terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O conhecimento não tem gênero. Neste 11 de fevereiro, Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) celebra as mentes brilhantes que desafiaram estereótipos e deixaram seu legado científico na instituição. Reafirmando seu compromisso com a igualdade de gênero, nas grandes áreas do conhecimento, na UFMA há um comprometimento em promover oportunidades para que as mulheres acessem esses espaços, sobretudo, nas áreas de ciência e inovação.

A data, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, tem por principal objetivo promover a igualdade de gênero no campo científico e incentivar a participação feminina em áreas historicamente dominadas por homens, como as Ciências Exatas. Essa disparidade é destacada no relatório "Uma equação desequilibrada: participação crescente de mulheres em STEM na América Latina e Caribe", desenvolvido em 2021 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em parceria com o British Council.

A importância dessa data também está na sua contribuição com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS-5) da Agenda 2030 da ONU, que busca alcançar a igualdade de gênero e dar poder às mulheres e meninas para realizarem seu potencial criativo. Esse cenário reforça a importância de iniciativas que estimulem a inclusão e diversidade no meio científico.

Desafios enfrentados pelas mulheres cientistas

Durante a trajetória acadêmica, as cientistas ainda enfrentam empecilhos estruturais que dificultam sua permanência e ascensão na carreira. A egressa da pós-graduação de Enfermagem da UFMA Janielle Ferreira de Brito aponta que a sobrecarga de atividades cotidianas e a dificuldade de conciliar a vida pessoal com a acadêmica impactam diretamente na produtividade científica.

“No campo da enfermagem e saúde coletiva, onde há uma predominância feminina, ainda há desafios na valorização do papel das pesquisadoras, especialmente, em espaços decisórios e na concessão de financiamento para projetos liderados por mulheres. Outro ponto fundamental é o enfrentamento de estereótipos de gênero. Apesar dos avanços, ainda existem barreiras implícitas que levam a uma sub-representação feminina em algumas áreas da pesquisa e dificultam a equidade no reconhecimento acadêmico”, reflete.

Uma questão levantada pela graduanda de Ciências Sociais Maria Clara Araújo, bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET), foi sobre a necessidade de haver mais incentivos para que as mulheres permaneçam na Universidade.

“É importante que se criem vagas de acordo com as condições daquelas mulheres, então, que as mulheres negras tenham acesso a políticas de acesso à educação e acesso a pesquisas científicas específicas para elas, mas que também não se limitem só à condição dela como mulher negra, que possa abranger as diferentes áreas de saberes”, ressalta.

As instituições de ensino têm compromisso em criar oportunidades para que as mulheres tenham acesso à ciência, pesquisa e inovação. Os dados mais recentes sobre o tema na UFMA mostram avanços significativos.

No Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) Graduação, há um total de 1.029 estudantes ativos, dos quais 586 são mulheres, representando aproximadamente 57% do total. No Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) Graduação, são 108 estudantes ativos, sendo 57 mulheres, o que equivale a 53%. Já no PIBIC Ensino Médio, há 46 estudantes ativos, com 31 alunas, representando 67% do total.

Entre os docentes do PIBIC, há 479 professores ativos, dos quais 231 são professoras, compondo cerca de 48% do total. No PIBITI, dos 79 docentes ativos, 31 são professoras, representando 40%. No PIBIC Ensino Médio, dos 33 professores, apenas 10 são mulheres, correspondendo a 30% do total.

Além disso, nos prêmios do Seminário de Iniciação Científica (Semic) e Seminário de Iniciação ao Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SEMITI), um total de 51 trabalhos foram premiados, dos quais 30 foram desenvolvidos por alunas, correspondendo a aproximadamente 60% do total.

Em 2024, na pós-graduação, a instituição contabilizou um total de 1.902 alunas vinculadas, representando 52% do total de estudantes. Alguns cursos chegam a ter 90% do quadro composto por mulheres, enquanto outros registram apenas 8%. Quanto ao corpo docente, apenas 43% dos professores permanentes em programas de pós-graduação são mulheres, sendo que esse percentual pode chegar a 89% em algumas áreas.

A análise desses números mostra que, embora a presença feminina na graduação e na iniciação científica seja expressiva, ainda há uma barreira quanto à progressão da carreira acadêmica. A proporção de mulheres reduz à medida que se avança para a pós-graduação e para os cargos docentes, que representam níveis mais altos.

“A equidade de gênero é uma luta que temos travado. Somos maioria entre os graduandos e mestrandos, mas, a partir do doutorado, já começamos a ver uma inversão do número. Isto se agrava à medida que a carreira vai progredindo. Quando chegamos aos cargos de gestão superior, as mulheres ainda estão em número muito mais baixo. Dessa forma, a maior inserção de meninas desde a base, no ensino médio, passando pela iniciação científica, mestrado e doutorado, com condições de permanência delas no sistema de ciência e tecnologia, é fundamental para que tenhamos equidade em todas as etapas da carreira”, pontua a pró-reitora da Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-graduação e Internacionalização (Ageufma), Flávia Nascimento.

