quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
Candidatura será analisada pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco nos próximos dias 10 a 12 de dezembro, durante a 14º reunião realizada em Bogotá, na Colômbia


Um testemunho da grande capacidade de criatividade humana e uma expressão cultural de alta relevância para memória, diversidade cultural e histórica do Brasil. Assim, o Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão já é reconhecido nacionalmente e, agora, essa riqueza popular pode também ser consagrada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A candidatura será analisada pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco nos próximos dias 10 a 12 de dezembro, durante a 14º reunião realizada em Bogotá, na Colômbia. 

O Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, destaca que a análise da Unesco apenas reforça todo o potencial do turismo cultural do país. “Não à toa, fomos eleito pelo Fórum Econômico Mundial como o nono país em atrativos culturais, o que nos faz ter a certeza de que a valorização de nossa identidade cultural será fundamental para levar nosso setor a um novo patamar”, afirma.  Para o secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, o reconhecimento é de extrema importância pois, além de garantir maior promoção do bem no país e no exterior, também vem acompanhado de todo um trabalho de valorização e proteção. “No dossiê construído para a candidatura estão previstas ações de salvaguarda que terão que ser cumpridas para garantir que essa expressão cultural não se perca de sua essência, e continue encantando multidões pelo Brasil”, ressalta.  

Reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil em 2011, o Bumba meu boi realizado no Maranhão é considerado um Complexo Cultural por congregar diversos bens associados em uma manifestação. No campo da expressão popular, por exemplo, apresenta performances dramáticas, musicais e coreográficas, destacando-se ainda a riqueza das tramas e personagens. Já no plano material, podem ser apreciados os artesanatos, como os bordados do couro do boi e das indumentárias de seus personagens, os instrumentos musicais confeccionados artesanalmente, entre outros. “Essa candidatura vai mostrar para o mundo o que os brasileiros já apreciam. Vamos compartilhar com eles toda a magnitude dessa expressão de alta relevância para memória, diversidade cultural e história nacional”, destaca a presidente do Iphan, Kátia Bogéa.

A brincante e presidente do Boi de Maracanã, Maria José Soares, um dos mais tradicionais do Estado maranhense, diz ser uma honra dar continuidade ao trabalho do mestre Humberto de Maracanã, o Guriatã, e que tem na prática uma devoção e um compromisso com São João. Para ela “é um privilégio concorrer a esse título da Unesco que traz o reconhecimento a um trabalho realizado por todos que fazem a celebração acontecer”. Só no grupo que preside são mais de mil envolvidos para manter viva a cultura popular.   

Para contribuir para a continuidade dessa tradição e sustentabilidade da prática, bem como para a melhoria das condições sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência, o Iphan, da Secretaria Especial da Cultura, vinculado ao Ministério do Turismo, tem desenvolvido junto com as comunidades e parceiros diversas ações estratégicas de curto, médio e longo prazo. Dentre as ações do Plano de Salvaguarda estão a identificação, documentação, preservação, promoção, proteção e valorização. Esse plano, inclusive, é uma das exigências da Unesco para aceitar a candidatura de um bem cultural.   

Caso conquiste este título, o Complexo Cultural do Bumba meu Boi será o sexto bem brasileiro a integrar a lista internacional junto com a Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003), o Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife (2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013) e Roda de Capoeira (2014). 

Processo para candidatura

A candidatura a ser avaliada pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial é a último passo de um longo caminho que deve atender a critérios nacionais e internacionais. De início, a comunidade encaminha ao Iphan a proposta de inclusão na lista representativa da Unesco. O bem cultural deve atender aos requisitos de elegibilidade à Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, dispostos na Resolução 1/2009 do Iphan. 

O próximo passo é a avaliação da proposta de candidatura realizada pela Câmara do Patrimônio Imaterial e do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Tendo o aceite, o proponente então elaborará o dossiê de acordo com formulário da Unesco e com a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco de 2003, apresentando neste documento ao Organismo Internacional que o bem preenche requisitos de excepcionalidade cultural.


Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o bumba meu boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal, que mobilizam promessas e marcam algumas datas comemorativas. Os cultos religiosos afro-brasileiros do Maranhão, como o Tambor de Mina e o Terecô, também estão presentes nessa celebração, uma vez que ocorre o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual. 

Muitas vezes definido como um folguedo popular, o bumba meu boi extrapola o aspecto lúdico da brincadeira para fazer sentido como uma grande celebração em cujo centro gravitacional encontram-se o boi, o seu ciclo vital e o universo místico-religioso. Considerado a mais importante manifestação da cultura popular do Estado, tem seu ciclo festivo dividido em quatro etapas: os ensaios, o batismo, as apresentações públicas ou brincadas, e a morte. É vivenciado pelos brincantes ao longo de todo o ano. 

InformaçãoCultura.gov 

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