segunda-feira, 13 de julho de 2020
Por Antonio Noberto,
*Turismólogo e membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL
Commodities são mercadorias Habitualmente substâncias extraídas da terra que, via de regra, possuem preço universal, sendo exemplos o petróleo, o ouro, minério de ferro, alumínio, arroz, cobre, trigo, algodão, eletricidade, gás, etc.
Em geral são matérias primas e produtos agrícolas. O termo designa o que é comum, uma mercadoria comum, o que exclui, por exemplo, uma Ferrari. Nosso país, historicamente, é um grande produtor e exportador de commodities, e isto fica muito patente quando os telejornais mostram imensas filas de carretas, caminhões e containeres estacionados na chegada dos principais portos brasileiros, isso revela, além da falta de infraestrutura, nossa dedicação secular à produção e exportação de commodities.
Idem para as aglomerações de navios estrangeiros à espera dos carregamentos de petróleo, soja, laranja, minério de ferro e outros produtos. Apesar da grande e animadora produção nacional, que a cada ano se supera, outra realidade nos faz acreditar que nenhuma mercadoria citada ocupa o primeiro lugar como maior commodity. A que tem mais valor, a número um, é a mola mestra do país e ajuda a movimentar, além da economia, as ações, a alma, a mente do brasileiro.
Entre os séculos XV e XVII o Brasil foi disputado por diversas bandeiras. Portugueses, franceses, ingleses, holandeses, espanhóis, dentre outros, buscavam se assenhorear do território com tal veemência que um importante historiador chegou a dizer que “até 1530 não se sabia se o Brasil seria colonizado por portugueses ou franceses”, tal a constância destes naTerra papagalis. A preponderância lusa, tutelada pelos espanhóis durante a União Ibérica (1580 a 1640), no entanto, legou as bases do nosso país. Uma delas foi a “escolha” do modelo estatal e repressor, com o poder
centralizado quase que exclusivamente nas mãos do capitão-mor (governador).
Foi esse paradigma que nos estimulou o interesse exacerbado, a todo custo, pela conquista e manutenção do poder. Fez com que o brasileiro se apegasse avidamente aos galhos do poder constituído e, por outro lado, se tornasse receoso às idéias e propostas alternativas. Para grande parte dos nacionais o poder estatal é sedutor, sinônimo de privilégio, sinecuras e vantagens de todo o gênero, o maior prêmio a ser alcançado. Isto porque nos idos coloniais o caminho foi alargado com a dizimação do gentio, a escravização do africano e a onipresente inquisição, que contribuiu para semear o medo nos espíritos e sugar a última gota de auto-estima.
Reinando absoluto, o privilégio branco alcançou proporções gigantes e, com ele, as injustiças sociais, corrupção, violência e quase todos os absurdos que vemos no dia a dia. Tal estado de coisas também incentiva o desinteresse pelo que é mais importante, como o estudo, e isto justifica em parte nosso baixo desempenho na educação e o conseqüente e curioso fato de ainda não termos um único Prêmio Nobel. Nossos hermanos argentinos nos ganham de cinco a zero. Eles tem cinco Nobel. Até os portugueses, que geralmente fazemos piadas deles – e damos belas gargalhadas – tem dois.
Nossos aeroportos, portas de entrada de riquezas através da atividade turística, via de regra, ainda não possuem nomes que fazem alusão à arte, a economia, à cultura, ao lazer e ao entretenimento, mas o que vemos são nomes que quase sempre homenageiam militares e políticos (e aqui resguardamos o mérito e valor de cada um), e que nos remetem à “ordem e a lei”, sem dar chances a uma cultura verdadeiramente desenvolvimentista e de crescimento.
O aeroporto Tom Jobim acaba sendo uma exceção. Uma clara demonstração da nossa hesitação em abraçarmos a economia da cultura. A secular cultura de valorização da política (partidária, de manutenção do poder) ainda não foi superada. As políticas de estado, a longo prazo, continuam preteridas pelo imediatismo do interesse eleitoreiro. Isto faz com que o Brasil aconteça de forma efetiva praticamente em ano eleitoral.
É quase uma regra “economizar” ações fora desse período, a final, o “brasileiro tem memória curta” e não vai lembrar do que o governante fez a dois ou três anos.
Por outro lado, isso não é invenção ou demérito de políticos e autoridades da nossa geração, que, inclusive, não raro nos surpreendem com boas intenções e boas iniciativas que visam canalizar muitos dos graves problemas. A vedação de inaugurações de obras no período pré e pós-eleitoral é um bom exemplo.
Essa valorização exacerbada da política (ou da politicagem?) nos deixa a mercê de interesses localizados, de grupos. Qualquer um pode burlar a lei, que depois se dá um jeitinho. Qualquer um pode jogar uma carrada de barro no meio da rua, pode cortar a via para colocar um cano e ainda deixar a vala aberta durante um dia, uma semana, um mês, dois meses e nada acontece. Não aparece ninguém para fazer nada. Não se pode melindrar nada e nem ninguém.
O certo é o errado e o errado se torna o certo. Assim, a lei e o interesse coletivo sempre são preteridos pelo interesse localizado, pela lei “boazinha”, pelos que lucram com o caos e com a falta de racionalização. Quantos prédios são construídos sem sistema de tratamento de esgoto, contrariando o que diz a lei e colocando em prejuízo o meio ambiente e a salubridade.
É preciso diminuir a influência política nas relações, no dia a dia, nas questões para atingirmos a impessoalidade, fazer com que “outras commodities” assumam seu verdadeiro papel. O interesse coletivo precisa ocupar seu espaço e reger a pauta da sociedade. Esta utopia-possível deve ser perseguida e assimilada por todos aqueles que querem um país melhor.
É por tudo isto que acreditamos que a maior mercadoria brasileira continua sendo aquilo que é colocado na urna: o voto! No Brasil quase tudo gira em torno dele. Mas vou ficando por aqui, porque, repetindo o período colonial, no nosso país o errado não é quem comete o erro, mas quem o denuncia.
A gente se vê!
Texto Originalmente publicado na Edição N°105 junho 2013 do Jornal Cazumbá
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