quarta-feira, 29 de julho de 2020
O destino empolga muito mais por sua história do que pelas praias. Então, caminhe pelos casarões com azulejos e aproveite a boa gastronomia que São Luís do Maranhão tem a oferecer

Por Marcos Martins


São Luís do Maranhão é uma cidade que rende muitas particularidades e merece alguns avisos aos visitantes de primeira viagem. Isso porque o destino empolga muito mais por sua história do que pelas praias. Afinal, a capital do Maranhão está aí para provar que nem só de praia vive o Nordeste.

Pois bem, a história é o grande tempero desta viagem e tudo começa na época de sua “descoberta”, em 1612. Curiosamente, São Luís é a única capital brasileira fundada por franceses.

Entretanto, o biquinho para pronunciar Saint Louis, nome dado em homenagem ao monarca francês Luís XII, caiu em desuso tempos depois, quando foi invadida pelos holandeses e, posteriormente, colonizada pelos portugueses.

Casarões do Centro Histórico

Construções históricas

Não demorou muito para os lusos começarem a mudar a cara da cidade, construindo belos sobrados e casarões que podem ser admirados até hoje no centro histórico da capital. Várias dessas construções, aliás, foram tombadas pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.

São mais de 3.500 construções que evidenciam as heranças portuguesas. Então, ao caminhar pelas ruas de pedra, tem-se clara ideia do passado que os anos não apagaram. Mesmo com um processo de restauração que anda e para, e que, nos últimos anos, mais parou do que andou, o conjunto arquitetônico ainda é a grande joia da cidade.

Rua Portugal

Explorando o centro histórico

A Rua Portugal, por exemplo, exibe a maior concentração de residências revestidas por azulejos do Brasil. O material passou a cobrir a fachada das casas e acabou virando a marca de São Luís. É comum notar, também, que as casas seguem alinhadas com o nível das ruas e grudadas umas às outras. Já os telhados seguem o estilo “duas águas” (uma parte direcionada para a rua e outra para o quintal).

Entre os vários cantinhos para explorar no centro histórico, o Espaço Reviver merece parada mais demorada. A área compreende uma região de lazer com bares, restaurantes, tendas e barracas de artesanato e lanches típicos.

Isso inclui as famosas tapiocas, que hoje viraram alvo da “gourmetização”, mas sempre foram consumidas da maneira tradicional, com margarina e acompanhadas de café puro. Por fim, ali também é possível comprar bolsas, chaveiros, chapéus e deliciosos quitutes.

Bumba Meu Boi

Em época de festas juninas, o espaço recebe turistas de todo o país e do exterior, que conferem as inúmeras apresentações de grupos de Bumba Meu Boi. Tradicionais desde o século 18, as bandas fazem um show com matracas, orquestras e zabumbas.

Mais da cultura maranhense pode ser vista no Centro de Cultura Popular (Casa da Festa) e a Casa de Nhozinho, um sobrado destinado a contar a história da vida dos sertanejos e exibir trabalhos feitos por Nhozinho, um importante artesão da região que produzia brinquedos e miniaturas de bumba meu boi a partir da fibra de buriti.

Mais passeios

Catedral da Sé (Foto: Embratur)

Dá para explorar ainda mais a região visitando o Convento das Mercês, que em alguns meses vai abrigar também uma escola de cinema, e o Museu de Arte Sacra, com dois pavimentos tomados por objetos do século 19, nos estilos barroco, rococó e neoclássico.

Lá é possível encontrar os famosos “santos do pau oco”, usados como esconderijo no contrabando de metais preciosos e diamantes. Sem falar dos cálices de ouro, dos crucifixos de prata vindos de Portugal e das muitas vestimentas de padres, já que igreja é o que não falta em São Luís. Na “Cidade Velha” existem nove – todas com uma história para contar.

Caso tenha de eleger apenas uma, fique com a Catedral da Sé, erguida em homenagem a Nossa Senhora da Vitória. O que deixa todos de boca aberta é o retábulo do altar-mor, todo revestido de ouro. Mesmo depois de passar por várias reformas, a igreja continua sendo uma das representativas do período colonial brasileiro.

Um teatro secular

Outro ponto que não pode ficar de fora é o Teatro Arthur Azevedo, com nada menos do que 198 anos. Projetado imitando os padrões europeus da época, a obra é fruto do empenho de comerciantes portugueses que desejavam assistir a espetáculos de arte dramática e música lírica.

Mesmo quando não há apresentação, o teatro abre para visitação de terça a sexta (R$ 2 por pessoa), com direito a conhecer o salão nobre, a sala de dança, a plateia e o palco com 342 m². Além disso, os entornos são recheados de lustres de cristal, espelhos, estofados e vasos de época.

Bem próximo do teatro, a sede política e institucional do governo do estado, o Palácio dos Leões – nome dado após uma disputa entre políticos no início dos anos 1900 –, é um programa a se considerar. Construído pelos franceses no século 17, esse antigo forte tem estilo arquitetônico neoclássico, com obras que ultrapassam dois séculos, sem contar a bela vista para o mar.

Palácio dos Leões (Foto: Embratur)

Antes de deixar a parte histórica da cidade, estique até a Casa das Tulhas (Mercado da Praia Grande) – local perfeito para quem quer levar algum objeto rústico para casa ou aumentar a coleção de cachaças e licores. Se calhar de visitar a cidade nos fins de semana, aproveite para assistir à apresentação do Tambor de Crioula. A dança de roda típica é embalada ao som de tambores tocados por homens, enquanto as mulheres, trajadas com saias rodadas, exibem todo o seu gingado.

Praias em São Luís do Maranhão

A região mais nobre de São Luís, que se esparrama pelos bairros Jardim Renascença, Ponta D’Areia e Calhau, é o endereço das praias e do agito à beira-mar. As avenidas Litorânea e a dos Holandeses são as mais gostosas para caminhar e beiram as enseadas do Calhau, São Marcos e Olho D’Água.

Com águas de tom acinzentado e nem sempre próprias para banho, praia em São Luís é para curtir muito mais na areia, aproveitando os quiosques e restaurantes na orla.

Prédios na Avenida Litorânea

Eles oferecem boas opções para experimentar o que o estado tem de melhor, como o arroz de cuxá (com tempero de folhas de vinagreira, gengibre e pimenta), baião de dois, feijão-verde, paçoca, purê de mandioca, manteiga na garrafa, pescados, frutos do mar (camarão, caranguejo e mariscos diversos), carne de sol e os sucos naturais de acerola, cupuaçu e guaraná.

Opa, e o Guaraná Jesus? Exclusivo do Maranhão, a bebida que foi criada para ser um remédio acabou virando um xarope cor-de-rosa que todo mundo adora. Em 2001, a Coca-Cola comprou a fórmula e restringiu a fabricação apenas ao território maranhense.

Guaraná Jesus (Foto: divulgação)

Para não ficar cabisbaixo de não dar nem um mergulhinho, a alternativa é ir até a enseada de Araçagy, uma das poucas livres de poluição, mas que fica a 32 quilômetros de São Luís. A principal atração nesse vilarejo é o passeio de barco até as Fronhas Maranhenses – algo como um mini-Lençóis Maranhenses, que apesar de pequeno em comparação ao parque, serve bem para a dobradinha sol e marzão: bem a cara do Nordeste.

Informação: Turismo.MA

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