segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A história de luta da comunidade de Piquiá de Baixo, em Açailândia, distante quase 600 km de São Luís, foi contata por representantes da comunidade e por apoiadores da luta ao papa Francisco durante a realização do Sínodo para Amazônia, em Roma. O padre Dário Bossi, atuante junto aos moradores, informou sobre os avanços da resistência e das reivindicações da comunidade, que é vítima da mineração e da siderurgia, no contexto do Programa Grande Carajás, que extrai minério de ferro do coração da Amazônia para exportá-lo, atravessando 900 km entre os estados do Pará e Maranhão, até China, Japão, Europa e Estados Unidos.

Reunião na ONU 

Na próxima terça-feira (15/10), os representantes da ONG Justiça nos Trilhos, Carolina de Moura e Danilo Chammas, participam da sessão da ONU, em Genebra, sobre o tratado vinculante para empresas e direitos humanos na Semana de Mobilização dos Povos. Participa também dessa reunião a convite da rede ecumênica Igrejas e Mineração Flávia Antônia do Nascimento, jovem mãe, de Piquiá de Baixo, para testemunhar o drama e a resistência de sua comunidade por ocasião do Sínodo da Amazônia.


De acordo com o padre Dário, o papa Francisco escutou com muita atenção. “Durante o Sínodo da Amazônia ele dá prioridade à escuta das histórias das comunidades, seus sofrimentos e esperanças. Disse que irá rezar por nossa comunidade e nossa caminhada”, ressaltou.

Ao longo do mês de outubro serão mais de dez atividades entre reuniões, debates, exposições com parlamentares, instituições internacionais apoiadoras da causa de Piquiá em mais de seis países. As temáticas giram.

Um estudo realizado pela Federação Internacional de Direitos Humanos em parceria com a Justiça nos Trilhos e com a Associação Comunitária dos Moradores do Piquiá, e apresentado em maio de 2019, nenhuma das 39 recomendações sugeridas em 2011 as autoridades competentes para melhoria da qualidade de vida da comunidade foi plenamente efetivada.  Em 74,4% das mesmas, não foi identificado nenhum avanço em relação ao que foi recomendado, o que significa que nenhuma das violações de direitos humanos documentadas em 2011 tem sido reparada integralmente. O estudo revelou que, apesar do progresso alcançado no processo de reassentamento de 312 famílias de Piquiá de Baixo (cerca de 1.110 pessoas), com o início das obras em novembro de 2018, a convivência com a poluição e os demais riscos associados segue deteriorando a saúde dos mais de 7.500 moradores de todo Piquiá.

Sobre Piquiá


Há 15 anos Piquiá de Baixo, através da rede Justiça nos Trilhos, denuncia as violações sofridas, luta em busca de reparação integral, exige justiça e responsabilização do Estado e das empresas que sacrificam comunidades, territórios, água e meio ambiente, em função do lucro de poucos. Com o passar dos tempos e sem fiscalização alguma das autoridades, as empresas se instalaram próximas as casas. 

A comunidade de Piquiá de Baixo vem travando uma luta para ser reassentada em local longe da poluição. O processo poderia ter sido mais ágil se não fosse a resistência das empresas em reconhecer sua responsabilidade e em efetivar sua participação na composição dos recursos para o reassentamento. 

A empresa Vale S.A., tristemente conhecida pelos crimes de Mariana e Brumadinho, é o ator principal no contexto deste Programa, que inclui também empresas de siderurgia altamente poluentes, instaladas ao lado da comunidade de mais de mil habitantes, para produzir ferro gusa. A Vale fornece minério e transporta o ferro gusa, que também é exportado.

Sobre o Sínodo para a Amazônia

O Sínodo da Amazônia, encontro de bispos da Igreja Católica que neste ano vai discutir a floresta, começa neste domingo (6) e vai até o dia 27 de outubro, no Vaticano. No encontro serão discutidos temas ambientais, sociais e próprios da Igreja Católica presente nos nove países que compreendem territórios da região amazônica: : Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela e Suriname. Participam bispos, padres e freiras dessa região, além de estudiosos, pessoas ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU) e membros dos escritórios do Vaticano (a Cúria Romana). Como a maior parte da floresta está no Brasil, o sínodo terá muitos participantes brasileiros.

Acompanhe a caminhada da comunidade de Piquiá de Baixo, da rede Justiça nos Trilhos e da rede Igrejas e Mineração através dos seguintes contatos.

Informação: Yndara Vasquez

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