sexta-feira, 26 de julho de 2024

Sou maranhense de São Luís e trabalho com turismo há mais de 15 anos. Orgulho me define quando visitantes do Brasil e mundo inteiro ficam maravilhados com a beleza dos Lençóis Maranhenses, da nossa capital e de tantas outras belezas maranhenses. 

É muito bom termos em nosso território algo tão único, inusitado e impactante, capaz de fazer até de um ateu um crente fervoroso diante desta obra divina. 

O Parque Nacional dos meus Lençóis é um daqueles lugares naturais imperdíveis do Brasil e de toda a América do Sul. Tem o mesmo status de lugares como a floresta amazônica, as Cataratas do Iguaçu, Bonito, Galápagos, Serra da Capivara, Salto Angel, Salar de Uyuni, Pantanal, Sierra Nevada de Santa Marta, Torres del Paine e Alter do Chão, só pra citar alguns.

Mas os Lençóis não seriam únicos se a região onde se localizam também não fosse única! Me explico: não existiriam condições geográficas e climáticas para a existência dele em outro estado ou região do país! 

A confluência das regiões do Nordeste e Norte no Litoral criam o espaço ideal para a existência do fenômeno natural chamado Lençóis Maranhenses. Há dunas e lagoas no Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte mas em muito menor proporção e exuberância. As dunas do Rosado, no Rio Grande do Norte, é o segundo maior campo de dunas do pais, mas não possui lagoas por estar situado numa região muito seca. 
Até a cor da areia não é branquinha. As lagoas nas dunas do Piauí e Ceará são em bem menor quantidade e são mais temporárias pois nesses estados o índice pluviométrico é menor em relação ao do Maranhão.

O nosso estado, situado no extremo norte do Nordeste e no extremo leste da Amazônia, reúne características de ambas as regiões. Os maiores biomas da América do Sul – Amazônia e Cerrado – se encontram aqui e esses com o litoral. Aqui não apenas as águas do mar imperam. As aguas doces de muitos lagos e rios perenes drenam todo o estado. 

Os sedimentos que o Rio Preguiças e o Rio Parnaíba carregam e depositam no mar que depois voltam à costa pelas marés e são levados pelos ventos são a origem das milhares e milhares de dunas que formam uma paisagem que lembra um deserto de areia mas que se enche de lagoas das águas pluviais no primeiro semestre do ano. 

É importante ressaltar que não se trata de um deserto, mas de um verdadeiro paraíso tropical! Isso sem falar dos meus “outros lençóis” menores como os Pequenos Lençóis, os Lençóis da Ilha do Caju, os da Ilha de Lençóis e Bate-Vento e até as “Fronhas” da Raposa aqui no Arquipélago do Golfão Maranhense.

As características do Litoral Setentrional do Nordeste e do Litoral Amazônico se entrelaçam neste ponto único do litoral brasileiro onde o bioma Cerrado encontra o mar. Sem os ventos constantes deste pedaço do litoral nordestino e sem as marés e as chuvas amazônicas não existiriam os chamados Lençóis Maranhenses. Percorrer o verde dos exuberantes manguezais amazônicos pelos rios e estuários e das restingas que circundam o parque é testemunhar a biodiversidade da flora e fauna da zona costeira, do Cerrado, da Amazônia e da Caatinga.

Tudo isso passa despercebido pela maioria dos visitantes de fora e dos próprios maranhenses que conhecem o parque, ávidos apenas para conhecer e tirar fotos das tais lagoas famosas de águas transparentes de tonalidades que vão do azul ao verde.

Mas o Maranhão todo é que é, de fato, especial! De criar condições para a existência dos Lençóis, de ser palco de encontro de regiões, ecossistemas e biomas: uma verdadeira síntese da natureza brasileira! De criar condições para a existência de muitos outros paraísos ecológicos tropicais como o da maior floresta de mangue do mundo nas Reentrâncias Maranhenses. De um grande pantanal em pleno Nordeste. 

Do maior litoral do país se levarmos em conta a medição de todos os seus recortes, em sua maior parte imaculado e preservado. De um dos maiores bancos de corais do continente e dos maiores cemitérios de navios do mundo. De uma das (ainda) maiores áreas preservadas de Cerrado do país (hoje com grandes picos de desmatamento pelo avanço indiscriminado da soja), com seus chapadões e cachoeiras. De uma das áreas mais biodiversas (e ameaçadas) da Amazônia. De um dos maiores Deltas em mar aberto do mundo (75% no nosso território), de uma floresta única chamada de Mata dos Cocais e muito mais. É, “a nossa terra tem muitas palmeiras, nossas várzeas tem mais flores e os nossos bosques tem mais vida!” 

E se eu falar do nosso povo heim!? Com o mesmo orgulho que ouço dos Lençóis, sinto quando falam da nossa simpatia, da nossa alegria, da nossa receptividade e simplicidade. O povo maranhense, seguindo o exemplo da nossa diversidade natural, é o resultado mais expressivo do encontro das “raças”. 

É o mais miscigenado de todos! Aqui o branco, o indígena e o negro se misturaram em proporções iguais. Da Amazônia, somos os mais pretos. Do Nordeste, o mais indígena. Isso resultou no mais expressivo e rico folclore do país. Vivo e vibrante o ano inteiro e ainda mais evidente no norte do estado. 
O mesmo estado que legou ao país grandes escritores, poetas, jornalistas, intelectuais e artistas de todo estirpe.

Um estado que já tem muitos tombamentos federais, estaduais; a capital reconhecida como Patrimônio histórico Mundial e o Complexo do Bumba meu boi do Maranhão como Patrimônio imaterial Mundial, receber o titulo de Patrimônio Natural Mundial para os Lençóis é algo mais que natural!

E que venham mais reconhecimentos pelo nosso enorme patrimônio cultural e natural!  

O nosso torrão tem muitos tesouros. A minha casa tem muito mais que os Lençóis!  

DEUS ME LIVRE NÃO SER MARANHENSE!
Rafael dos Santos Marques

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