No entanto são visíveis os esforços da Universidade em promover um ambiente mais equitativo e oferecer espaços para que meninas e mulheres quebrem barreiras e alcancem a igualdade de gênero na ciência. Recentemente, a 19ª edição do Prêmio Fapema, uma das mais prestigiadas premiações científicas do estado, que reconhece pesquisas de destaque em diversas áreas do conhecimento, consagrou dezessete pesquisadores da UFMA, destes, 64,7% são mulheres, desde a categoria de jovem cientista a pesquisador sênior. Os números indicam um crescimento expressivo do papel da mulher na ciência.

Iniciativas que impulsionam a mudança

As universidades desempenham um papel fundamental na redução das desigualdades de gênero no meio acadêmico. Em consonância com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a UFMA adota algumas medidas para garantir maior inclusão das mulheres na pesquisa científica, como, por exemplo, pontuação maior no Currículo Lattes para mulheres que tiveram filhos nos últimos cinco anos. Premiações para pesquisadoras destaque na ciência, tanto na categoria júnior quanto na categoria sênior, projetos de pesquisas e gestão equitativa são alguns avanços importantes para incluir mais mulheres na pesquisa.

Nos Grupos de Pesquisa, a equidade de gênero é tema de estudo para diversas áreas. Projetos como o Gender Hubs têm buscado identificar problemas de gênero, por meio de um mapeamento nos Câmpus da UFMA, para, então, impulsionar transformações institucionais por meio do desenvolvimento de produtos.

Coordenado pela professora Raquel Noronha, do Departamento de Design, o Gender Hubs se fundamenta nas vivências da comunidade acadêmica, utilizando o Design como um instrumento de mudança institucional.

“Estamos desenvolvendo, a partir desses mapeamentos dos problemas, alguns produtos: aplicativos, cartilhas, campanhas, direcionados a cada setor do mapeamento. E, após os testes, é que se constitui ou não em propostas de políticas”, explica Raquel.

A pesquisadora destaca o papel das mulheres pesquisadoras na abertura de espaços para vozes silenciadas e na contestação de paradigmas no design, promovendo uma construção acadêmica mais diversa e inclusiva. “Acho que nossa função, como mulheres e pesquisadoras, são muitas. Abrir caminhos para quem vem após, criando espaços de fala para quem é ou foi silenciada; é fazer também o papel da "estraga prazeres", em alusão à abordagem da escritora feminista Sara Ahmed, porque sempre estamos mostrando aquilo que não quer ser visto, trazendo à tona em nossas leituras, seminários e pesquisas que realizamos, especialmente no NIDA — Grupo de pesquisas Narrativas em Inovação, Design e Antropologia — visões que contestam os paradigmas estabelecidos no campo do design, muitas vezes desfuturizantes, insustentáveis e opressores. Creio que a construção de espaços pluriversais, que contemplem diversas vozes, em suas diferenças, e criem oportunidades de ações situadas na Universidade, de forma diversa, contempla as diferenças de acessos que tivemos até aqui”.

Inspiração para novas gerações

Diante dos desafios, as cientistas da UFMA reforçam a importância de incentivar meninas a ingressarem na pesquisa. Para a diretora de pós-graduação da UFMA, Rosângela Fernandes, é importante promover a igualdade de oportunidades, pois, sem esse pilar, fica mais difícil romper as barreiras de gênero.

“A UFMA se preocupa em incentivar a carreira das mulheres científicas. Já tem mostrado isso, implementando políticas de ações que garantem a reserva exclusiva de vagas e a inclusão de mulheres em editais e programas de pós-graduação”, destaca ela.

Como conselho para as meninas que sonham com a carreira científica, Rosângela enfatiza a persistência e a valorização do conhecimento. “Nunca desistam dos seus sonhos e acreditem no seu potencial. Sempre persistindo e buscando aprender. O conhecimento é a única coisa que ninguém tira de ninguém e transforma a vida das mulheres”.

Os desafios para as mulheres na ciência são muitos, e a maternidade é um dos principais. Conciliar a pesquisa com a criação dos filhos é a realidade da pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFMA Irlla Licá. Irlla destaca as dificuldades dessa jornada, reforça a importância do apoio e incentiva outras mães a seguirem firmes na carreira científica.

“Minha trajetória no doutorado começou em 2019 e, no meio dessa caminhada, descobri que estava grávida da minha filha, Maria Helena. A gestação foi difícil e, quando ela nasceu, o desafio ficou ainda maior: cuidar de um bebê e terminar uma tese de doutorado ao mesmo tempo não foi nada fácil. Mas segui em frente. Tive um apoio essencial da minha orientadora, Flávia Nascimento, que me incentivou a não desistir, e sou muito grata por isso. Hoje, com minha filha com 2 anos, estou no pós-doutorado, e a rotina continua puxada. Crianças adoecem com frequência nessa fase, e muitas vezes preciso me ausentar do laboratório. Mas, com a escolinha da Maria Helena e o apoio do meu marido, conseguimos equilibrar as coisas. Para as mães que sonham em seguir na ciência, eu digo: não é fácil, mas é possível. A gente sente culpa, cansaço e medo de não dar conta, mas, quando amamos o que fazemos, seguimos em frente. Precisamos de mais apoio para as mães na academia, mas, enquanto isso, seguimos abrindo caminhos. Você não está sozinha. Seu sonho vale a pena”, externa.

Informação: UFMA  

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