quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
Aves são portadoras comuns dessa família de vírus, porém, em novo agente contaminante encontrado na China, a transmissão ocorre entre humanos.

Talha-mar é examinado pelos pesquisadores (Foto: Isaac Simão)

Em dezembro de 2019, uma variação de Coronavírus, COVID-19, atingiu a população de Wuhan, na China e se espalhou por outros trinta países. Aproximadamente, 60 mil casos ocorreram no país, causando 1,3 mil mortes. Os únicos continentes que não registram casos do vírus são a América Latina e a África.

O coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O que foi descoberto na China é um novo agente, como os tipos que causam o SARS e o MERS. O primeiro caso de coronavírus em humanos foi documentado em 1937, porém somente em 1965 o vírus foi caracterizado como coronavírus. A despeito de ser uma família de vírus com altas taxas de mutações e recombinações, apenas cinco coronavírus são conhecidos até o momento. A maioria das pessoas se contamina com tipos comuns ao longo da vida.

No campo veterinário, os coronavírus são monitorados em aves domésticas há muitos anos por conta de seu possível impacto na produção e economia. Em aves silvestres no ambiente natural, esta é uma área relativamente recente. O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave/ICMBio) é uma das instituições que estudam o tema.

Em 2018, o Cemave participou como co-autor da publicação do artigo científico “Divergent coronaviruses detected in wild birds i n Brazil, including a central park in São Paulo”. O estudo apresentou uma análise retrospectiva da presença de coronavírus em aves silvestres no ambiente natural. Ao todo, 746 aves foram amostradas, muitas delas durante expedições de campo realizadas pelo Cemave. A publicação pode ser consultada aqui.

Segundo a analista ambiental do Cemave, Patrícia Serafini, uma das autoras do artigo, o Cemave  trabalha com aves migratórias e suas rotas e é apoiador histórico de pesquisas que visam compreender o transporte de patógenos durante a migração. As aves migratórias do Brasil estudadas, sendo um dos locais do Parque Nacional da Lagoa do Peixe (RS), passam por localidades na América Central, nos Estados Unidos e no Canadá.

A pesquisa detectou coronavírus em aves como o talha-mar (Rynchopus niger) e em aves migratórias neárticas, como são chamadas as espécies que se reproduzem na América do Norte, e passam o período não reprodutivo nos trópicos. O estudo encontrou a circulação de coronavírus tanto em aves migratórias quanto em aves residentes em distintas regiões do país.

CHANCE DE CONTAMINAÇÃO É REMOTA

Apesar de aves serem hospedeiros relativamente comuns do coronavírus, a chance de que o COVID-19 chegue ao país por meio delas é muito remota. Ainda não foram notificadas às autoridades da Organização Internacional de Epizootias (OIE) quaisquer mortalidades em massa de aves migratórias ou de outros tipos causados por este novo vírus. Pelos padrões observados, o vírus está se espalhando pelo contato entre humanos.

Serafini também esclarece que mesmo no caso de aves migratórias portarem o novo vírus, as chances de contaminação são mínimas se os criadouros observam as medidas de biossegurança na produção avícola. De acordo com ela, o SARS e COVID-19 fazem parte de um subgrupo de vírus conhecido como betacoronavírus. Extensivas investigações em campo após o surto de SARS em 2002-03 encontraram esses vírus apenas em mamíferos. Há grande probabilidade deste COVID-19 ser também um vírus de mamíferos, contudo, mais investigações em campo e testes laboratoriais são necessários para esta comprovação.

Informações e fotos: IcmBIO

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