quarta-feira, 4 de março de 2020
Também conhecidos como peixes anuais, estes animais estão ameaçados de extinção


Com algumas gotas de chuva, um milagre acontece. Da terra, eclodem ovos que aparecem em poças recém-alagadas. Como eles foram parar ali, se até há pouco não havia qualquer conexão dessas pequenas poças com outros cursos d’água? O misterioso nascimento dos peixes rivulídeos lhe garantiu o mítico nome de peixes-das-nuvens. É como se eles tivessem literalmente caído do céu junto com as chuvas.

Apesar de parecer uma lenda, eles existem de verdade. Seu nome oficial é rivulídeo, por pertencer à família Rivulidae (nas Américas) e Nothobranchiidae (na África). Eles vivem em ambientes aquáticos temporários que podem ser poças, lagos, lagoas, alagados, brejos e áreas marginais de riachos que se formam pela água empoçada durante as épocas chuvosas. O ciclo de reprodução é realmente bem veloz. A água da chuva empoçada faz eclodirem os ovos fertilizados no substrato (cascalho, argila, areia e lama). Dentro de aproximadamente um mês, os animais, já adultos, estão aptos para um novo ciclo de reprodução. Eles vivem por, no máximo, nove meses, mas não sobrevivem para verem seus filhos. Quando recomeçam as chuvas, o ambiente volta a alagar e os ovos eclodem formando nova população com as larvas então em forma de peixinhos, daí originando outro nome popular: peixes anuais. Os machos exibem cores extravagantes e as fêmeas comumente têm pontos ou listras negras no corpo. São divididos em dois grupos: anuais, que vivem em áreas alagadas temporárias, e não anuais, que vivem em áreas alagadas permanentes, sendo que estes possuem ciclo de reprodução comum.

Os rivulídeos fazem parte de uma das quatro famílias mais diversificadas dentre as 40 famílias de peixes de água doce do País. Existem 350 espécies de peixes rivulídeos distribuídas em seis biomas brasileiros: Pampas, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Amazônia.

Embora presentes em todos os biomas do Brasil, os rivulídeos estão ameaçados de extinção, mas cada espécie é restrita a uma pequena área de distribuição – às vezes, de poucos metros quadrados. A perda do local onde os peixes anuais vivem é a principal ameaça à sobrevivência desses animais. Isso se dá, especialmente, pela ocorrência de atividades agrosilvopastoris, pela implantação de empreendimentos (rodovias, portos, parques eólicos etc.) e pela urbanização.

PAN

O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Aquática Continental (Cepta) é o responsável por coordenar o Plano de Ação Nacional (PAN) para esses peixes. Em colaboração com outros pesquisadores, o Cepta conseguiu identificar seis espécies da bacia do São Francisco, utilizando análises de DNA, uma delas com grau de ameaça classificada como Criticamente em Perigo. Existe a possibilidade de descobrir espécies ainda desconhecidas pela Ciência, mas como são muito frágeis, podem desaparecer antes mesmo de serem descritas.

O nome próprio (descrição formal) de uma espécie garante que seu real estado de conservação seja avaliado e as ações de conservação sejam bem direcionadas. Com os estudos, os pesquisadores encontraram informações indicativas de espécies adicionais àquelas já descritas por que apresentaram grande diferença no DNA dentro de um mesmo nome. Esses dados alertam que é possível que espécies ainda não formalmente conhecidas ocorram ao longo da bacia do São Francisco e necessitem de proteção legal. A criação de UCs, como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural, também pode auxiliar na conservação destes e outros animais ameaçados de extinção. Elas podem assegurar proteção para um conjunto de áreas úmidas onde há ocorrência de rivulídeos.

O último PAN foi finalizado em 2018, com a avaliação de 42 ações e 4 objetivos específicos, com avanços no conhecimento desses peixes, tanto por parte da comunidade científica, quanto por parte dos órgãos licenciadores e fiscalizadores. Atualmente, na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas, há 125 espécies de rivulídeos ameaçadas de extinção. O caminho ainda é longo para salvar os rivulídeos da extinção. Percebendo essa necessidade, o ICMBio se prepara para o segundo ciclo do PAN, previsto para começar em 2020. Ele já foi elaborado, está sendo revisado e logo será publicado. A ideia para essa segunda etapa é estreitar ainda mais as relações junto aos governos estaduais para implementar as ações planejadas.

Informação: ICMBio 

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