segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Por Antonio Noberto, 
*Turismólogo e membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL

Tem muita gente que diz que um raio não cai mais de uma vez no mesmo lugar, mas a escrita foi quebrada mês passado, quando o lendário “raio jamaicano” Usain Bolt fez história e bateu mais uma vez o recorde mundial dos cem e dos duzentos metros no Mundial de Atletismo na Alemanha. Ele cravou 9s58, número bem abaixo das previsões mais otimistas, e venceu sobrando seu compatriota Asafa Powell e o desafiante americano Tyson Gay. O mais veloz entre os mortais, além de imbatível tem um carisma do tamanho do mundo, todos querem um pouquinho da atenção dele. A organização do evento e a vibração dos alemães também foram impecáveis. Aliás, acho que eles até quebraram um pouco aquele estigma de povo frio, gelado de muita razão e pouca emoção. Ou a humildade talvez seja apenas resquício das “marolonas” da crise financeira que sobrevieram à Europa desde a segunda metade do ano passado, tal qual aconteceu com nuestros hermanos há alguns anos, que deixaram eles mufinos, igual a um animalzinho que leva uma sova do dono. Confesso que deu


Confesso que deu vontade de chorar abraçado com ela, com a linda russa Elena Isinbayeva, recordista mundial no salto com vara. Ela vacilou e perdeu feio o ouro no salto. Já a brasileira Fabiana Murer – Lembram? Aquela que chorou feito criança nas Olimpíadas da China ano passado, porque tinham sumido com a vara dela. Tadinha! – perdeu de novo, mas desta vez não chorou. A chorona da vez foi a competente Mauren Maggi. Chorou porque se contundiu no joelho. Uma pena! Era, creio, nossa maior chance de medalha. O fracasso da delegação brasileira já eram “favas contadas”, desde a eliminação de cinco atletas por doping. Por outro lado, todos sabem que o Brasil não tem investido no esporte como deve. Então o resultado não poderia ser outro. Um dos piores desempenhos de todos os tempos. Não trouxemos uma medalhina sequer. Um fiasco. Alguém atrás de consolo poderia dizer: O Brasil não tem o homem mais rápido das pistas, mas tem o Cesar Scielo, o mais rápido nas piscinas. Mas o Scielo treina nos States, brother! Ninguém se iluda. Como bem disse uma oportuna reportagem da revista Veja, após os jogos de Pequim: “O brasileiro é preparado para perder”.

Ah, eu falei lá no título deste texto algo sobre pilhagem. Pois bem! Viram a espanhola espertalhona Nathalia Rodriguez correndo os 1.500M? Na reta final tomou fôlego e começou a crescer na competição. Lá pelas tantas, sem espaço para passar pela esquerda, tentou dar um jeitinho espanhol empurrando e acotovelando a competidora etíope Gelete Burca, que se “estabacou” (que termo feio! Tão feio quanto a queda) na pista do belíssimo e lotado estádio de Berlim. A espanhola chegou em primeiro, foi bastante vaiada pela atitude antiesportiva, mas, mesmo receosa, dava entrevistas como vencedora, até que, um repórter da Sportv deu-lhe a indesejável notícia da sua eliminação. Ela ficou inconsolável. No instante que vi a cena não me lembrei de outra coisa senão dos conquistadores espanhóis Hernán Cortez e Francisco Pizarro, que eram parentes por parte de mãe. O primeiro saqueou o império Asteca, atual México, e o segundo o Inca, no Peru. Ambos lançando mão de métodos nada louváveis realizaram as maiores pilhagens de ouro que se tem notícia. O carrasco dos incas, apesar de ter recebido de forma pacífica todo o ouro das mãos do rei Atualpa, que não queria saber de guerra, foi impiedoso e não deixou um nativo em pé. Quando vi o chega-prá-lá da espanhola me lembrei de imediato dos conquistadores espanhóis. Ato contínuo lembrei também daquele traficante que ensinava duas crianças menores de cinco anos a roubar: “Me dá meu dinheiro boneca!”. Sai da frente do meu ouro, reles africana! Achando-se injustiçada, a atleta ibérica retrucou: “Fui roubada”. Imaginem se ela fosse uma nativa inca em 1530. Os termos que ela pronunciaria seriam impublicáveis ad eternun. Pimenta no Mercosul dos outros é refresco. A eliminação dela foi uma flagrante demonstração de justiça e uma prova de que realmente vivemos no melhor dos mundos.

A gente se vê.

Texto Originalmente publicado na Edição N° 65 setembro 2009 do Jornal Cazumbá

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