quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
Iniciativa envolveu familiares, alunos e professores da escola Anna Adelaide Bello, na capital maranhense, encerrando o programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP). Ação trabalha a disseminação da cultura empreendedora, integração e novos horizontes para participantes.


São Luís - Numa imensa vitrine instalada nos corredores da escola Anna Adelaide Bello, mantida pelo Serviço Nacional da Indústria (Sesi) em São Luís, capital do Maranhão, o final do semestre foi diferente do habitual. Nem o calor de quase 40 graus diminuiu o ânimo de alunos, professores, familiares e da comunidade do entorno da escola reunida no local para uma feira de empreendedorismo, realizada recentemente.

Na feira, que marcou o encerramento do ciclo 2019 do projeto Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP) na escola Anna Adelaide Belo, fartas demonstrações da veia empreendedora dos alunos (do ensino fundamental ao ensino médio), numa mostra de produtos variados, confeccionados e comercializados por alunos participantes do projeto, cuja arrecadação parte vai ser compartilhada com o Hospital Aldenora Bello, unidade hospitalar de São Luís especializada no tratamento do câncer.

Em destaque na feira, de artefatos tecnológicos a mini robô; de produtos para decoração do lar, como vasos e almofadas, a roupas expostas em um bazar; de artesanato sustentável a artigos de eco papelaria (blocos, porta-lápis, porta-trecos e canetas); de doces caseiros a brigadeiros gourmet, passando por a lanches alternativos (chips e pão de queijo de batata doce, por exemplo), a comidas inspiradas nos tradicionais fast food (cachorro quente e mini hamburgers) e saladas de frutas; de mudas de ervas medicinais, a temperos e brinquedos confeccionados com materiais recicláveis (pinball, futebol de mesa e foguetes) e até inventos criativos, como um projetor feito a partir de uma caixa de sapatos.

Tudo isso concebido de forma participativa em cada detalhe, com ajuda de professores e pais. Ponto para a inventividade dos alunos elevados à categoria de empreendedores e para as instituições idealizadoras da iniciativa - Sebrae e Sesi. Porém, muito mais do que a concretização de uma meta prevista dentre as ações do JEPP, que em 2019 chegou a 70 municípios do Maranhão, a Feira pode ser traduzida como um espaço de disseminação da cultura empreendedora na escola, de fortalecimento de valores e de liderança e, principalmente, de cidadania.


“Um projeto como esse traz novos horizontes para os estudantes participantes e para a escola como um todo. Em nossa época como alunos, não tínhamos algo assim, que pudesse despertar em cada um a semente do empreendedorismo. E, nos dias de hoje, esse esforço se tornou uma necessidade. Ensinar sobre empreendedorismo desde cedo na sala de aula significa criar oportunidades para os alunos de estudarem com uma perspectiva de um futuro melhor”, analisa o diretor Técnico do Sebrae no Maranhão, Mauro Borralho.

“Começamos com o JEPP em 18 municípios. Agora em 2019, já são 70 localidades do Maranhão que contam com esse projeto em parceria com várias escolas, algo que tem feito a diferença na vida dos alunos, de professores e na integração com a comunidade, mas principalmente como estratégia de disseminação da cultura empreendedora”, completa o diretor.

Resultados Relevantes: ganhos para todos


Muito mais do que isso, as atividades do JEPP têm contribuído para a formação de cidadãos e para o desenvolvimento de um novo olhar e uma nova consciência sobre a realidade onde esses alunos estão inseridos. “Essa iniciativa tem dado aos alunos mais desenvoltura e um nível de consciência maior com relação à realidade local e um outro olhar – mais cuidadoso e até respeitoso – para com a escola, o meio ambiente e o outro, além da oportunidade de aplicar, no dia a dia, as noções de empreendedorismo que eles recebem. Esse projeto extrapola a escola. Os alunos adquirem comportamentos que vão levar para vida, para as suas relações. Há uma mudança visível de consciência. Um exemplo é a questão do lixo, do cuidado com a escola e do respeito aos outros alunos e à diversidade”, avalia Regina Sodré Marreiros, diretora da escola há oito anos.

Ela destaca ganhos também para os professores. “A aplicação desse projeto traz novos desafios para os professores, exigindo que eles desenvolvam habilidades novas e uma visão mais ampla do processo de ensino, da atuação em sala de aula que precisa ser multidisciplinar, da necessidade de diálogo permanente entre as diversas disciplinas da grade”, completa a diretora.

Sinais da Mudança


Emanoel Bezerra é aluno do sexto ano. Tem 11 anos. Um dos mais entusiasmados com a feira, o aluno aprendeu que empreender tem a ver com definir caminhos de vida. Ele, que sonha ser veterinário, cultiva um ideal: um dia, depois de formado, trabalhar como cirurgião em uma “clínica, localizada em uma galeria comercial bem bonita”. No local, além de ganhar dinheiro cuidando dos bichinhos, ele quer reservar um espaço para atender, sem custo, animais de rua, especialmente aqueles que são vítimas de maus tratos.

Na Feira de Empreendedorismo, os alunos do sexto ano, colegas de Emanoel, receberam como missão produzir artigos de eco papelaria – blocos e utensílios para escritórios, como porta-lápis, porta-trecos, confeccionados a partir de recicláveis, como papelão, garrafas pet, caixas de leite e outros tantos descartados no dia a dia.

