segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Na celebração do Dia da Amazônia, em 5 de setembro, o projeto Àwúre chama atenção para o debate sobre a importância dos povos originários na conservação da maior floresta tropical do mundo. Realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e com o Ministério Público do Trabalho (MPT), a iniciativa mantém 8 frentes de ação na divisão do Àwúre Indígena, todos na Amazônia. 

“Para nós indígenas é importante preservar a floresta Amazônica, porque é da floresta que os indígenas se alimentam de alimentos naturais e também respiramos o ar puro sem prejudicar a nossa saúde”, diz o cacique Yawa Kumã, da Aldeia Shanekaya, na Terra Katukina Kaxinawa, em Feijó, no Acre.

Descobrindo a Amazônia - Na Amazônia brasileira vivem 24 milhões de pessoas, dentre elas, 170 povos indígenas. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são cerca de 440 mil indígenas na região amazônica. Apesar de ter uma biodiversidade muito rica, a floresta tem um ecossistema frágil e qualquer dano pode ser irreversível.

Além de ser o maior bioma do Brasil, a biodiversidade da Amazônia supera a de qualquer outra floresta tropical do mundo. São 5 milhões de km² de área que se estendem por nove países e em nove estados brasileiros. Na floresta, crescem mais de 2.500 espécies de árvores e 30 mil espécies de plantas, além de milhares de animais, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente.

As áreas mais conservadas da floresta são onde estão as terras indígenas, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Apenas 1,6% da perda de florestas e vegetação nativa no Brasil entre 1985 e 2020 ocorreu nos territórios ocupados por povos tradicionais. O dado provém da análise de imagens de satélite desse período desenvolvida pela equipe de pesquisadores do MapBiomas, utilizando recursos de inteligência artificial. 

Durante os 36 anos de monitoramento por satélite, os territórios indígenas já demarcados ou aguardando demarcação foram os que mais preservaram suas características originais, comprovando o valioso serviço que essas comunidades prestam ao Brasil. Isso se deve principalmente ao modo de vida dos indígenas, que têm a cultura de plantar, colher e cultivar, preservando a floresta como um bem maior.

Projetos - O Àwúre apoia as comunidades tradicionais e os povos indígenas no manejo de seus recursos de maneira sustentável e para que mantenham, usem e fortaleçam seus conhecimentos. Assim, reconhece a importância dos direitos aos recursos e aos conhecimentos indígenas para preservação dessas áreas no presente e para o futuro.

Um dos projetos mantidos pela iniciativa funciona na aldeia Shanekaya, que na língua do tronco linguístico Pano, significa "povo verdadeiro". A comunidade fica localizada no município de Feijó, distante 364 quilômetros da capital do Acre, Rio Branco. Na aldeia, há 22 famílias, cerca de 100 pessoas, que geram renda por meio da produção de artesanato. 

O Àwúre  Shanekaya, que tem como parceiro a Rede Tear Iniciativas Femininas, criou uma articulação de compra de produtos agroecológicos, possibilitando ao povo da aldeia o acesso a esses alimentos e fortalecer a economia local do pequeno comércio da região do município de Feijó.

A indígena, Mukani Shanenawa, líder espiritual e docente, que faz parte da aldeia Shanekaya, comenta a importância dos povos originários na conservação da Amazônia:

“Tenho uma visão em relação a nós, povos originários, que somos importantes para a preservação da natureza, pois dentro dela se encontra a verdadeira farmácia viva! Por isso, a Amazônia é de suma importância para nós, porque dentro dela se tem os conhecimentos da nossa ancestralidade, por isso lutamos em busca de preservá-la. Nós sabemos da realidade de como é maravilhoso conviver no meio do ar puro, sem poluição. Por isso, somos os guardiões da floresta.”

Também de Shanekaya, o indígena Tuim Shane fala sobre o esforço de preservar a floresta:

“Somos nós que preservamos a floresta Amazônia, pois é na floresta que nós fazemos nossas rezas, nossas cantorias, nossos benzimentos, nossa cultura. Nós fazemos o máximo possível para seguir protegendo e preservando para que um dia nossos filhos possam viver em paz e viver tranquilos.”

O Projeto Soberania Alimentar, feito em parceria com a Associação GAP EY, atua na Aldeia Gãpgir, na terra indígena Sete de Setembro, em Cacoal- RO. Lá vivem cerca de 70 pessoas de 15 famílias. O principal objetivo do Àwúre no local é fomentar a produtividade das cadeias de produção já praticadas na aldeia. Entre elas, constam mel orgânico, castanha, criação de galinhas de corte e poedeiras, café, banana, batata doce e cará, entre outros. 

O projeto também auxilia na comercialização dos produtos no âmbito da economia solidária e, assim, promove alternativas de geração de renda para a comunidade. Após a primeira fase do projeto, a comunidade teve a produção potencializada em 20% e a renda também. Somente com a castanha o ganho foi do dobro, sendo que a unidade da oleaginosa passou de R$ 2,50 para R$ 5,00.

Perspectiva - Robson Yabnoyãam Surui, Joaton Pagater Surui, Luiz Weymilawa Surui e Flávia Surui, são quatro indígenas da Aldeia Gãpgir. Juntos, eles falaram sobre os impactos do projeto Soberania Alimentar, do Àwúre, na aldeia:

"A Associação GAP EY tem desenvolvido vários projetos de sustentabilidade como é o caso do Soberania Alimentar. Apoiados pelo Àwúre, temos revitalizado nossas roças com alimentos tradicionais como cará, amendoim, milho, batata doce e estamos conseguindo nos livrar aos poucos dos produtos industrializados, construímos um galinheiro comunitário e também investimos na bioeconomia com a venda da castanha e café. Também trabalhamos com o museu indígena produzindo artesanatos e capacitando mulheres e jovens.”

O grupo de indígenas mandou uma mensagem final:

“Nós, indígenas, não somos donos da floresta, somos parte dela, nos integramos a ela fisicamente e espiritualmente, pois nossos ancestrais viveram aqui, daqui tiramos nosso sustento, educamos nossos filhos e nos conectamos com nossa cultura e ancestralidade. Nós paiter, família gãpgir, sempre temos buscado novas alternativas de sobrevivência e isso contempla atividades que deixam a floresta em pé, uma economia circular como uma estratégia de manter viva a diversidade da fauna e flora, assim garantindo o direito de ocupar e usufruir da natureza em sua plenitude”.

Informação: Nações Unidas 

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