quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A tempo da da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), que tomou palco entre os dias 1 e 12 de novembro de 2021 na cidade de Glasgow, na Escócia, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicou um relatório sobre o papel central das Soluções Baseadas na Natureza (NBS) para a adaptação e mitigação climática. Com o encerramento do maior evento ambiental do mundo, o PNUMA retoma o tema e apresenta aos leitores os benefícios dessas soluções, assim como a sua integração a cinco ecossistemas essenciais. 

Carbono - O carbono é encontrado em todos os ecossistemas da Terra. Está presente nas árvores e nos solos das florestas, bem como concentrado nas profundezas de turfeiras tropicais e tundras congeladas, além de manter a fertilidade e a resiliência de fazendas, serras e pesqueiras ao redor do mundo.

Os solos e os oceanos são "sumidouros de carbono" naturais capazes de absorver mais da metade de todas as emissões de gases de efeito estufa, impedindo que o mundo aqueça ainda mais rapidamente. Mas, a perda da natureza e a conversão de terras para a agricultura e outras atividades causaram quase um quarto dessas emissões na década até 2016. Ao aumentar as temperaturas, também se corre o risco de converter os sumidouros em fontes desse gás.

A prevenção da perda dos estoques de carbono nos ecossistemas da Terra é fundamental para combater as emergências do clima e da biodiversidade. Enquanto lideranças debatem as opções políticas na cúpula do clima da COP26, um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) destaca a necessidade de soluções baseadas na natureza - ações adaptadas localmente que atendam aos desafios da sociedade, como a mudança climática, e proporcionem o bem-estar humano e os benefícios da biodiversidade, protegendo, gerenciando de forma sustentável e restaurando os ecossistemas.

Benefícios das SBN - Soluções baseadas na natureza podem reduzir o aquecimento global e mover nossas economias e sociedades para um caminho sustentável, revela o relatório. Por meio de um planejamento cuidadoso e de um investimento crescente, essas alternativas podem reduzir as emissões líquidas em até 18 gigatoneladas de dióxido de carbono por ano até 2050 - uma "proporção significativa" da mitigação total necessária para evitar mudanças climáticas perigosas.

Entretanto, para ter sucesso, essas alternativas precisam ser bem desenvolvidas e devem procurar obter benefícios além do carbono. O relatório recomenda que essas soluções sejam construídas com base nos benefícios sociais e ambientais desenvolvidos pelo mecanismo REDD+ da Convenção sobre Mudança do Clima da ONU, a fim de salvar e restaurar as florestas, incluindo os princípios de consentimento livre, prévio e informado das comunidades locais e indígenas.

"Temos mais de uma década de experiência e conhecimento em projetar soluções florestais voltadas ao clima, à natureza e às populações através do REDD+", afirma Tim Christophersen, chefe do setor de Natureza para o Clima do PNUMA e coordenador da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas. "Agora podemos aplicar esse conhecimento a outros ecossistemas, para garantir que os investimentos climáticos na natureza tenham alta qualidade e impacto".

Estes são cinco ecossistemas essenciais nos quais as soluções baseadas na natureza podem gerar benefícios:

1. Florestas

A proteção, o gerenciamento e a restauração das florestas representam cerca de dois terços do potencial total de mitigação de todas as soluções baseadas na natureza. Apesar de sofrerem perdas gigantescas e contínuas, as florestas ainda cobrem mais de 30% da superfície terrestre. Bilhões de pessoas dependem delas para sustento, alimentação e água. Em áreas montanhosas, elas protegem os assentamentos de inundações, deslizamentos e avalanches.

As áreas protegidas que recebem um bom financiamento têm condições de conservar florestas com grandes estoques de carbono e biodiversidade, tais como as tropicais. No trabalho florestal, a colheita sustentável e o manejo comunitário podem evitar perdas, ao mesmo tempo em que beneficiam as pessoas. As terras agrícolas degradadas e abandonadas também podem ser reflorestadas com árvores nativas ou regeneradas naturalmente.

