancestrais. “Assim que pisei no Quilombo, parecia que havia uma comunicação profunda com os meus ancestrais. A comida me fez sentir em casa, lembrar de Angola, vi o tom da minha pele aqui. Fomos recebidos com muito carinho, de um jeito que aquece o coração. A dança também me tocou profundamente. Senti que, através dela, existe uma forma bonita de interação, onde as pessoas criam laços fortes, expressam alegrias, aliviam tristezas e celebram a vida. Foi tudo perfeito. Muito obrigada”, destacou.
Fortalecendo Parcerias
A professora Kátia Regis, coordenadora de Justiça Social do Ministério da Igualdade Racial, destacou a importância da vivência nos territórios tradicionais e o impacto dessa experiência para o programa. “Estar nos quilombos, conhecer de perto essas histórias e poder compartilhar essa vivência com jovens que vêm de países tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximos de nós, é extremamente significativo para o Caminhos Amefricanos. Vivenciar esta rota quilombola, aqui no Maranhão, nos permite compreender, de forma concreta, o que representa o processo histórico de luta dessas comunidades e sua contribuição para a resistência da população negra no Brasil. Também nos ajuda a entender como essa realidade ecoa nas trajetórias de outros povos que enfrentam exclusão, mas seguem firmes em seus processos de resistência.”
O presidente Celso Gonçalo destacou o compromisso da instituição com ações que ampliam oportunidades e favorecem o diálogo intercultural. “Para nós, do Sebrae Maranhão, receber esses jovens é uma honra e também uma responsabilidade. Acreditamos no poder transformador do empreendedorismo, mas também na importância de construir pontes entre diferentes culturas, territórios e histórias. Iniciativas como o Caminhos Amefricanos aproximam realidades, fortalecem identidades e ampliam horizontes. Quando trocamos saberes, todos crescemos, seja o Sebrae, os intercambistas e as comunidades que visitamos. Que essa experiência marque cada um de nós e gere novas possibilidades de futuro em seus países e aqui no Brasil, no nosso Maranhão”, concluiu.
Informação: Sebrae MA





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