segunda-feira, 3 de agosto de 2020

A venda de comidas e utensílios sempre chegou para os ludovicenses de uma forma muito inusitada: pelos Pregoeiros, vendedores que carregavam seus produtos nas mãos e gritavam bordões musicais a fim de divulgá-los pelas ruas de São Luís.

Conta-se que foi a partir do século XIX que esses personagens surgiram, conforme a cidade foi crescendo, para suprir as necessidades da população, principalmente dos mais abastados. A venda de porta em porta significava um luxo para os moradores e um “ganha pão” muito honesto para os vendedores.

Essa disputa corpo a corpo feita pelos pregoeiros, contrapondo o comércio local, veio a transformá-los com o tempo, em ícones da cultura ludovicense.

Os pregoeiros passavam pelas ruas da cidade sempre ao amanhecer ou ao entardecer gritando o nome dos seus produtos para que as donas de casa saíssem às portas com suas bacias para comprar produtos e utensílios, que vinham acondicionados das mais variadas formas: pendurados em pedaços de madeira especialmente talhados para isso (como na foto que ilustra esse texto), em cofos feitos de palhas, em latas grandes de querosene reaproveitadas, em tabuleiros e em caixas preparadas para aquele trabalho.

Os pregoeiros, que tinham esse nome porque gritavam pregões de seus produtos, se espalhavam por toda a cidade e com o tempo, ficavam conhecidos das donas de casa, se transformando até em amigos para vida inteira.

Talvez o bordão mais famoso seja “pamooonha pamooonha”, sempre cantado nas noites dos invernos ludovicenses (período do milho verde). Essa cantiga embalou a vida de muita gente e soa como uma verdadeira música aos meus ouvidos.

Os pregoeiros mais comuns de que se tem notícia, no entanto, eram: padeiro, vendedor de frutas, principalmente bananas, jornaleiro, carvoeiro, verdureiro, peixeiro, vendedor de camarão, caranguejo e siri, sorveteiro, vendedor de pamonha, vendedor de pirulitos, vendedor de juçara, além dos vendedores de utensílios como pá de lixo, penicos, lamparinas, espanadores, vassouras e ainda compradores de ferro velho e garrafeiro. Eram todos homens fortes e dispostos, porque há de se reconhecer que era (e é) um trabalho árduo. Os produtos eram levados nas mãos e quando muito, em carros de mão, que também dependiam da força humana para chegar até seus clientes.

Hoje em dia ainda existem pregoeiros à moda antiga, mas estão muito raros. Os que ainda oferecem seus serviços na casa da minha mãe, só para termos uma referência, é o vendedor de Ideal (bolinho de farinha de milho e de farinha de arroz, “ideal” para acompanhar uma xícara de café), vendedor de juçara, pamonha e o comprador de panelas velhas, mas com um detalhe muito importante: todos oferecem seus produtos e serviços em bicicletas, porque convenhamos, a cidade não é mais a mesma, as distâncias são outras, o timing da vida é completamente diferente e o momento em que vivemos não mais permite que esperemos o maxixe chegar à porta, quando o vendedor achar que deve.

Mas apesar de os pregoeiros estarem virando lendas para as novas gerações, nas praias de São Luís ainda é possível encontrar um tipo mais moderno de pregoeiro: o vendedor de frutas e petiscos!

Esses não “cantam” seus produtos para os clientes, não tem bordões que encantam, mas fazem um trabalho corpo a corpo importante, já que saem oferecendo suas delícias exaustivamente a todos que estão na praia.

Não precisa muito tempo desde a chegada à praia para que os vendedores apareçam em todas as mesas oferecendo frutas e petiscos. Eu mesma, em minha última visita a São Luís, não resisti e comi cajá do Pará, fruta que só encontro com os vendedores nas praias. Outras frutas clássicas que sempre compro são: seriguela, jambo, pitomba e abricó, que quase nunca acho em feiras e supermercados.

Castanhas de caju ou amendoins, ovos de codorna e camarão “salpreso” formam a tríade de petiscos comuns nas mesas dos bares da praia. O ovo de codorna cozido que sai quentinho do isopor, eu não resisto!

Os vendedores de siri e caranguejo são exemplares antigos em tempos atuais e o vendedor de ostra é realmente a cara da modernidade, mas que me lembra um passado recente.

Não devemos esquecer também dos vendedores de coco, de queijo coalho, sanduíches naturais e outras modernidades comuns da nossa época, que com tantas opções e facilidades, os considero uma nova versão dos nossos pregoeiros, porque criam formas de chamar a atenção dos clientes, indo onde o público está, detalhe que o ludovicense gosta e muito! Aliás, essa mania de querermos tudo à mão é uma característica muito particular nossa e não só nesse aspecto. Existem inúmeras outras situações em que se percebe um certo “comodismo” da população.

A única coisa boa disso tudo é que novos postos de trabalho sempre poderão existir e que mesmo sem querer, essa peculiaridade fez nascer um dos capítulos mais bacanas da história popular de São Luís.

Texto Originalmente publicado na Edição N° 112 fevereiro de 2014 do Jornal Cazumbá

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