Emanuel conta que, ao perceber que os colegas iriam vender produtos semelhantes, teve a ideia de fabricar brinquedos e utilitários reciclados, como um pinball, foguete, uma mesinha de futebol e um projetor confeccionado a partir de uma caixa de sapatos. “Eu notei que os produtos eram um pouco repetitivos e que a gente precisava trazer novidades. Todo mundo gosta de novidade, não é? E, se todos vendêssemos os mesmos produtos, não íamos ter o sucesso esperado”, argumentou ele.

Astuto, ele fala de empreendedorismo como se recitasse um mantra, sempre dialogando. “A gente tem que pensar o produto, tem que ver se ele serve para alguém, se vai ter utilidade para o cliente, né? Temos que pensar em como vender, na embalagem e como vamos conquistar os clientes. Se o cliente não gosta, temos que pensar em como melhorar esse produto e por quanto vamos vender. Isso é empreender. É coisa que estou apreendendo no JEPP. Acho muito bonito esse nome, porque fala de primeiros passos, de como se começa um dia e como se pode ter sucesso”, explica ele, cuidadoso.

O aluno conta que sempre foi curioso e inquieto, mas obediente e que com as atividades do JEPP aprendeu a trabalhar em equipe e valorizar a opinião dos colegas. “Quando conversei com meus colegas que a gente devia mudar nossos produtos, eu pensei em mostrar para eles um caminho melhor pra gente lucrar mais e pensei que poderia não ser do meu jeito, que talvez o jeito deles seria melhor, que cada um tem o seu jeito e às vezes as coisas não vão ser do meu jeito. Então, conversei com eles, mostrei minha opinião e ouvi o que eles tinham para me dizer. Na feira, quando vendemos todos os brinquedos muito rápido, fiquei feliz por ver que tinha razão, mas fiquei mais contente porque decidimos juntos e agora vamos poder doar uma parte para quem não tem muito”, conta ele.

Para Samantha Bezerra, mãe de Emanuel, o dia também foi especial. Ver o filho liderando o grupo, ativo nas vendas e empolgado com os resultados, é recompensador. “Sinto-me feliz e gratificada de ver meu filho trabalhando com afinco para fazer dar certo algo que ele ajudou a planejar, que se dedicou tanto. Esse espaço aberto pela escola para eles e para a família é muito importante, gratificante mesmo. Essa movimentação dos estudantes, essa alegria, nos mostram que, quando eles são orientados para o bem, eles fazem o bem, praticam o bem”, explica.

O JEPP


Em 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu a Educação Financeira entre os temas transversais que deverão constar nos currículos de todo o Brasil.

A ideia é que estimular, desde cedo, comportamentos empreendedores nas escolas contribuindo para a criação de jovens e adultos mais capacitados a abrir e conduzir novos negócios, além de pessoas com atitudes que farão a diferença em qualquer área de atuação e na própria vida.

Há várias décadas, dentre as prioridades do Sistema Sebrae, a educação empreendedora objetiva incentivar alunos a buscar o autoconhecimento, novas aprendizagens, além do espírito coletivo e colaborativo, incentivando-os à quebra de paradigmas e ao desenvolvimento de habilidades e dos comportamentos empreendedores, contemplando o ensino fundamental, médio, educação profissional e superior.

O Programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos – JEPP é parte fundamental dessa estratégia, abrangendo a educação fundamental, criado para fomentar a educação e a cultura empreendedora, trabalhando práticas de aprendizagem, valorizando a autonomia do aluno para aprender, além de favorecer o desenvolvimento de atributos e atitudes necessários para a gestão da própria vida.

Durante todo o ano, professores passam por um treinamento do Sebrae, para desenvolver atividades voltadas à simulação de uma miniempresa. E as crianças aprendem os primeiros passos de um empreendedor, por meio da elaboração de um plano de negócios, que engloba pesquisa de mercado, confecção de produtos para a venda e atendimento ao cliente, dentre outros.

o Maranhão, o Projeto Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP) acontece desde 2014, nas turmas do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. O Programa Nacional de Educação Empreendedora, em que o JEPP está inserido, contempla ações de fomento ao empreendedorismo em instituições educacionais desde o Ensino Fundamental à Educação Superior. Hoje, o programa está em 70 municípios do Maranhão, contemplando mais de 150 escolas e 60 mil alunos.

Para Raíssa Amaral, gerente da Unidade de Educação Empreendedora do Sebrae no Maranhão, a ideia do JEPP é fazer com que os alunos trabalhem desde cedo com noções de empreendedorismo, que vão desde a produção à comercialização, estimulando-os assim a trabalhar em equipe, a assumirem os riscos de empreender, a tomarem decisões e a terem um olhar para que possam identificar, ao seu redor, oportunidades, mesmo em situações desafiadoras”. “Em um ano de execução, o JEPP tem feito a diferença na vida de muitas crianças e adolescentes, ajudando a formar cidadãos e semeando dentre eles a ideia de que empreender pode ser um caminho de vida”, afirma.

Informação: Sebrae 

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