quarta-feira, 20 de maio de 2020

O mundo consome muito arroz. Mais de 3,5 bilhões de pessoas têm esse cereal como parte essencial de sua dieta, o que o torna fundamental para a segurança alimentar global e vital para metade da população mundial. Das 820 milhões de pessoas que passam fome atualmente, quase 60% vivem em áreas onde o consumo desse alimento representa mais de 40% de sua dieta anual de cereais. Paradoxalmente, as pessoas que o cultivam são geralmente as que não possuem segurança alimentar. Para mais de 100 milhões de pequenos produtores de arroz, é esse alimento que os tira da fome.

Antes da COVID-19, a grande indústria do arroz já estava enfrentando os impactos das mudanças climáticas. Agora, a pandemia está devastando todo o setor, ameaçando ainda mais vidas e meios de subsistência.

A produção de arroz, os preços e o comércio internacional foram afetados pela pandemia, assim como pelas secas generalizadas. As compras com urgência levaram os países exportadores a impor limites ou proibições às exportações. Ao mesmo tempo, os limites máximos de valor impostos por alguns países levaram à redução do volume de importação. Esses fatores, juntamente com as pausas logísticas causadas pelos lockdowns em diversos países, colocaram em risco mais da metade do suprimento global de arroz, originário especialmente de cinco países-chave. Além disso, os aumentos nos preços estão prejudicando as famílias mais pobres, para as quais o arroz é um alimento básico e responsável pelo uso de quase metade de seus gastos mensais.

Os lockdowns também dificultam a obtenção de insumos essenciais, como sementes, fertilizantes e mão de obra. As plantações já estão em risco devido à falta de mãos de obra nas quarentenas, que obrigaram os trabalhadores migrantes a ficarem em casa. As oportunidades perdidas de plantio e colheita devastarão a produtividade.

Outro fator que também pode ameaçar a produtividade são os idosos, que são mais suscetíveis à COVID-19, principalmente considerando o aumento na média da idade dos produtores de arroz atualmente.

A COVID-19 chegou em um momento em que os impactos das mudanças climáticas já comprometiam a segurança de água e alimentos. O sudeste asiático, que fornece 50% das exportações mundiais de arroz, está passando pela pior seca em 40 anos.

Segundo o diretor-executivo da Plataforma Sustentável de Arroz (Sustainable Rice Platform, em inglês), Wyn Ellis, as adversidades no comércio de arroz desencadeadas pela COVID-19 são uma prévia do que as mudanças climáticas podem causar. “Em vez de uma ameaça temporária para os agricultores e as cadeias alimentares, os impactos das mudanças climáticas serão duradouros, provavelmente passando por gerações. Essa pandemia mostra como as consequências da falta de ação podem ser devastadoras e como as mudanças climáticas podem intensificar as crises existentes”.

As mudanças climáticas agravarão as vulnerabilidades dos sistemas alimentares e da saúde humana. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) está trabalhando em estreita colaboração com seus parceiros, especialmente por meio da Plataforma Sustentável de Arroz, para fortalecer a capacidade e a resiliência dos pequenos produtores aos choques atuais e futuros.

A Plataforma, iniciada pelo PNUMA e pelo Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz em 2011, é uma aliança de várias organizações, composta por mais de 100 membros institucionais, cuja secretaria está no Escritório Regional do PNUMA para a Ásia e o Pacífico, em Bangcoc. A Plataforma visa transformar o setor global de arroz, promovendo a eficiência de recursos e as boas práticas para o clima entre os produtores e as cadeias de valores. Com ela, estão sendo desenvolvidos padrões de produção sustentável, indicadores, incentivos e divulgação para impulsionar a adoção em larga escala das melhores práticas sustentáveis ​​na produção de arroz, bem como para reduzir as emissões de gases de eeito estufa nas fazendas.

Os membros da Plataforma também estão ajudando ativamente na resposta à COVID-19. Alguns estão alterando as cadeias de suprimento para fornecer equipamentos de proteção individual e sabonetes para os agricultores. A resposta à crise também está proporcionando lições valiosas sobre como lidar com os impactos das mudanças climáticas na produção de arroz. Por exemplo, os agricultores, especialmente as mulheres, têm liderado iniciativas contra a COVID-19, valorizando as práticas de higiene e o compartilhamento de conhecimentos.

Informação: Nações Unidas 

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