segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O nosso mar é amazônico, alimentado por muitos e fartos rios que desaguam nos maiores manguezais em um recorte litorâneo espetacular. Aí reside a sua diferença exuberante, e exótica pra muitos. 

O exotismo de um litoral onde é comum confundir mar com rio e rio com mar. Que foge ao clichê da beleza de mares sempre azuis facilmente encontrados em qualquer lugar do mundo, inclusive fora dos trópicos. 

Aqui a beleza tropical costeira amazônica ganha novas nuances e contornos com a enorme amplitude de marés que transformam as paisagens das praias no mesmo dia revelando e cobrindo enormes extensões de areais e modificando, também, as cores do mar. Esse mesmo mar turvo com inusitadas cores fluviais muitas vezes não barrentas (essas ocorrem mais nas baías) que alternam entre o bege, café com leite, cinza, prateado, musgo, esverdeado e até o azulado. 

Essas últimas resultado das poucas precipitações e principalmente das marés mansas de quarto (especialmente na lua minguante) que arrastam bem menos os sedimentos deixando as águas mais transparentes. 

As grandes chuvas trazem também as "águas pretas" que vem do próprio rio Amazonas colorindo as águas paraenses e maranhenses com uma cor de "coca cola" hipnotizante, quase a mesma cor do Rio Negro. Do quase onipresente turvo de várias tonalidades surgem aqui e acolá tempos em que o nosso mar ganha essas cores esverdeadas e azuladas não inusitadas em outros recantos mas inusitadas para nós, causando uma súbita admiração e até estranheza: "não parece ser o mar de São Luís". Mas é! O mesmo e mutante de sempre. Não foi a primeira vez e nem a última. 

Pra quem vive e trabalha bem ao lado dele, como eu, sou testemunho cotidiano de sua  capacidade camaleônica. Não invejo outros mares e marés (invejo apenas os mares limpos sem poluição, como a maior parte do mar do Maranhão). Me regozijo com o meu mar multicor. Me aproprio dele. Dou-lhe seu devido valor.

A beleza é relativa e também,  ensinada. Assim como a percepção. Sempre tento ensinar a verem a beleza única do mar do MARanhão e a desaprenderem que o mar pra ser bonito só pode ser azul ou verde. Ainda bem mesmo que os outros mares não sejam como o nosso. Se fossem, perderíamos a exclusividade.

Texto e Fotos: Rafael Marques

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