Além disso, essas soluções podem reduzir a demanda por terra, por exemplo, tornando a agricultura atual mais produtiva, incentivando dietas ricas em plantas e reduzindo o desperdício de alimentos. O Programa ONU-REDD utiliza a experiência do PNUMA, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas para apoiar iniciativas em países em desenvolvimento para reduzir as emissões do desmatamento e da degradação florestal, inclusive por meio do uso de soluções baseadas na natureza.

2. Turfeiras

Apesar das turfeiras cobrirem apenas 3% da extensão terrestre mundial, elas guardam cerca de 30% do carbono capturado em seus solos. A preservação e restauração desse ecossistema consiste em mantê-lo úmido para que o carbono não oxide e seja lançado na atmosfera. A turfa drenada também é suscetível a incêndios, que podem devastar a vida selvagem, poluir regiões inteiras e ser de difícil controle.

A proteção desse ecossistema é uma forma econômica e que exige pouca tecnologia de conservar estoques volumosos desse gás e preservar espécies vegetais e animais. Tal como as florestas, essas áreas regulam o abastecimento de água doce e evitam inundações, enquanto abastecem as comunidades com alimentos e combustível. A Iniciativa Global de Turfeiras (Global Peatlands Initiative, em inglês) visa destravar fundos internacionais em prol da conservação e do manejo de turfeiras de modo que não sejam drenadas e substituídas pela agricultura, construção de infraestrutura e mineração.

3. Terras agrícolas

Sem carbono no solo, a humanidade morreria de fome. Quanto maior sua presença orgânica no solo, mais abundante é o rendimento da cultura e mais frio é o clima. Preservar e restaurar o teor de carbono das lavouras e terras de cultivo requer soluções baseadas na natureza por meio de novas técnicas como a pastagem sustentável, a rotação de culturas e o cultivo mínimo. Mudar para uma agricultura sustentável com solos regenerados e ricos em carbono pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa de fertilizantes químicos e pesticidas e diminuir o uso de energia para a agricultura. Uma pecuária menos intensiva permite a diminuição das emissões de metano, um potente gás de efeito estufa, e impede a conversão de mais florestas e outras áreas naturais em pastagem. A Década da ONU da Restauração de Ecossistemas vem trabalhando em cooperação com parceiros que buscam a conservação e restauração do solo, tais como o www.4p1000.org.

4. Oceanos e litorais

Mangues, marismas e leitos de gramas marinhas capturam e armazenam matéria orgânica em seus solos e evitam que ela seja desperdiçada na atmosfera. Embora as soluções baseadas na natureza costeira têm como foco a proteção das comunidades e da infraestrutura contra tempestades e aumento do nível do mar, qualquer iniciativa que vise proteger, usar de forma sustentável ou replantar manguezais ou gramas marinhas também contribui para a mitigação do clima. As zonas úmidas costeiras também são habitats para a desova de peixes e outros tipos de biodiversidade que sustentam a subsistência dessas comunidades e contribuem para a segurança alimentar global.

5. Cidades

A maior parte da humanidade hoje vive e trabalha nas cidades, que vêm introduzindo suas próprias soluções baseadas na natureza. Os municípios estão cada vez mais substituindo a infraestrutura "cinza" pela "verde", com a criação de parques, a restauração de lagos e riachos urbanos, o uso de materiais de construção sustentáveis e o revestimento de ruas e telhados com árvores (o PNUMA desenvolveu diretrizes sobre como países podem tornar sua infraestrutura mais resiliente). Essas medidas previnem inundações, ondas de calor e doenças, melhoraram o bem-estar das pessoas e encorajam-nas a caminhar e a pedalar, além de incentivarem o uso de menos concreto e outros recursos com alta concentração de carbono.

Informação: Nações Unidas 

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