sexta-feira, 5 de junho de 2020
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*Zildenice S. Barros*

Que tal fazermos uma viagem a São Luís do Maranhão e ressignificarmos esse momento de pandemia em comparação às nossas histórias! Mas, o convite não é para uma viagem tradicional,  aquela que pegamos um transporte e seguimos, mas sim para uma viagem no tempo e conhecer um pouco mais das histórias dessa linda ilha, cheia de mistérios, cultura, magia e lendas... muitas lendas!

Lembro-me, quando criança, minha mãe falava: “Não vai pra rua, olha a carruagem de Ana Jansen!”. Hoje, alerto o meu filho: “Não pode sair. Cuidado com o Corona Vírus!”. Penso: “Nossa! Como queria que fosse só mais uma lenda”. A carruagem de Ana Jansen, tão temida por crianças, não passou de uma lenda no século XIX. Um comerciante, chamado Meireles, com o intuito de contrabandear mercadorias nas noites que atracavam embarcações vindo da Europa, inventou à população que não saísse de casa nas noites de quinta para sexta porque poderiam encontrar Don’Ana atrás de escravos fujões. E quando a temida Sinhá Ana Jansen morre, em 1869, ela virou lenda que, até hoje, o povo mais antigo acredita na carruagem que passa nas madrugadas de quinta para sexta puxada por cavalos decapitados e cocheiro sem cabeça, e quem for encontrado na rua receberá uma vela que se transformará em osso de defunto. 

A partir desta lenda, originou-se uma mais nova, no largo dos amores ou praça Gonçalves dias, que é a lenda da Manguda - uma mulher de branco com a cabeça iluminada, com o mesmo objetivo de amedrontar a população para comerciantes fazerem seus contrabandos.

Em contra-partida, as histórias inventadas ou imaginadas acabavam sendo descobertas do porquê, não diferente das Fake News, que percorrem pelas nossas redes sociais. Há quem diga que, mesmo sendo história curiosa, de fato algumas coisas aconteceram e até milagres surgiram, como diz na lenda de Guaxenduba, onde no momento da batalha os soldados portugueses viram a imagem de uma mulher que transformou a areia em pólvora e as pedras em balas de canhão, dando a vitória portuguesa contra os franceses expulsando-os de São Luis. Essa mulher recebe nome de Nossa senhora da Vitória, se tornando a padroeira da cidade e ganha uma belíssima catedral no centro histórico em sua homenagem: a igreja da Sé.

Hoje, com tantas perdas e lágrimas devido à pandemia, não podemos esquecer que um dia surgiu na ilha a triste história num prédio bem no foco central da cidade, onde um membro de família nobre foi enforcado por matar seu tio e na hora da morte falou: “Palácio que vistes as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos, daqui por diante serás conhecido como palácio das lágrimas”. Desse modo, este imponente palácio ganha esse nome e nada que se faz nele vai pra frente. Contam que, até hoje, se escutam vozes e temores nas noites do palácio. E ainda falando em lágrimas, quem de nós não tem alguém longe por causa do distanciamento social e que já chorou mais que a índia filha de Itaporama, que de tanto chorar à beira do mar, por perder seu amado para uma sereia encantada, formou olhos de água e originou o nome de mais uma das belíssimas praias da nossa ilha encantada: Olho D’Água. 

Movidos entre o medo e esperança, o povo maranhense não desiste de viver e teme o despertar da serpente encantada. Na cidade tem fontes, igrejas e diversos pontos turísticos, onde mora uma serpente na parte subterrânea do centro histórico. Se ao acaso surja algum terremoto, outro pensamento não virá à mente se não a serpente a se mover. Como muitos sabem, a serpente está com a cabeça na fonte do ribeirão, o corpo passando na igreja do Carmo e a calda na igreja de São Pantaleão e no dia que a serpente acordar, ela abraçará a ilha e todos nós iremos afundar. Essa e várias outras lendas são contadas por diversos autores, como o jornalista e escritor Wilsom Marques, que narra com bastante riqueza de detalhes nos livros que escreveu sobre as lendas de São Luís do Maranhão.

Contudo, vamos esquecer um pouco do terror e lembrar-nos do drama que viveu Catirina e Pai Francisco, que começa a história do Bumba meu boi aqui no Maranhão. Quando essa história chega à cidade, ela foi trazida pelo conto da península Ibérica - Assim fala o querido professor Tácito Borralho, quando narra a história da grávida que desejou comer a língua do boi e o seu marido mata-o para tirar a língua e realizar o desejo da mulher. O fazendeiro, triste por perder seu novilho predileto, manda matar pai Francisco, mas ele foge com Catirina. Os médicos não conseguiram trazer o boi de volta, porém os índios fizeram um ritual de pajelança e ressuscitaram o boi. Então, pai Francisco volta para a fazenda com Catirina e são perdoados, participando de uma grande festa de ressurreição do boi.

Assim vivemos dia após dia, com as crendices populares, o imaginário e a realidade.  É bacana ver que na ilha encantada de São Luís temos várias lendas que um dia também amedrontou a população. Para nós maranhenses, no final de cada história fazemos uma grade festa. Não vemos a hora de tudo isso passar, dançar em nossos festejos relembrando das lendas, passeando no centro e contando essas e outras histórias, que são muitas!

Confira alguns vídeos virtual da história da Capital de São Luís youtube da Setur/MA:

Praça Benedito Leite: https://youtu.be/KKAg1oGAe0Y

Rua da Estrela: https://youtu.be/PvWQd9JD37k

Largo da Sé: https://youtu.be/ZQLPfhOIhcQ

Confira mais vídeos AQUI

Texto: Sindegtur/MA

4 comentários:

  1. Belíssimo texto Zildenice, muito revigorante deixar a mente viajar nas lendas da nossa bela Cidade de São Luís

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  2. Muito obrigada. É uma honra falar das lendas e trazer para o cenário atual. Nós, guias de turismo, estamos sempre a disposição para essas e outras histórias.

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  3. Que texto lindo... Fui longe nas lembranças do passado... Tbem ouvimuito quando criança sobre a carruagem da Ana Jansen rsss.

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  4. Muito detalhe interessante, será de grande ajuda nas salas de aula. Parabéns a guia Zildenice Barros.

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