quinta-feira, 14 de março de 2024
A poesia ganhou um dia específico, sendo este criado em homenagem ao poeta brasileiro Antônio Frederico de Castro Alves (1847 - 1871), no dia de seu nascimento 14 de março 


Neste mês de março, precisamente no dia 14, algo do melhor que há no Brasil aniversaria: A POESIA. “A poesia é a arte da linguagem humana, do gênero lírico, que expressa sentimento através do ritmo e da palavra cantada. 

Seus fins estéticos transformaram a forma usual da fala em recursos formais, através das rimas cadenciadas. A poesia faz adoração a alguém ou a algo, mas pode ser contextualizada dentro do gênero satírico também. 

Há três expressões de poesias: as existenciais, que retratam as experiências de vida, a morte, as angústias, a velhice e a solidão; as líricas, que trazem as emoções do autor; e a social, trazendo como temática principal as questões sociais e políticas”.

Mas, eminentemente, a poesia é arte e exercício humano/espiritual. Quanto ao questionamento conceitual sobre esse contexto, temos a certeza: Bertoldo Breath se fosse questionado por alguém a respeito do conceito de o quê é a poesia, certamente o questionador já obteria sua resposta - “poesia é o próprio homem/trabalhador e, em realidade, há homens que trabalham anos e anos; esses são considerados bons / há homens que trabalham anos e anos; esses são considerados muito bons / e há homens que trabalham sempre; esses são imprescindíveis...”. 

Portanto, a poesia é um produto do esforço psicofísico humano. O mesmo questionamento, feito a Henfil, é claro, também, ele já nos responderia: - “poesia é arvore de vida e, em realidade, se dela não houver frutos, valerá o perfume e a beleza das flores; se dela não houver flores, valerá a sombra e o abrigo das folhas; e, se, dela não houver frutos, flores e folhas, valeu a intenção da semente...”. Embora a poesia, é claro, também, produto natural do esforçado cio da terra.

Mas, ser poeta é ser o quê?

Segundo o sábio professor, poeta e jornalista maranhense, Alberico Carneiro, se é atualíssima, ainda hoje, a teoria de Aristóteles sobre a arte da poesia ou da poética, apresentando-a como imitação, transformação ou mutação da realidade vista por outro ângulo, o poeta é uma espécie de mago, feiticeiro, bruxo ou encantador. Desse ponto de vista, ele, o poeta, pode transfigurar a linguagem da semântica, isto é: fazer com que as palavras, à maneira dos camaleões, passem por um processo mimético ou do mimetismo. 

E, assim, como camaleão, que, para preservar-se dos predadores mais perigosos, adapta a coloração da pele à cor do ambiente, para fingir e confundir-se com a paisagem, também o poeta faz com que as palavras imitem a realidade, procurando inseri-las no contexto semântico à contemporaneidade.

O poeta Português, Fernando Pessoa, traduz esse paradoxo ou ambiguidade aristotélica sobre o ato da imitação à realidade: - “o poeta é um fingidor/finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.  Já o poeta ludovicense, Nauro Machado, outro ser humano-cultural incompreendido em seu tempo, se confessa e, portanto, explica: - “a dor de ser poeta/ do ser fatal/ a dor de ser feroz/ é instante só/ mas que no ser demora e dura e fere/ para que mais doa”. 
Já o conterrâneo e poeta-camaleão, Salgado Maranhão, se faz poetar nas coisas: - “As coisas querem vazar o poema/em sua crosta de enredos, as coisas querem habitar o poema/para serem brinquedos. Chove nas fibras de alguma essência secreta e o poema rasga a arquitetura do poeta”...!

O ser e a poesia advindos de mim
 
minha poesia veste-me com essência sabedora ao interior a mim
e emudece meu grito ensurdecedor à negação que há nela.
é a prisão na qual sou condenado
 e estou a extrapolar-me liberto à ambiência alheia.
é a imensidão em sal oceânico e chão cáustico, solitariamente, desértico...
é a diversidade de todas minhas linguagens artísticas sem plateia alguma...
é a obra que, humildemente, ofereço à humanidade...
é o ser a querer-se compartilhado a quem me necessitar...
e meus versos? - são partes extraídas de minha alma inteira a se mostrarem inibidas aos outros seres 
sem aceitação nenhuma!
o que é minha poesia?
é a somatória das imagens etárias do passado encontrado no presente, 
são escritas na negação imagética do futuro.
obrigando-me, fielmente, a negá-la em mim tal qual confissão ausente.

Analfabetismo editorial 

há em mim
 poemas para o mundo
condenados  ao desconhecimento profundo
escondidos
esquecidos
sem algum encanto
ganharam na gaveta do móvel  só um canto
imundo
vagabundo
quais enterrados à sepultura
pois lhes fora negada a leitura!


Tripartite  do ser

o quê é para ser falado
minha alma brada em voz.

o quê é para ser calado 
minha atitude cala à vos.

o quê não  pode ser almejado
à minha razão desistiu de nós.


Eu em mim à essência da presença do corpo à alma

quando nasci
vim fugido de outros
e, então, aprisionei-me 
perpetuamente, em mim...
jamais me cansarei
desde meu lugar único 
e, encarecidamente,
em meu próprio ser...
meu espírito busca-me
face eu ser o seu lado de fora
e ele, simultaneamente,
o meu lado de dentro...
um é o cárcere do outro
sem fuga à liberdade
mas, é nossa vida a valer
ao estarmos sós em nós...
e por todo o anoitecer 
bebo a saudade de alguém 
em doses de amargura
e, ao amanhecer, 
vomito um sentimento
 - que me fora negado - 
para brindar a ressaca 
de decepção em mim...
e constato afótico:
o silêncio é a linguagem
dos mortos feito ausência 
tal qual oposto ao protesto
da linguagem dos oprimidos
que pensam ser e sentir
depois do sonho tudo é esquecido...
e depois do amor tudo relembrado, 
eternamente...
e, assim,
a sombra de um poste
me assombra bêbado 
e o chão por onde piso
será o teto da minha última morada!

Poemas sem título...!

... se o teu silêncio é o idioma da tua alma, então ensurdecedor é o vocabulário de tua matéria a se negar ao que deveras sente em ambas...!

...não é o seu desprezo que mudará  quem eu sou para você; por isso me conheça, verdadeiramente, no âmago do seu silêncio às pouquíssimas vezes que se lembrar de mim...!

...namorei o teu verde olhar com oferta de esperança dele ser meu, mas o nosso tempo fez envelhecer um amor impossível e, então, és a eterna poesia na morada do meu coração...!

...ao teu silêncio ensurdecedor não terno, deixo o esquecimento da ternura que senti por ti...!

...invade o teu íntimo sem palavras e no silêncio sinta  um sentimento  habitante em ti a esperar por mim...!

...matei um sonho ruim
em legítima defesa de mim...!

...todas as noites a saudade dorme comigo e sonho estar em tua companhia...! 

...as flores recebem vários nomes, mas todas têm o teu perfume...!

Por: Wybson Carvalho, poeta caxiense e membro da ACL! 

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